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Fabiano Santos alerta para riscos de cisão à esquerda

O cientista político Fabiano Santos, um dos maiores especialistas brasileiros em processos eleitorais e partidos, além de ser filho do maior nome da Ciência Política nacional, Wanderley Guilherme, analisa as perspectivas para 2014 com base no que aconteceu em 2013. Santos alerta para os riscos de uma cisão à esquerda, como se vê com a […]

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O cientista político Fabiano Santos, um dos maiores especialistas brasileiros em processos eleitorais e partidos, além de ser filho do maior nome da Ciência Política nacional, Wanderley Guilherme, analisa as perspectivas para 2014 com base no que aconteceu em 2013.

Santos alerta para os riscos de uma cisão à esquerda, como se vê com a saída de Eduardo Campos e seu PSB da coalizão de governo.

Por fim, o cientista prevê fortes emoções para 2014. Trecho:

“Não há como subestimar politicamente o impacto de tal cisão à esquerda da coalizão de apoio ao governo. Em suma, os oposicionistas saberão jogar e aproveitar aquilo que o adversário, no caso Dilma e equipe, lhe oferecer. Se alguém projetou que 2014 será um ano de fortes emoções, embora certamente não tenha sido obrigado a nenhum grande esforço mental, acertou na mosca.”

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Fabiano Santos: Zero a zero em 2013

Não há como subestimar impacto da cisão à esquerda

Por Fabiano Santos, no Valor.

2014, ano de eleições gerais, ano de Copa do Mundo, Copa a ser realizada no Brasil. Tempo de grandes emoções, portanto. Expectativa que aumenta se se levar em consideração que em 2013 o jogo terminou empatado.

Lembrem-se que, para o governo, o fim de 2012 não foi bom politicamente, seja por conta de várias derrotas eleitorais em pleitos municipais, não obstante a espetacular vitória em São Paulo, seja e sobretudo por conta do anúncio de crescimento pífio do PIB. Ademais, na virada para 2013, um ensaio de descontrole de preços piora em muito o cenário. O problema do lado da oposição consistiu em canalizar as insatisfações potenciais em direção a uma liderança claramente identificada com discurso e agenda entendidos como alternativa consistente à linha seguida pelo governo. Em outras palavras, vastos segmentos da sociedade manifestavam descontentamento relativamente a várias questões de interesse público, todavia, não pareceu a estes mesmos setores, pelo menos para a maioria deles, que alternativas de oposição estivessem mais bem posicionadas para operar as mudanças requeridas.

Até meados de 2013, as pesquisas de apoio ao governo e projeção de cenários eleitorais apenas reforçavam a hipótese: Dilma batia recordes de popularidade ao passo que nenhum adversário demonstrava condições realistas de superação de uma eventual candidatura à reeleição. Algo, no entanto, não conectava a realidade dos dados econômicos e de avaliação dos serviços públicos com a avassaladora vantagem da presidente vis-à-vis concorrentes potenciais. O PIB tinha ido mal, a inflação crescia e o câmbio começara a se depreciar em velocidade aparentemente fora de controle por parte da autoridade monetária. Autoridade, diga-se de passagem, que via sua legitimidade drasticamente diminuída por conta do fosso abissal entre o que vinha anunciando sobre o que seriam os indicadores econômicos e a revelação dos números reais. Antes dos protestos de junho, é bom lembrar, a avaliação do governo já havia experimentado significativa queda de 10 pontos percentuais.

Vistas sob perspectiva, as jornadas de junho e julho impactaram o cenário político de maneira paradoxal. No curto prazo, no calor da hora, significaram o monumental desgaste da figura presidencial, de seu governo e embaralharam o cenário eleitoral projetado para 2014. No médio, entretanto, abriram um leque de ações e políticas a serem realizadas pela administração, oportunidade que foi bem aproveitada no caso do programa Mais Médicos, desde logo candidato a tornar-se um dos grandes trunfos eleitorais de Dilma no pleito de outubro. Em alguns outros casos, resultados ainda não vieram a púbico, mas decisões potencialmente relevantes atinentes à mobilidade urbana e a nova política de financiamento da educação pública, através do pagamento de royalties do pré-sal, também podem oferecer alguma vantagem discursiva ao governo. De toda forma, os índices de aprovação voltaram a crescer antes do fim do ano, embora longe dos patamares auferidos no início de 2013, sendo a presidente favorita a uma vitória no primeiro turno em praticamente todos os cenários plausíveis pesquisados pelos grandes institutos.

Desempenho bom para ótimo no âmbito de combate à pobreza, criação e fortalecimento de programas sociais e de inclusão, como o citado Mais Médicos e o Pronatec, além da manutenção em patamar alto do nível de emprego e o afastamento do risco de queda significativa no consumo, na renda e no poder de compra dos salários. Estes serão os pilares do discurso governista no segundo semestre do ano. Suas fragilidades, a serem exaustivamente exploradas pela oposição, por certo advêm do campo macroeconômico e na administração de problemas ligados à prestação de serviços públicos. O desempenho do PIB ficou em média próximo ou inferior ao observado durante o período do PSDB à frente do governo, com o agravante de que as projeções feitas para o mandato de Dilma estarem sempre na faixa de 4 a 5%. Isto é, não há como o governo escapar da avaliação segundo a qual medidas importantes deixaram de ser tomadas para que o país pudesse crescer de maneira mais consiste com o seu potencial. Questões de infraestrutura, marco regulatório de setores vitais para uma nova fase de investimento, público e privado, e desenvolvimento da indústria, foram enfrentadas de forma lenta e sofrida, e o que é pior, sem a definição de espaços claros de interlocução com os interesses envolvidos.

Seriam tais fragilidades suficientes para uma derrota eleitoral do governo? Segundo as pesquisas feitas até o momento, tal cenário de derrota ainda não apareceu. As candidaturas postas de oposição, no entanto, não são propriamente amadoras, com o agravante de ser uma delas forte aliado até pouco tempo, presidente de um dos partidos mais próximos do PT desde a transição para a democracia. Não há como subestimar politicamente o impacto de tal cisão à esquerda da coalizão de apoio ao governo. Em suma, os oposicionistas saberão jogar e aproveitar aquilo que o adversário, no caso Dilma e equipe, lhe oferecer. Se alguém projetou que 2014 será um ano de fortes emoções, embora certamente não tenha sido obrigado a nenhum grande esforço mental, acertou na mosca.

Fabiano Santos é cientista político, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

 

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Eliana Bley

17/01/2014 - 14h33

PSTU sempre foi antiPT antes de qualquer outra coisa. Não importa se é melhor, se for PT eles são contra. Mas isso desde sua criação.

Otrebor Roberto

17/01/2014 - 14h30

Risco? Eu já considero um fato, se bem que tratar PSB como esquerda é forçar a barra (aquilo sempre foi um centrão). O PSOL puxa o “bonde dos descontentes” com uma pauta anti-petista, o PSTU vai na onda, o PT está isolado.


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