Justiça baixa indenização para R$ 15 mil

Perdi o processo.

Ainda não sei se vou apelar. Provavelmente sim, até a última instância possível, o Supremo Tribunal Federal.

No entanto, a meu ver, Ali Kamel sai derrotado moralmente. Ganha uma ação de R$ 15 mil para quê? Para evidenciar a sua truculência, de um lado, e,  de outro, seu medo de perder espaço para a blogosfera.

Perde a Justiça, que poderia tomar uma decisão corajosa, em favor da liberdade de expressão. Mas meus amigos de São Paulo já haviam me falado sobre o Judiciário do Rio.

Ao menos, baixaram o preço do sacripanta de R$ 41 para R$ 15 mil. Agora tenho que ver a decisão completa, saber se tem de fazer depósito em juízo, se o valor foi atualizado, essas coisas.

O que está acontecendo, Brasil? A direita avançou de vez pelo Judiciário, que virou um espaço de proteção aos poderosos e de opressão aos pequenos?

A nossa mídia, pelo jeito, só está preocupada com a liberdade de imprensa no Equador, em Cuba, na Rússia. Aqui no Brasil, é processo em cima de tudo quanto é blogueiro. É jornalista preso em Minas. O escambal.

Já eles, os jornalistas dos grandes meios, podem tudo. Podem xingar, difamar, injuriar.

Essa minha condenação lhes faz cair a máscara. E o que vejo por trás é ainda mais feio do que eu supunha.

Tudo bem, Kamel. Eu sei como termina essa história. Eu vou morrer um dia. Você vai morrer um dia. A história é que nos dará o veredicto final. Você será o medíocre covarde que usou o poder de uma corporação para atacar um simples blogueiro.

Você pode até arrancar meu dinheiro, é tão ridículo pensar isso que me dá vontade de rir. Já não sou tão pobre, graças ao sucesso do meu blog. Com um pouco de ajuda dos amigos, que tenho aos montes, consigo R$ 15 mil com facilidade.

A questão não é essa.

Eu tive o privilégio de ler muito, Kamel. Já vivi em Florença, onde li Dante Alighieri no original. Já li Rimbaud e Baudelaire, diante da Notre Dame. Já mijei bêbado de madrugada no rio Sena, enquanto chorava de emoção, pensando em Rousseau.

Você pode usar seu poder para me arrancar dinheiro, meu suado dinheiro ganho trabalhando de segunda a segunda, mas jamais roubará minha cultura.

Enfim, eu aprendi com William Blake, meu caro: Expect poison from the standing water. De água parada, espere sempre veneno.

Perdi uma batalha, uma mísera e insignificante batalha. A guerra, venceremos!

William Blake

PS: Se quiser mais informações sobre o processo, leia aqui.

PS 2: O Portal Imprensa e todos os que estão dando a notícia, poderiam fazer a gentileza de me ouvir (meu email) ou se informar melhor antes de abraçar a versão da acusação. Não é verdade que eu acusei Ali Kamel de cometer “todo o tipo de abuso contra a democracia” e “a dignidade humana”; de se empenhar “dia e noite para denegrir a imagem do Brasil, aqui e no exterior” e de utilizar “métodos de jornalismo” que “fazem os crimes de Rupert Murdoch parecerem estripolias de uma criança mimada”. Essas gentilezas se dirigiam à empresa, não à pessoa. Basta ler o texto, qualquer criança com mais de seis anos entende.

PS 3: A íntegra da decisão da juíza está aqui.

PS 4: Rodrigo Vianna, que tem “experiência” com as obsessões sacripânticas, me explicou que não tenho que pagar nada agora. Quer dizer, não tenho que depositar nada em juízo. Só quando perder no Tribunal de Justiça. Então tenho alguns meses para respirar.

PS 5: Meu advogado acaba de me ligar, explicando-me que nossos principais argumentos não foram contemplados pela juíza. Então vamos recorrer. A luta continua!

PS 6: Me enviam o cartaz do filme, com o nome do Ali Kamel. Portanto, não procede a versão que o nome do ator do filme Solar das Taras Proibidas é Alex Kamel. É Ali Kamel mesmo. Só que evidentemente não é o Ali Kamel que dirige a Globo. É outro, muito mais divertido.

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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