Brasil: um impeachment com jeito de golpe

Foto: Reprodução/ Libération

por Chantal Rayes, no Libération / Tradução: Joana Francesa

Em um Brasil em recessão, a ira popular foi instrumentalizada por políticos corruptos para depor Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores, PT). Oficialmente, a Chefe de Estado, suspensa desde 12 de maio, é acusada de manobras orçamentais que só marginalmente ampliou o déficit público em 2015. Um legalismo suspeito, por razões.
Sabemos agora que as motivações das forças que levaram ao impeachment não tinha nada de nobre. Começando com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o presidente interino, Michel Temer, que havia rompido com a sucessora de Lula para precipitar a sua queda.

Era preciso “mudar o governo para parar tudo”, disse um dos caciques do partido, Romero Jucá, a seu interlocutor, Sérgio Machado, o ex-dirigente de uma subsidiária da Petrobras, em uma gravação feita por ele e revelada na segunda-feira pela Folha de São Paulo. Em outras palavras: abafar a investigação sobre o enorme escândalo dos desvios na gigante do petróleo Petrobras, inicialmente centrado no PT e que transborda agora no PMDB. Nomeado ministro do Planejamento do Governo Temer, ele próprio envolvido no caso, Juca teve que renunciar. O homem também atinge o Partido da Social Democracia Brasileira (centro-direita), isto é a principal formação do que foi a oposição ao PT. E, mais importante, o Supremo Tribunal, cujos alguns membros, em suas palavras, pensaram que depor a Chefe de Estado reduziria a pressão popular por uma investigação mais aprofundada.

Para Dilma Rousseff e o PT, estas escutas são a prova de que um “golpe” está de fato em curso. A legitimidade do governo interino está mais do que nunca em questão. Sua única caução é o ministro das Finanças, Henrique Meirelles, que serviu sob Lula e goza da confiança dos investidores.

Perguntas pairam sobre o timing destas revelações explosivas. Desde quando o procurador-geral tem em suas mãos essas gravações? Por que essas peças, realizadas em março, antes da votação pela qual o Parlamento iniciou impeachment, não foram reveladas em tempo? elas ainda podem convencer o Senado, que continua o processo, a não condenar a Chefe de Estado? O PT não está limpo também. O partido também fez pressão sobre Dilma Rousseff para suspender a investigação em que ela se vale de nunca ter interferido.

O que desnuda este presente da Folha para a esquerda, é deste modo a degradação da classe política como um todo. No poder há treze anos, o PT não investiu em uma reforma de um sistema eleitoral que passa por um “convite à corrupção”: o financiamento de campanha é assegurado por um punhado de grandes empresas, as despesas não são cobertas, o sistema de representação é enviesado, a fragmentação é extrema – 28 partidos que, em sua maioria, cobram para dar apoio, são representados no Congresso. Somente Lula tinha o prestígio necessário para agitar tudo isso. Ele preferiu se adaptar. Quanto à direita que se posicionou incansavelmente pelo impeachment, eis que encontra-se estranhamente silenciosa hoje. A corrupção do PT era apenas um pretexto para derrubá-lo. As panelas do número de ministros de Temer envolvidos não levaram os manifestantes revoltados com a “corrupção” voltar às ruas.

Tampouco as revelações da Folha. É pouco provável que Dilma Rousseff escape, em última análise à demissão. Mas as maquinações de seus detratores fazem menos improvável a realização de eleições gerais antecipadas.

 

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