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Miriam Leitão, num dia de sol (será?)

O tempo está chuvoso hoje em quase todo Brasil, mas a colunista de economia do Globo acordou ensolarada. Claro que à sua maneira, ranzinza, mas não a ponto de impedir que a luz do sol transpareça por entre as persianas de seu mau-humor.

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O tempo está chuvoso hoje em quase todo Brasil, mas a colunista de economia do Globo acordou ensolarada. Claro que à sua maneira, ranzinza, mas não a ponto de impedir que a luz do sol transpareça por entre as persianas de seu mau-humor.

De qualquer forma, o seu texto de hoje é muito bom (eu elogio quando merece), porque traz uma série de dados importantes para entendemos a quantas anda a economia brasileira. Se ela se limitasse a escrever sobre economia, teríamos uma ótima colunista, apesar de seu já lendário pessimismo.

Aliás, é engraçado que essa sua característica (o pessimismo) tenha se agravado justamente quando o Brasil aparece ao mundo quase como um campeão olímpico em matéria econômica.

Abaixo, uma fotografia do início da coluna de hoje, pra vocês matarem a saudade de nossa indefectível e eterna urubóloga.

Reproduzo agora a íntegra da coluna, acompanhada de alguns comentários intercalados, em negrito itálico (depois vocês me digam se preferem que meus comentários, quando intercalados, venham em  itálico ou cor diferente).

Dois pontos

Míriam Leitão

O Copom apostou num cenário em que a situação internacional se agravaria a ponto de derrubar a inflação no Brasil. Olhando a crise lá fora e os números internos, chega-se à conclusão de que o BC acertou apenas em uma parte. De fato, o quadro internacional piorou, até além da imaginação, mas a inflação permanece pressionada.

Ok, pressionada é um bom termo, mas a verdade é que caiu em outubro e segue caindo em novembro, Miriam.

Já era prevista a queda neste final de ano do IPCA acumulado em 12 meses, mas olhando-se dentro dos números – que estão disponíveis no próprio site do Banco Central – encontram-se índices muito acima do razoável. A inflação do grupo vestuário foi de 9,57% nos últimos 12 meses até outubro; alimentos e bebidas subiram 8,5%; a educação ficou 8,1% mais cara e os serviços tiveram alta de 8,94%.

Verdade, Míriam. Essa mulherada comprando roupa não tá fácil. Só que você esqueceu de informar que a inflação do grupo vestuário caiu de 9.73% em setembro para 9,57% em outubro; não mencionou igualmente que a inflação dos alimentos e bebidas caiu fortemente, de 9,93% em setembro para 8,50% em outubro. A educação, sim, subiu um pouquinho, de 8,05% para 8,10%. Quanto aos serviços, registrou-se queda de 9,03% para 8,94%. Tudo isso está lá, como você disse, no site do BC.

O núcleo da inflação, que exclui da conta preços voláteis como combustíveis e alguns alimentos, está ainda acima do teto da meta: 6,61%, em 12 meses. O que mais impressiona é o que está acontecendo no mercado imobiliário. O preço do metro quadrado dos imóveis no país, medido pelo índice Fipe Zap, aumentou 28% de outubro de 2010 a outubro de 2011. No Rio de Janeiro, a alta foi de 39%. Os aluguéis no Rio ficaram 24% mais caros em um ano. Em São Paulo, a alta foi de 15,6%. Os custos da construção civil subiram 7,72%. A mão de obra para as construtoras ficou 11,3% mais cara.

Verdade novamente, Miriam, e desta vez falo sério. A especulação imobiliária está indecente no Brasil, especialmente no Rio. Isso tem a ver com a explosão do crédito para compra de casa própria. O sonho frustrado de milhões de brasileiros, de ter sua casinha, de repente virou realidade, e a consequência foi uma corrida febril, o que pressionou o preço dos imóveis. Para piorar, a boa imagem do Brasil lá fora tem atraído o interesse de muitos estrangeiros de adquirir um imóvel, sobretudo no Rio, o que também detonou a especulação.

Essa montanha de números mostra que o movimento no mercado imobiliário – tanto em locação, quanto em compra e venda de imóveis – está perigosamente aquecido.

