A cena política que se formou em São Paulo nesta segunda-feira ganhou contornos nacionais quando o governador Tarcísio de Freitas falou abertamente sobre a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência. Embora ainda repita que pretende disputar a reeleição ao governo paulista, Tarcísio deixou claro que o senador “vai contar” com ele, destacando a lealdade que mantém a Jair Bolsonaro e afirmando que a escolha do ex-presidente “é inegociável”.
O encontro entre os dois, ocorrido na sexta-feira anterior, foi descrito pelo governador como uma conversa direta sobre a decisão tomada por Bolsonaro. “Ele (Flávio) esteve comigo na sexta-feira passada. Nós conversamos e o presidente Bolsonaro, que é uma pessoa que eu respeito muito, e sempre disse que eu sou leal a Bolsonaro, é inegociável. E ele me disse a escolha que Bolsonaro fez pelo nome”, afirmou. Para Tarcísio, Flávio agora assume uma “grande responsabilidade”, situando-se ao lado de outros nomes já colocados pela oposição, como Romeu Zema e Ronaldo Caiado, além da possível entrada de Ratinho Júnior no grupo. “Todos extremamente qualificados”, disse o governador.
Apesar do gesto de apoio, Tarcísio evitou cravar se a escolha de Flávio foi a melhor estratégia. Questionado sobre pesquisas que indicam desempenho superior ao do senador, respondeu que esse julgamento só poderá ser feito mais adiante. “Isso a gente vai avaliar ao longo do tempo. Tá cedo. A gente tem tempo de maturação”, declarou. Flávio, em entrevista à Folha de S. Paulo, sustentou que leva vantagem por carregar o sobrenome Bolsonaro e classificou sua candidatura como “irreversível”, embora no domingo tenha admitido que poderia recuar — desde que Bolsonaro estivesse “livre, nas urnas”, condição que chamou de “preço”.
Durante a inauguração de uma UPA em Diadema, onde foi recebido com gritos de “presidente”, Tarcísio ignorou os apelos e prosseguiu com o discurso. Ainda assim, auxiliares do governador reconhecem que ele tem ampliado o repertório nacional, reforçando críticas ao governo Lula e sugerindo, em eventos recentes, que o País precisa “trocar o CEO” e que o governo federal deve reduzir ministérios para viabilizar a recriação da pasta da Segurança Pública. Na semana passada, ele esteve na Câmara dos Deputados para defender mudanças propostas na PEC da Segurança Pública.
A pré-candidatura de Flávio, anunciada na sexta-feira como uma escolha direta do pai, repercutiu como um movimento que também buscava pressionar Tarcísio a aceitar condições impostas pela família Bolsonaro, como eventual migração ao PL ou uma composição com um vice do entorno do ex-presidente. Dirigentes do Centrão classificaram o anúncio como um “blefe”. No entanto, Flávio afirmou que Tarcísio foi a primeira pessoa a quem contou ter sido escolhido e que não cobraria dele qualquer manifestação pública — algo que, segundo relatou, o próprio governador garantiu: o apoio viria.
O senador reforçou ainda que sua prioridade é a anistia aos condenados pelo 8 de janeiro, tema que pretende levar às negociações políticas já iniciadas. Enquanto isso, Jair Bolsonaro segue preso, cumprindo pena superior a 27 anos após condenação por tentativa de golpe de Estado, o que inviabiliza sua participação eleitoral.
Entre aliados do governador paulista, a avaliação é de que Tarcísio se equilibra entre a pressão do bolsonarismo, a necessidade de preservar seu projeto próprio em São Paulo e a cautela para não assumir publicamente uma posição que o empurre para 2026 antes da hora.


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