Um projeto concebido para homenagear vítimas de regimes comunistas no Canadá teve seu escopo alterado após a constatação de que a maioria dos nomes previstos para o monumento estava ligada ao nazismo. Diante da revelação, o governo canadense decidiu retirar qualquer referência individual da obra instalada em Ottawa.
Inaugurado em dezembro de 2024, o Monumento às Vítimas do Comunismo foi idealizado para exibir cerca de 600 nomes de pessoas mortas sob governos comunistas. No entanto, um ano após a abertura, o Departamento do Patrimônio Histórico Canadense determinou que nenhuma identificação pessoal será incluída no local.
A mudança ocorreu após investigações conduzidas por historiadores e entidades judaicas apontarem que, dos 533 nomes inicialmente listados, ao menos 330 pertenciam a indivíduos alinhados ao regime nazista ou envolvidos em crimes de guerra durante a Segunda Guerra Mundial.
O projeto havia sido aprovado pelo governo em 2009 e comissionado pela Liberty Foundation, organização sem fins lucrativos formada por imigrantes e descendentes do Leste Europeu — regiões que integraram a União Soviética ou países da chamada Cortina de Ferro. Parte do financiamento foi público, e o restante deveria vir de doações privadas.
Como contrapartida, os doadores teriam o direito de indicar nomes de vítimas de regimes comunistas para serem gravados no monumento.
Durante a execução da obra, denúncias levantadas pela imprensa canadense passaram a questionar a presença de nazistas e colaboradores do Terceiro Reich entre os homenageados. A partir daí, grupos judaicos de memória do Holocausto, como o Amigos de Simon Wiesenthal, iniciaram uma apuração detalhada.
Entre os nomes identificados estava o de Ante Pavelić, líder fascista croata responsável pela perseguição e assassinato de judeus e outras minorias à frente da milícia Ustaše, uma das mais violentas dos Bálcãs. Outro caso citado foi o de Roman Shukhevych, ultranacionalista ucraniano associado ao massacre de poloneses durante a guerra, com estimativas de até 100 mil vítimas sob seu comando.
Diante das descobertas, o Departamento do Patrimônio do Canadá passou a exigir que cada nome fosse previamente aprovado antes de qualquer exibição pública, com a participação de especialistas e representantes da comunidade judaica.
Em dezembro de 2025, após a identificação formal de 330 nazistas ou colaboradores, as autoridades optaram por vetar definitivamente qualquer homenagem nominal no monumento.
Polêmica anterior adiou inauguração
A controvérsia em torno do memorial também se relaciona a um episódio diplomático ocorrido antes de sua inauguração. Prevista inicialmente para novembro de 2023, a cerimônia foi adiada após a revelação de que um ex-combatente nazista havia sido homenageado no Parlamento canadense meses antes.
Durante uma sessão que contou com a presença do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi aplaudido Yaroslav Hunka, imigrante ucraniano de 98 anos que serviu na Divisão da Galícia da Waffen-SS, unidade que jurava lealdade a Adolf Hitler e atuava sob o comando de Heinrich Himmler.
Sem conhecimento do histórico militar de Hunka, o então presidente do Parlamento, Anthony Rota, declarou que ele era “um herói ucraniano e um herói canadense”. O episódio gerou forte reação internacional, levou à renúncia de Rota e resultou em um pedido formal de desculpas do governo canadense a Zelensky.

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!