Perigosamente? O velho Guimarões Rosa não dizia, que “viver é perigoso”? Você não acredita no poder do mercado e da concorrência? O mercado aquecido e a valorização dos imóveis estimulará ainda mais a construção de novas moradias, como aliás está ocorrendo. Além disso, no caso do Rio, está voltando a valorizar áreas decadentes do centro histórico. Ok, eu sou mesmo um idiota que tenta ver tudo do lado positivo.

A cesta básica está mais alta que a média da inflação no Brasil inteiro, mas em algumas cidades o custo pesa mais. Somente este ano, de janeiro a outubro, a cesta básica aumentou no país 9,11%. Na cidade de Fortaleza, a alta foi de 16%. Em Florianópolis, a cesta subiu 12,48%. No Rio, 11,37%. Em Belo Horizonte, 10,86%, em Vitória, 10,51%.

Vamos conferir isso direitinho no site do Banco Central. Confio plenamente em sua competência, mas minha profissão me obriga a checar tudo. Então olha só que eu descobri, Miriam! Confira esses gráficos. Agora você vai ver porque vale a pena assinar o Cafezinho!

E já que o título de sua coluna de hoje é dois pontos, então olha esse dois pontos mostrados nos gráficos:

  1. A cesta básica em Fortaleza, estimada em R$ 198,68 em outubro, é a segunda mais baixa do Brasil. Somente Aracaju tem uma cesta mais baixa. 
  2. O valor da cesta básica em Fortaleza atingiu em outubro o patamar mais baixo em oito meses.

Você pode ver no terceiro gráfico, prezada colega, que o valor da cesta nacional em outubro também está num dos níveis mais baixos do ano, bem abaixo do que vimos em março, ou em junho. Ou seja, o sufoco passou! 

A previsão do BC era que a deterioração do quadro externo seria tão forte que diminuiria fortemente o preço das commodities. Isso derrubaria o preço dos alimentos no Brasil e tiraria pressão sobre a inflação. O cálculo é que esse efeito seria grande o suficiente para neutralizar o impacto de uma alta do dólar decorrente exatamente do agravamento da crise. O dólar subiu, sim, a situação ficou pior, de fato, mas o índice IC-Br, do Banco Central, que mede os preços das commodities em reais, subiu 15,49% de outubro a outubro. A maior parte da alta é velha, aconteceu no final de 2010, mas em agosto, setembro e outubro os preços aumentaram 4,11%, mesmo com o agravamento da crise. O que mais pesou foi a desvalorização do real no período. Os produtos agropecuários aumentaram 7,11% nesses três meses. Os produtos ligados à energia (petróleo, carvão e gás natural) também subiram no trimestre, 4,14%.

Bem, Miriam, o Brasil é o maior vendedor de commodities do mundo, portanto se o preço delas não caiu; ao contrário, subiu um pouco; essa é uma notícia boa, não esquece, hein. Pressiona um pouquinho a inflação, mas gera divisas e emprego pra caçamba no país. E quanto ao dólar subir, bem, isso é o que o Brasil mais deseja, para valorizar nossos produtos lá fora, embora não valha tanto a pena se o preço for uma crise econômica em nossos colegas (ainda) ricos do norte. Ao final, você fala em aumento de 4,14% nos preços ligados à energia; bem, 4% é abaixo da inflação, então tá tranquilo. 

O mercado de trabalho no Brasil continua forte e o crédito segue com taxas altas de elevação em relação ao ano passado, o que tem mantido o crescimento. O país cresce bem menos do que 2010, menos do que se previa, mas ainda está no terreno positivo. O rendimento do trabalhador caiu 0,3% em outubro, em comparação com o aquecido outubro do ano passado, mas foi a primeira queda desde janeiro de 2010. O total de rendimentos das pessoas com trabalho subiu 22% de janeiro a agosto. O rendimento médio aumentou 21,53%. O crédito destinado a pessoas físicas subiu 12,4% de janeiro a outubro. Para as empresas, a alta foi de 12,8%. O crédito para habitação deu um salto de 34%.

