A seletividade mata qualquer possibilidade de justiça

por Esther Solano, no Justificando

Delcídio do Amaral, senador do PT, foi preso.

Jose Carlos Bumlai, o “amigo de Lula”, foi preso.

André Esteves, que não é “amigo de Aécio”, foi preso.

Cunha não foi preso, continua livre, leve e solto no Congresso.

Pobre negro de periferia é preso por tráfico.

Mineradoras não são presas.

A corrupção é algo imundo, absolutamente incompatível com a democracia. Que a justiça seja feita – mas ela nunca foi cega, aliás, sempre foi muito bem nas consultas do oftalmologista. Ela enxerga o que quer enxergar. O mínimo que devemos exigir é imparcialidade na luta contra a corrupção, independentemente de filiações representadas.

É uma aberração e um insulto à cidadania que a justiça seja tão seletiva. O Brasil merece uma polícia que não se deixe arrastar pela lama política, merece operadores de direito que queiram aplicar a lei – não para reproduzir um status quo de privilégios e sim para proteger quem não tem privilégio nenhum -, e uma imprensa que não manipule a informação de forma tão despudorada.

Se quisermos essa justiça imparcial, ou pelo menos não tão ostensivamente parcial, todos nós devemos lutar por ela. As cadeias-masmorras nunca deveriam ser um instrumento higienista, eleitoral, de uma seletividade penal escandalosa. A seletividade mata qualquer possibilidade de justiça.

Esther Solano Gallego é Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Complutense de Madri e professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo
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