FHC depõe na PF mas ninguém fica sabendo, afinal ele é ‘gente diferenciada’

Durante a palestra Brasil, Qual Será o Seu Futuro?, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou não ser pessimista em relação ao país. Segundo ele, o Brasil tem um "potencial enorme" (Wilson Dias/Agência Brasil)

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

FHC depõe na PF e imprensa mostra como trata ‘gente diferenciada’

Ex-presidente não teve plantão de repórter na porta de casa, entrou e saiu da PF sem ser percebido e conteúdo de seu depoimento segue mantido em sigilo. Prerrogativas negadas a Lula

por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual

Não teve circo, jornalistas correndo atrás do carro, cobertura para TVs, não teve helicópteros e quase passou despercebido o depoimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) na Polícia Federal (PF), na sexta-feira (29)

A assessoria da PF explicou que FHC usou a prerrogativa conferida a ele por sua condição de ex-presidente para sair de forma discreta do prédio. A primeira pergunta inevitável. Por que não foi aplicada ao ex-presidente Lula a mesma prerrogativa? Quando os policiais chegaram à casa de Lula às 6h, repórteres já esperavam. Quando chegaram com Lula ao aeroporto, repórteres os antecederam.

“Houve vazamento?” E nada vazou no caso de FHC?

O público só ficou sabendo – e mesmo assim por notinhas em poucos sites de jornais – que o tucano prestou depoimento na sede da PF em São Paulo, muito tempo depois de ele ter deixado o local. E se o conteúdo do depoimento de Lula foi liberado para o bel prazer da “grande” imprensa minutos depois – que fez dele mais um espetáculo, apesar de nada haver contra Lula –, o depoimento de FHC está mantido em sigilo.

Em fevereiro, o Ministério da Justiça determinou à PF a abertura de dois inquéritos para investigar as suspeitas de crimes cometidos pelo ex-presidente envolvendo o envio de dinheiro ao exterior para a jornalista Mirian Dutra, com quem ele teve um filho fora do casamento, por meio de um contrato da empresa Brasif Exportação e Importação S.A

Mirian já afirmou para diversos veículos que o ex-presidente assinou um contrato fictício com a empresa Brasif Exportação e Importação, concessionária à época das lojas duty free nos aeroportos brasileiros para enviar dinheiro para ela entre 2002 e 2006. Segundo a Brasif, a jornalista, que vive na Espanha desde 1991, teria sido contratada para fazer análises de mercado em lojas convencionais e de duty free. Miriam afirma que jamais pisou em uma loja para trabalhar. Mesmo assim, recebia regularmente US$ 3 mil mensais da empresa.

No começo de abril, em depoimento de mais de cinco horas à PF, Miriam Dutra contou que, nos anos 1990, quando FHC presidia o Brasil, o dinheiro era levado por um cunhado a Portugal, onde Mirian morava. Ainda de acordo com esse relato, a jornalista passou a receber o dinheiro na forma de crédito em conta quando foi viver na Espanha.

A outra “investigação” sobre a qual FHC foi chamado a esclarecer trata da propriedade de imóveis no exterior, um apartamento em Paris e outro em Nova York, que não teriam sido declarados por Fernando Henrique à Receita Federal.

É lamentável a omissão da mídia brasileira em relação ao episódio. A imprensa descumpriu seu papel básico de informar à população e volta a desrespeitar o cidadão ao insistir em dar tratamento diferenciado ao ex-presidente tucano. A omissão da imprensa, nos leva a pensar que a cobertura da política brasileira não é equilibrada, como se espera de uma mídia independente, como eles dizem ser.

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