O endurecimento das sanções impostas pelos Estados Unidos tem provocado um gargalo sem precedentes no transporte marítimo de petróleo russo, gerando atrasos prolongados, desvios de rota e dificuldades de atracação. De acordo com dados levantados pela Bloomberg, o volume de petróleo russo que permanece retido no mar ultrapassou 180 milhões de barris, um aumento de 21% nos últimos três meses. O cenário, segundo a agência, é resultado direto do impacto das ações norte-americanas sobre a logística de exportação de Moscou.
As restrições passaram a afetar de forma mais evidente embarcações carregadas com petróleo destinado principalmente à Ásia, sobretudo à China e à Índia, que se tornaram os principais mercados do petróleo russo desde o início da guerra na Ucrânia.
Viagens mais longas e navios ociosos: rotas ao Pacífico ficam congestionadas
Um dos casos mais críticos ocorre nas rotas do petróleo ESPO, embarcado no porto de Kozmino, no Pacífico. A duração média das viagens dos navios carregados em novembro superou 12 dias, bem acima da média pouco superior a oito dias registrada em agosto.
Esse aumento no tempo de percurso tem levado cargueiros a permanecer por longos períodos no mar, alguns aguardando semanas para descarregar em portos chineses. A Bloomberg menciona o caso de um navio com ESPO que permanece parado há mais de 20 dias.
Ao menos dois navios carregando petróleo Urals optaram por contornar o Cabo da Boa Esperança, evitando o Mar Vermelho, região afetada por tensões e riscos de ataque. Outros desviaram de portos na costa oeste da Índia, prolongando ainda mais o trajeto e elevando os custos logísticos.
Embarques sobem após seis semanas de queda, mas preços continuam em declínio
O aumento das cargas no mar coincide com a retomada dos fluxos marítimos russos. Nas quatro semanas encerradas em 30 de novembro, a Rússia embarcou 3,46 milhões de barris por dia, cerca de 210 mil barris a mais que no período anterior — a primeira alta em seis semanas.
Apesar disso, os preços internacionais do petróleo vêm registrando a nona queda consecutiva, empurrando os valores das exportações russas para o patamar mais baixo desde janeiro de 2023.
As sanções norte-americanas anunciadas em outubro miraram diretamente grandes produtoras como Rosneft e Lukoil, ampliando os obstáculos logísticos enfrentados pelo setor. Ao mesmo tempo, navios ligados à Rússia sofreram ataques no Mar Negro, atribuídos à Ucrânia, incluindo o que atingiu uma das boias do terminal de exportação do CPC, perto de Novorossiysk. Até agora, os ataques não interromperam o fluxo da região.
Embarques chegam ao maior nível em quase três meses com petróleo cazaque fora das sanções
Na semana encerrada em 30 de novembro, os embarques totais subiram para 3,94 milhões de barris por dia, o maior nível em quase três meses. O número inclui carregamentos de petróleo cazaque KEBCO, que não está sujeito às sanções ocidentais.
No Pacífico, Kozmino voltou a acelerar as operações. Já o terminal Sakhalin 1, em De Kastri, manteve ritmo reduzido. Os portos de Murmansk, do Báltico e do Mar Negro registraram recuperação dos volumes.
Apesar da alta no fluxo, os preços seguem em queda. Segundo a Argus Media, os recuos variam entre US$ 1,90 e US$ 3,60 por barril, dependendo da região de origem. Na Índia, os valores caíram para US$ 58,66 por barril — o menor nível desde março de 2023.
Navios sem destino declarado batem recorde e superam volume enviado diretamente à China e à Índia
Outro sinal da pressão das sanções é o aumento expressivo de navios que deixam de informar seu destino final. No período de 28 dias até 30 de novembro, os embarques com destino não declarado alcançaram 1,47 milhão de barris por dia, superando, pela primeira vez, o volume direcionado explicitamente para China, Índia ou Turquia.
Desse total, 1,42 milhão de barris partiram de portos russos rumo ao Canal de Suez ou navegaram pelo Pacífico sem ponto de entrega registrado — movimento associado a práticas de evasão e ao temor de penalidades secundárias impostas pelos EUA.
Historicamente, essas cargas acabam desembarcando em portos indianos ou chineses, mas o avanço das sanções pode alterar essa dinâmica. Segundo analistas, cresce o número de petroleiros que desligam sistemas de rastreamento, usam spoofing ou realizam transferências clandestinas de carga (ship-to-ship, STS) para ocultar a origem do petróleo.
Turquia mantém fluxo estável; Síria segue fora dos registros oficiais
Os fluxos para a Turquia tiveram leve alta, atingindo cerca de 170 mil barris por dia. Já os embarques para a Síria permaneceram oficialmente zerados. Conforme padrão recente, navios supostamente destinados ao porto sírio de Baniyas costumam “desaparecer” dos sistemas de rastreamento ao sul de Creta, reaparecendo apenas no Mediterrâneo Oriental, o que dificulta a contabilização precisa das entregas.
Dados excluem petróleo KEBCO, diferenciado após início da guerra
Todos os números apresentados excluem as cargas de petróleo cazaque KEBCO, renomeadas após o início da guerra na Ucrânia para separar oficialmente os barris provenientes do Cazaquistão — não alcançados pelas sanções — das exportações russas tradicionalmente sujeitas às restrições.


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