O golpe avança: Cunha anuncia à Globo que rompeu com o governo

Bem, agora não podem me acusar de paranoia.

Eles jogaram direitinho.

A delação contra Eduardo Cunha serviu ao propósito, ou deu um pretexto, de enfurecê-lo e fazê-lo romper com o governo Dilma.

Quer dizer, romper ele já tinha rompido há tempos. Ele agora se mostra disposto a ser um inimigo declarado.

Ao menos é o que ele anunciou esta noite para a Globo (sempre a Globo, claro, a maestra do golpe).

Cunha, histérico, só vê uma saída: criar uma grande cortina de fumaça em torno de si, disparando contra o PT e a presidenta.

É uma fase confusa do jogo, porque pouca gente vai entender porque cargas d’água Cunha acusa Dilma em relação a um processo sobre o qual ela, obviamente, não tem controle nenhum.

Estaria Cunha fazendo um jogo de cena, tentando desviar as atenções?

O editor da Época, Diego Escoteguy, não disfarçou sua alegria no twitter: como se Cunha tivesse reagido exatamente da maneira como eles planejavam.

Acuado, Cunha não vê outra saída senão acusando o PT e Dilma, e desviar as atenções de sua pessoa criando CPIs, incendiando tudo, fazendo o jogo da mídia.

Minha teoria, de que a delação contra Cunha fazia parte do jogo, confirma-se. Cunha apenas conseguirá sobreviver na Câmara se contar com uma grande blindagem na mídia.

E só conseguirá essa blindagem se obedecer estritamente o roteiro do golpe.

Por outro lado, dirão vocês: Cunha é fogo morto, carta fora do baralho.

Ele ainda tem esse trunfo derradeira, que é aliar-se à mídia numa batalha final contra o PT.

As informações que temos sobre Renan o mostram reagindo de maneira parecida.

Cunha e Renan se portam como peças obedientes de uma conspiração planejada meticulosamente.

House of Cards se tornou historinha de criança perto do que está acontecendo no Brasil.

Aliás, jogadas políticas tão incrivelmente sujas devem estar contando com uma assessoria cinco estrelas, quiçá importada dos escritórios de lobby mais bem pagos dos Estados Unidos.

O golpe avançou enormemente ao fim desta semana. O recuo no início dela, como eu havia previsto, foi apenas estratégico.

A armadilha tem de ser montada de tal maneira, que produz fatos políticos de impacto crescente, até o dia 16 de agosto, quando haverá a marcha golpista.

Em seguida, teremos as votações do TCU e TSE. Os ministros de ambas as casas já começaram a ser chantageados e pressionados.

O próprio Cunha já declarou que a votação para aprovação das contas pelo TCU será “política”.

No pronunciamento deste dia 17, não me surpreenderia se Cunha mudar o texto e fazer um ataque político à presidenta Dilma.

***

Presidente da Câmara anunciará rompimento com o governo

Eduardo Cunha afirma haver conluio entre o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e Dilma para prejudicá-lo

POR DIEGO ESCOSTEGUY, NA ÉPOCA
16/07/2015 – 23h36 – Atualizado 16/07/2015 23h38

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do PMDB, disse agora à ÉPOCA que irá romper imediatamente com o governo Dilma. A radical decisão será anunciada amanhã de manhã, numa coletiva em Brasília. “Não há mais volta. A partir de hoje, minhas relações com o governo estão rompidas”, disse Cunha. “Janot está claramente agindo em conluio com Dilma e o PT. Alguém precisa dizer basta! É um movimento político para acuar o Congresso.”

A fúria de Cunha deve-se ao novo depoimento, em delação premiada, do empresário Julio Camargo, que acusou o presidente da Câmara de receber propina no petrolão. Cunha está indignado: nega a acusação e critica severamente o fato de o depoimento ter sido concedido ao juiz Sergio Moro, em Curitiba. Camargo disse o mesmo ao procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, mas esse depoimento ainda não veio a público. Por ter foro no Supremo, Cunha acredita que as declarações de Camargo ao juiz Sergio Moro foram ilegais. Ele também diz que Camargo disse “mentiras” ao ser coagido por Janot, que ameaçara cancelar a delação premiada do empresário caso ele não entregasse o que sabia sobre Cunha.

O contra-ataque de Cunha não ficará nas palavras. O rompimento significa que ele mandará instalar duas CPIs na Câmara: uma para investigar os fundos de pensão e outra para apurar desvios no BNDES. “Se Dilma e o governo me querem como inimigo, conseguiram. Não haverá mais trégua. Não serei intimidado”, disse Cunha. Mesmo no recesso da Câmara, que começa agora, o governo Dilma não terá mais sossego, garante Cunha.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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