NYT: ódio que destinaram a Dilma se voltará contra os que tomaram o poder

Foto: Mídia NINJA

Tornando pior a crise política do Brasil

No New York Times – original, em inglês, aqui

Horas depois dos senadores votarem esmagadoramente para colocá-la em julgamento por suposta trapaça financeira, a presidente Dilma Rousseff do Brasil denunciou a tentativa de seu impeachment como um golpe.
“Eu posso ter cometido erros, mas eu nunca cometi crimes”, disse Dilma.

Isso é discutível, mas Dilma tem o direito de questionar os motivos e a autoridade moral dos políticos que buscam derrubá-la. A presidente brasileira, que foi reeleita em 2014 para um mandato de quatro anos, tem sido uma política ruim e uma líder decepcionante. Mas não há nenhuma evidência de que ela abusou do seu poder para obter ganhos pessoais, enquanto que muitos dos políticos que orquestraram sua expulsão foram implicados em um enorme esquema de propina e outros escândalos.

O Supremo Tribunal do Brasil determinou na semana passada que Eduardo Cunha, o legislador veterano que conduziu o esforço para expulsar Rousseff, deve deixar o cargo para ser julgado por acusações de corrupção. O vice-presidente Michel Temer, que assumiu o comando do país na quinta-feira, poderá ficar inelegível por oito anos para concorrer a um cargo porque as autoridades eleitorais o condenaram recentemente por violar os limites de financiamento de campanhas.

Dilma é acusada de usar dinheiro dos bancos nacionais para encobrir déficits orçamentários, uma tática que outros líderes brasileiros utilizaram no passado sem chamar muita atenção. Muitos suspeitam, no entanto, que o esforço para remover Dilma tem mais a ver com sua decisão de permitir que promotores avancem com uma investigação de corrupção na Petrobras, a companhia estatal de petróleo. O escândalo manchou mais de 40 políticos, incluindo líderes seniores do Partido dos Trabalhadores de Dilma.
Se o Senado se convencer da má conduta financeira de Dilma – o que é provável, já que 55 dos 81 senadores do Brasil votaram para colocá-la em julgamento – os líderes brasileiros podem achar isso mais fácil que reverter a política de pagar para jogar como de costume. Isso seria indefensável.
O Brasil está se recuperando da sua pior recessão desde 1930, e agora esta crise política está minando a fé na saúde da sua jovem democracia. Para agravar esses problemas, o governo está atracado com o surto do vírus Zika pouco antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

As recentes investigações de corrupção, que expuseram a elite governante podre, têm deixado os brasileiros indignados. Se o mandato de Dilma é interrompido, os brasileiros devem ser autorizados a eleger um novo líder prontamente. Uma nova eleição poderia ser realizada em breve, se um tribunal eleitoral, que vem investigando alegações de que o dinheiro do escândalo da Petrobrás infiltrou-se na campanha de Dilma em 2014, invalide sua última vitória. Alternativamente, o Congresso poderia aprovar uma lei convocando uma eleição antecipada.
Enquanto Dilma não conduziu o país de forma eficaz, os senadores saboreando sua saída devem se lembrar de que a presidente foi eleita duas vezes. O Partido dos Trabalhadores ainda tem apoio considerável, particularmente entre os milhões que foram puxados para fora da pobreza ao longo das últimas duas décadas.

A confiança em Dilma e seu partido pode ter submergido nos últimos meses. Mas Dilma está pronta para pagar um preço desproporcionalmente alto para o erro administrativo, enquanto vários de seus detratores mais ardentes são acusados ??de crimes mais flagrantes. Eles poderão constatar que grande parte da ira que tem sido focada nela em breve será redirecionada para eles.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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