Senador Aloysio, quem te viu, quem te vê!

Foto: Imagem de uma pessoa com a camisa estampando Marighella e o rapper Jubart M10, montada sobre a foto de George Gianni

por Washington Luiz de Araújo, no Bem Blogado

“Quem não a conhece, não pode mais ver pra crer. Quem jamais a esquece, não pode reconhecer”.

As duas frases da música “Quem te viu, quem te vê”, de Chico Buarque, nos remete a muita gente que hoje em dia está do outro lado do balcão; gente que saiu do lado da esquerda, do povo, e pulou para o lado do capitalismo extremado, da defesa do empresariado, do “entreguismo”, da aversão aos projetos sociais. Um desses nomes é o do hoje senador Aloysio Nunes Ferreira.

Um dia após o vexaminoso domingo de 17 de abril, quando a Câmara Federal colocou em prática o seu intento de ruptura democrática e usurpação, o senador viajou para Washington e lá defendeu o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Esse mesmo Aloysio um dia participou ativamente na ALN – Ação Libertadora Nacional, ao lado do inimigo número um da ditadura militar: Carlos Marighella. Hoje, sobre o papel que desempenhou na luta contra o golpe militar de 1964, Aloysio mantém em sua biografia oficial somente 10 palavras.  Somente 10 envergonhadas palavras.

Em contraponto a um traidor da causa, que hoje apresenta no Senado um projeto de lei proibindo servidor público de fazer greves, existem muitos nomes. Um deles é o de Raphael Martinelli, 92 anos, presidente do Fórum Permanente de Ex-presos e Perseguidos Políticos. No último domingo, 1º de maio, Raphael estava lá no Anhangabaú, São Paulo, comemorando mais de 70 anos de presença em atos do Dia dos Trabalhadores.

Esse ativista que sempre foi de esquerda, que nunca trocou de lado, esteve com Aloysio Nunes Ferreira no longínquo ano de 1968, quando participaram de uma expropriação, o assalto ao trem pagador da linha Santos-Jundiaí.  Em entrevista à revista “Carta Capital”, Martinelli recorda:  “Tinha o grupo que fazia o serviço e o grupo que aguardava a descarga. Ele tinha que esperar onde o trem parasse, ali em Pirituba, para recepcionar os companheiros que iam descer com a carga. O Aloysio, além de fazer a segurança, estava para receber a carga do trem, o dinheiro. Todo mundo estava armado. Num ato desse, a gente não ia com intenção de matar ninguém, mas tínhamos que estar preparados”.

Aloysio considera sua atuação contra a ditadura militar um erro. Aos 71 anos, ainda tem tempo, no entanto, de rever essa posição e considerar um erro apoiar um golpe parlamentar, sujando até as 10 palavras que sobraram sobre sua participação contra o golpe militar em  sua biografia oficial.

Os cinco anos de luta armada contra a ditadura militar pela ALN ele assim resumiu: “Por conta de ações contra a ditadura militar, precisou sair do Brasil”. Será que um dia reconhecerá como um erro ser um dos próceres da entrega do pré-sal aos Estados Unidos e do atentado aos direitos dos trabalhadores, algumas das ações que estão no bojo do golpe do qual ele, Aloysio, é hoje um dos líderes? Em 2015, o senador tucano se dizia contra o impeachment (golpe), pois queria ver Dilma “sangrar” até 2018. Expressões esdrúxulas para quem lutou contra a ditadura e viu companheiros como Marighella serem torturados e depois metralhados. Sobre essa manifestação, o jornalista Juca Kfouri afirmou: “Um senador da República dizer que quer ver uma presidente sangrar… Epa! Para tudo. Um ex-exilado político, da luta armada, dizer isso… Não é a atitude de um senador e sim de um pitbull e não dá para fazer política com um pitbull”.

Em 2009, por ocasião dos 40 anos do assassinato de Carlos Marighella, foi elaborado  um  manifesto com mais de 200 assinaturas. Entre os signatários, antigos companheiros de luta contra a ditadura, políticos, intelectuais e artistas. Não há a assinatura de Aloysio Nunes Ferreira, por quem Marighella nutria admiração, como lembrou para a “Carta Capital” a militante Iara Xavier Pereira, que militou ao lado do comandante da ALN e que teve o irmão, Iuri Xavier, assassinado pela ditadura em 1972: “Ele [Marighella] tinha uma confiança muito grande no Aloysio. Era muito benquisto por ele”.

A bem da verdade, Aloysio esteve presente a uma homenagem a Marighella em 2009, mas convenhamos, é muito pouco, ou quase nada, se refletirmos sobre o quanto o hoje senador tem feito contra os trabalhadores e contra as causas libertárias. Marighella foi brutalmente torturado e assassinado numa emboscada, não merecia isso de uma pessoa a quem muito considerava. Ninguém merece.

Veja aqui um vídeo com o destemperado senador em 2014, sendo abordado pelo blogueiro Pilha:

 

Aqui, Aloysio em Washington, sendo desmascarado por brasileiras:

 

Aqui uma homenagem do Mano Brown ao grande ativista Carlos Marighella:

Washington Luiz de Araújo é jornalista

Redação:
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