Em 26 de dezembro de 2025, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, foi preso no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi, em Assunção, no Paraguai. Vasques, que tentava embarcar para El Salvador com um passaporte falso, havia rompido sua tornozeleira eletrônica em Santa Catarina, fugindo do Brasil após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 24 anos e seis meses de prisão por cinco crimes graves: tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado ao patrimônio da União e deterioração de bem tombado. Essa captura não é apenas o desfecho de uma fuga patética, mas um lembrete vívido do legado tóxico deixado por Jair Bolsonaro, cujo governo flertou abertamente com o autoritarismo e culminou em uma tentativa frustrada de golpe em 2022.
Vasques, nomeado em abril de 2021 pelo então ministro da Justiça Anderson Torres – outro condenado pelo STF por crimes semelhantes –, transformou a PRF em um instrumento político a serviço de Bolsonaro. Durante o segundo turno das eleições presidenciais de 2022, em 30 de outubro, ele ordenou operações em rodovias federais que resultaram em mais de 560 abordagens a veículos de transporte coletivo, especialmente no Nordeste, reduto eleitoral de Lula. Essas blitze, que ignoraram uma determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibindo tais ações no dia da votação, visavam claramente obstruir o acesso de eleitores opositores a Bolsonaro às urnas. Depoimentos revelam que Vasques chegou a afirmar que era “hora de a PRF tomar um lado”, alinhando a instituição pública com os interesses eleitorais do ex-presidente. Na véspera do pleito, ele postou uma declaração de voto em Bolsonaro no Instagram, apagando-a rapidamente, mas não antes de expor sua parcialidade.
Essa interferência eleitoral não foi isolada; ela integrava o “núcleo 2” de uma organização criminosa maior, orquestrada para manter Bolsonaro no poder após sua derrota nas urnas. A trama golpista de 2022, que culminou na invasão aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, reflete o desespero de um líder que, inspirado em figuras como Donald Trump, recusou-se a aceitar a democracia. Bolsonaro, com seu discurso inflamado e apelos velados à ruptura institucional, fomentou um ambiente onde aliados como Vasques se sentiam empoderados para subverter o processo eleitoral. Essa tentativa de golpe não foi mero devaneio; envolveu planejamento sistemático, com o uso de forças de segurança para intimidar opositores e questionar a lisura das eleições, ecoando táticas autoritárias que ameaçaram a estabilidade do país.
A condenação de Vasques pelo STF, em 16 de dezembro de 2025, na Primeira Turma presidida por Alexandre de Moraes, impõe não só pena de prisão em regime fechado, mas também inelegibilidade por oito anos e indenização solidária de R$ 30 milhões pelos danos causados. Anteriormente, ele já havia sido condenado por improbidade administrativa na Justiça Federal do Rio de Janeiro, com multa de mais de R$ 546 mil por usar o cargo para fins políticos. Sua prisão inicial em agosto de 2023, seguida de soltura condicional em 2024, e agora a fuga para o Paraguai, destacam a persistência de figuras bolsonaristas em evadir a justiça.
Bolsonaro, que escapou de condenações diretas até agora, mas viu dezenas de aliados caírem, representa o ápice do populismo reacionário que quase destruiu as instituições brasileiras. Sua tentativa de golpe em 2022 não foi um acidente; foi o clímax de um mandato marcado por negacionismo, ataques à imprensa e erosão democrática. Vasques, como peão nesse tabuleiro, pagará o preço, mas o verdadeiro culpado moral segue impune, exilado em sua bolha de negação. Essa prisão reforça a necessidade de vigilância eterna contra o autoritarismo, garantindo que a democracia brasileira, ferida mas resiliente, prevaleça sobre as sombras do bolsonarismo.


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