No interior da Deserto de Gobi, a China conduz uma das mais complexas operações de infraestrutura energética em curso no mundo. A instalação de turbinas eólicas de grande porte em uma das regiões mais isoladas do país exige uma logística de escala incomum, envolvendo transporte de peças com mais de 100 metros de comprimento, equipamentos que superam milhares de toneladas e montagem em condições ambientais adversas.
O projeto integra a estratégia chinesa de ampliar a participação das fontes renováveis na matriz elétrica e transformar áreas pouco povoadas em polos de geração de energia. No entanto, o avanço da energia eólica no Gobi não depende apenas de tecnologia, mas de uma cadeia logística comparável a operações industriais de grande porte.
Um território remoto convertido em área estratégica
O deserto de Gobi se estende por vastas áreas do norte da China e da Mongólia, com baixa densidade populacional e regime de ventos constantes — condições consideradas ideais para parques eólicos de grande escala. A ausência de centros urbanos reduz conflitos de uso do solo e facilita a instalação de estruturas de grande porte.
Ao mesmo tempo, a distância dos principais polos industriais impõe desafios. Todo o material necessário para a construção das turbinas — desde concreto e aço até componentes eletromecânicos de grande dimensão — precisa ser transportado por centenas de quilômetros, muitas vezes por estradas não pavimentadas ou vulneráveis às condições climáticas.
Transporte de pás de 108 metros exige planejamento extremo
Entre os elementos mais críticos da operação está o transporte das pás das turbinas. Cada unidade mede cerca de 108 metros de comprimento e pesa aproximadamente 30 toneladas. Para deslocá-las com segurança, são utilizados caminhões especiais que, somados à carga, podem atingir até 160 toneladas.
A logística exige planejamento detalhado de rotas, curvas e inclinações. Em períodos de chuva, trechos inteiros podem se tornar intransitáveis, provocando atrasos. Já os ventos fortes, comuns na região, frequentemente impedem manobras finais de posicionamento, obrigando as equipes a aguardar condições mais favoráveis.
Guindaste de 4.000 toneladas opera como obra paralela
Antes mesmo do início da montagem das turbinas, outro desafio se impõe: a instalação do guindaste principal. O equipamento, com capacidade de até 4.000 toneladas, não chega pronto ao local. Ele é transportado em dezenas de caminhões e montado no próprio canteiro, em um processo que envolve várias etapas técnicas.
O guindaste é composto por múltiplas seções que precisam ser alinhadas e testadas com precisão. Guindastes auxiliares são utilizados para levantar e posicionar as partes do equipamento principal, que depois passa por inspeções de segurança antes de entrar em operação. Apenas após essa fase é possível iniciar a elevação dos componentes da turbina.
Montagem em altura e controle do vento
As torres eólicas instaladas no Gobi ultrapassam 170 metros de altura. A subida até o topo é feita por escadas internas, já que muitas estruturas não contam com elevadores durante a fase de montagem. No ponto mais alto, a instalação da nacele — o compartimento que abriga o gerador e os sistemas de controle — representa um dos momentos mais delicados da operação.
A nacele pode pesar mais de 150 toneladas. Durante a elevação, rajadas de vento podem provocar oscilações perigosas. Para reduzir riscos, equipes posicionadas em diferentes pontos utilizam cabos de estabilização, coordenando movimentos para manter o conjunto alinhado até o encaixe final.
Capacidade de geração e impacto energético
Cada turbina instalada no projeto possui potência de aproximadamente 6,25 megawatts. Em condições ideais de vento, uma única unidade é capaz de gerar mais de 6.000 quilowatts-hora em apenas uma hora de operação. Em conjunto, dezenas ou centenas de turbinas formam parques eólicos com capacidade significativa de fornecimento contínuo de energia.
A eletricidade produzida no Gobi é integrada à rede nacional por meio de linhas de transmissão de alta tensão, permitindo que a energia gerada em áreas remotas abasteça regiões industriais e centros urbanos distantes.
Trabalho humano em condições extremas
Apesar do alto grau de automação e do uso de equipamentos de grande porte, a operação depende intensamente do trabalho humano. Técnicos, operadores e engenheiros enfrentam longas jornadas em um ambiente marcado por variações bruscas de temperatura, ventos constantes e isolamento geográfico.
A rotina inclui períodos de espera forçada devido às condições climáticas, noites de trabalho para cumprir cronogramas e deslocamentos longos entre bases de apoio e frentes de obra. Embora pouco visível ao público, esse esforço humano é considerado decisivo para a viabilidade do projeto.
Energia renovável como estratégia de longo prazo
A instalação de turbinas eólicas gigantes no deserto de Gobi ilustra a aposta chinesa em projetos de grande escala para acelerar a transição energética. Ao combinar território disponível, tecnologia avançada e capacidade logística, o país busca ampliar rapidamente sua oferta de energia limpa e reduzir a dependência de fontes fósseis.
Especialistas avaliam que iniciativas desse porte tendem a se multiplicar em regiões remotas, à medida que a demanda por eletricidade cresce e os custos das tecnologias renováveis continuam a cair. No caso do Gobi, a transformação de um ambiente desértico em polo energético reforça o papel da infraestrutura pesada como elemento central da política energética chinesa.

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