Pronto, agora você quase não pôde mais conter a luz do sol! Só ficou uma persiana, que eu lhe ajudo a abrir. Se o total do rendimento tá subindo de maneira tão vigorosa, Miriam, é por causa de uma entrada muito grande de gente nova no mercado de trabalho. E os primeiros empregos tem sempre salários mais baixos, e a maioria de novos empregos gerados são, naturalmente, empregos mais simples. Quando você tem uma geração muito grande de empregos, portanto, é normal uma redução (no caso, quase insignificante, de 0,3%) no rendimento médio total. Sacou? 

O governo em dez meses quase cumpriu a meta de superávit primário, mas não porque reduziu despesas, mas sim porque elevou a arrecadação. Mais uma vez, como tem sido sempre nos últimos anos, o Tesouro cumpre as metas fiscais por receber mais receitas do contribuinte, e não por redimensionar suas despesas. Essa elevação constante do gasto público é uma parte da lenha na fogueira da inflação. A arrecadação do governo com Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI) aumentou 14% de outubro a outubro. Com o setor automobilístico, a alta foi de 28%. Do setor de bebidas, mais 11,3%. Quando os dados forem calculados, eles mostrarão que em 2011 houve nova alta da carga tributária. O economista Rogério Werneck escreveu no seu artigo publicado ontem no GLOBO que pode ser de 1,5 ponto percentual de alta este ano.

Agora você tampou o sol de novo. Conseguiu transformar uma notícia boa, daqueles que os economistas liberais mais gostam, que é governo obter um superávit alto, acima inclusive do necessário, numa notícia ruim. Ora, claro que a arrecadação cresceu! Isso é bom, filha! Quanto mais rico o país, maior a arrecadação! Vai ver quanto é a arrecadação nos EUA! Tu vais tomar um susto! E o aumento da arrecadação nos setores citados são um demonstrativo de vigor econômico! E em setores avançados, como o de industrializados e automobilístico! Quanto à alta de 11% no setor de bebidas, bem, aqui na Lapa ainda se pode comprar uma latinha de itaipava a 1,50; outro dia mesmo eu comprei. Quanto a carga tributária, vamos esperar para ver se aumenta mesmo. Eu sou contra o aumento da carga tributária, Miriam. Nessa eu tô contigo. Sou a favor de uma distribuição mais justa dos impostos, isso sim. Mas você sabe que não acredito nas coisas sem checar muito bem checado, e se não já não acredito nos números que você solta em sua coluna, sempre descontextualizados, como acreditarei na profecia desse professor Werneck?

Os juros vão cair na semana que vem, novamente, e o que se discute no mercado é se será um corte de 0,5% ou 0,75%. O cenário Tombini está se confirmando em parte: o mundo está pior a cada semana. Há um volume enorme de incertezas aumentando a possibilidade de novos agravamentos. A economia brasileira sente isso de diversas formas: o dólar sobe, o ritmo de crescimento diminui, a bolsa cai ou anda de lado, mas a inflação continua pressionada. O próximo ano começará com a alta de 14% no salário mínimo, o que representará um impacto forte nos custos da Previdência e na inflação de serviços. Pelo cenário do Banco Central, tudo isso será absorvido e eliminado durante o ano de 2012 que terminará com a taxa em 4,5%, no centro da meta. É torcer para que isso ocorra.

O salário mínimo vai aumentar 14%? Maravilha! Não é impacto forte na Previdência, nem é inflação de serviço nada, Miriam! É justiça social e uma vidinha melhor para o brasileiro! Mais renda, mais consumo, mais demanda, mais produção. Você ainda não aprendeu a lição? O que é bom para o trabalhador é bom também para o Brasil! 


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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Elson

28/11/2011 - 06h33

Eu prefiro o Brasil crescendo com um pouco de inflação doque nenhuma inflação e muita recessão . Essa pressão inflacionária é sazonal ,porquê é fim de ano , as pessoas vão as compras e os comerciantes aproveitam que o 13° salário está circulando para faturar mais enfiando a faca no bolso dos consumidores .

baixadacarioca

27/11/2011 - 17h57

Rá, rá… Esse modelo ficou ótimo. A cada tese uma antítese. A Míriam é uma pobre palpiteira que não sabe nem ser jornalista nem economista. Só os neolibelês (PHA) acreditam nela, e o que é pior, usam esses palpites para criar um discurso oposicionista.


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