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A choradeira industrial

Agora eu falar mais uma vez da crise na indústria. Espero que vocês não achem muito chato esse assunto. Eu passei a tarde inteira estudando esse tema. É que lendo o Estadão, dei uma topada na choradeira da CNI.

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Agora eu falarei mais uma vez da crise na indústria. Espero que vocês não achem muito chato o assunto, que hoje me consumiu quase uma tarde inteira. É que lendo o Estadão, topei com a velha choradeira da CNI. Então eu fui lá no site da Confederação Nacional da Indústria, examinei os relatórios com paciência e cuidado. Mas aí fiquei desconfiado. Afinal eles são empresários atrás de subsídios ou crédito governamental. Em alguns casos, eu até apoio que o governo o faça, mas se a gente deixar, o governo não vai fazer outra coisa que não ajudar as indústrias, e se fizermos isso nunca teremos o aumento de produtividade no setor. O pior é que os industriais, por razões óbvias, facilmente conseguem apoio sindical para essas demandas, configurando um lobby quase invencível.

Entretanto, trabalhando quinze anos no setor cafeeiro, eu aprendi uma coisa. Os produtores haviam se profissionalizado em choradeira. O preço do café podia chegar nas alturas, e mesmo assim eles continuavam reclamando. Agora que estudo a situação da indústria, vejo que esse é um mal generalizado no país. Os industriais também choram. Parece até aquela música do Erasmo.

Só que na canção do Erasmo, o final é feliz. No Brasil real, continua todo mundo chorando, para todo o sempre. Então como eu ia dizendo, fiquei desconfiando também dos números da CNI. Aquelas estatísticas todas sobre “confiança” e “expectativa” não me convenceram muito. Mesmo assim, eu fiquei lá, analisando aqueles relatórios todos. Mas depois eu fui no IBGE, que tem dados muito mais confiáveis, porque os pesquisadores não têm interesse em forçar crises para pegar dinheiro a juro baixo no BNDES.

Fiquei horas e horas pesquisando estatísticas. E aí eu tive uma dificuldade: como irei apresentar esse tema para meus leitores? Até que eu tive uma ótima ideia. Escolhi um setor, o mais representativo da indústria, a meu ver, o segmento de máquinas e equipamentos. Sim, porque a indústria é um negócio muito geral. Tem muito segmento de menor importância, atrasado, anacrônico, sem futuro, outros são insignificantes para a economia. Alguns setores, só terão relevância para a economia brasileira daqui a uns dez anos, e se investirmos pesado em tecnologia.

Mas temos o setor de máquinas e equipamentos, que de maneira geral, com China ou sem China, é sempre importante para qualquer país. Fiz um gráfico com ele:

 

Por esse gráfico, você poderá perceber qual é a situação geral da indústria brasileira hoje. Em primeiro lugar, ela jamais cresce linearmente. O crescimento da produção industrial apresenta, historicamete, instabilidades sazonais. Veja esse outro gráfico, referente ao mesmo setor, mas com um período maior.

 

Você pode ver ainda que o pior já passou. Problema, a indústria teve em 2009, depois do que voltou a crescer com muita força. Aliás, a indústria tem essa característica. Ela pode ficar estagnada por alguns meses, e depois registrar um salto explosivo. O que se deve observar é que, no prazo mais longo, pode-se constatar uma firme e sólida evolução.

Vejamos outro gráfico que catei no IBGE:

O setor mais importante na indústria é o de bens de capital. Ele é o termômetro de tudo. Os índices podem estar todos registrando declínio, mas se o setor de bens de capital apresenta números positivos, então está tudo bem, porque ele é que mostra o aumento do potencial, renovação, força, da indústria nacional. Bens de capital é setor das máquinas industriais. Se ele está crescendo, é porque está havendo expansão do parque industrial. No acumulado dos últimos 12 meses, o setor de bens de capital registrou alta de 5,5%, ou seja, bem acima do crescimento do próprio PIB, o que significa, em outros termos, que o Brasil segue se industrializando.  Podemos ter crises sazonais, mas os gráficos mostram que, no médio prazo, a indústria brasileira continua se expandindo.

Mas voltemos aos chorões.  Se a gente pôr de lado todos aqueles números sobre “confiança”, “expectativa” e bobajadas semelhantes, e nos atermos exclusivamente aos dados do CNI sobre produção industrial, teremos os seguintes quadros:

Nesse primeiro, temos uma ideia exata de quais setores enfrentaram crises e quais cresceram este ano. Fazer média às vezes é muito perigoso, ainda mais se tratando de um setor tão heterogêneo como a indústria. Não se pode pôr no mesmo saco o cara que produz sabão em côco em Jaboão da Serra, joga toda água suja no rio, paga mal seus operários, sonega impostos, etc, com um sujeito na mesma cidade que montou uma industriazinha modelo de ventiladores de teto.

Eu preparei ainda outra tabela com os números da CNI. Nesta tabela, se usa um índice especial que mede a produção industrial, com valores de 0 a 100. Valores acima de 50 correspondem a um crescimento efetivo.

Os itens circulados são os que apresentaram aumento de produção de setembro para outubro. Note que formam a maioria e são segmentos bons. O que aconteceu foi o seguinte. Em 2009, tivemos uma queda muito grande na produção industrial brasileira, seguida de um crescimento bastante fora do normal no ano seguinte. Este ano, as coisas estão mais calmas, e teve a crise na Europa e tudo.  Mas não há motivo nenhum para alarmismo catastrofista. Isso é lobby da CNI e Fiesp em busca de crédito fácil nos bancos do governo.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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