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Aqueles que faltam

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)] Espiando o poder: análise diária da grande imprensa Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho Ao lado da manchete a mostrar bem o nível de nossos atuais governantes, a Folha de São Paulo diz na chamada de capa que “patrimônio da mulher de Cabral cresceu dez vezes entre 2005 […]

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo

Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

Ao lado da manchete a mostrar bem o nível de nossos atuais governantes, a Folha de São Paulo diz na chamada de capa que “patrimônio da mulher de Cabral cresceu dez vezes entre 2005 e 2015”. Logo abaixo, “TSE determina que Garotinho deixe a prisão de Bangu e volte ao hospital”, e no título de seu editorial principal de hoje, o jornal afirma que a onda de prisões está “longe de terminar”. O PSDB é citado no subtítulo e na última linha do texto surgem os nomes de Aécio Neves e José Serra. E o novo movimento da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva muito provavelmente não dará em nada, mas serve ao menos para que se imagine, como cena final para a crise geral da nação, algo próximo do Alienista de Machado de Assis.

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“Prisão de Sérgio Cabral (PMDB) é nova etapa na série de operações policiais centradas no PT que ainda pode alcançar o PSDB”, diz o subtítulo do editorial da Folha que tem chamada na capa, embaixo, mas ali sem qualquer menção ao partido de Aécio e Serra, nem aos dois. O texto fala dos esquemas de Cabral no estado do Rio de Janeiro, contando que “estão em jogo desvios avaliados em R$ 224 milhões.” E no último parágrafo o jornal afirma que “o ciclo, porém, está longe de se fechar. Ampla zona permanece em aberto, quando se tomam em conta as referências, em delações premiadas, a figuras-chave do PSDB, como Aécio Neves e José Serra”.

A Folha já deu recentemente manchete sobre o montante de R$ 23 milhões que a Odebrecht disse ter pago a Serra na Suíça, na campanha à Presidência de 2010. A notícia virou matéria de uma coluna apenas, no dia seguinte, e depois desapareceu das páginas. O Estado de São Paulo, nesta quarta-feira, deu manchete em que “Lava Jato apura repasse em obra da marginal do Tietê”, mas também não se fala mais nisso, talvez porque naquele dia mesmo e no seguinte tenham estourado as bombas das prisões de Garotinho e Cabral. Agora a Folha cita Aécio e Serra no editorial, na última linha, sem chamada na capa, mas cita, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fica de fora, como na foto aí em cima.

cabral-preso-bangu“Lava-Jato: esquema de Cabral irrigou PMDB do Rio”. Essa é a manchete do Globo, que vai em cima dessa foto aí ao lado, de Sergio Cabral Filho com os cabelos cortados e o uniforme do complexo penitenciário de Bangu. “E-mail apreendido pela Operação Calicute, que prendeu Sérgio Cabral, mostra que Carlos Miranda, operador do ex-governador, indicou contas do PMDB para que a Carioca Engenharia depositasse propina em forma de doação eleitoral em 2010”, diz o texto da capa.

Na página de dentro, no minieditorial estrategicamente posicionado, o jornal carioca exerce o seu sarcasmo, ou hipocrisia, como prefere chamar o jornalista Fernando Brito, no blog Tijolaço. “Repúdio” é o título do texto a dizer que “a divulgação de fotografias do ex-governador Sérgio Cabral de cabelo raspado na prisão e as cenas patéticas da transferência do ex-governador Anthony Garotinho de um hospital público para um presídio convidam à reflexão.”

“Nos dois casos houve evidente exagero dos agentes — o escracho, ou ‘esculacho’ na gíria policialesca. Merece veemente repúdio da consciência civilizada , continua o Globo. E na capa está a foto de Cabral na prisão, e bem ao lado desse texto o jornal publica outra imagem das “cenas patéticas” com Garotinho sendo transferido, do mesmo tamanho da que já havia sido publicada na véspera. “Hipocrisia, teu nome é Globo”, diz Fernando Brito no título do post em que o jornalista critica “a hipocrisia de quem faz jornalismo ‘neutro’ e aponta o dedo contra os que expõem claramente suas opiniões”.

“Aliás, em matéria de fazer  mal ao Rio de Janeiro e a uma política civilizada, mais do que Cabral e Garotinho somados e elevados ao quadrado , faz a Globo, que se nutriu deste estado mas o despreza profundamente”, conclui Brito. No editorial principal, em que alerta no título para “o risco da federalização da crise do Rio”, o jornal mostra seu apreço pelo estado clamando pelo arrocho, ao afirmar que “é preocupante que o governo fluminense possa recuar nas propostas de equilibrar as finanças do estado, face ao tamanho do rombo nas contas públicas”.

Às voltas com o tal “risco da federalização da crise do Rio” o governo Temer tem agora mais uma situação desagradável para resolver, exposta na manchete da olha em que “ministro acusa homem forte de Temer ao deixar Cultura”. A chamada informa que “o ministro demissionário Marcelo Calero (Cultura) acusa o ex-colega Geddel Vieira Lima (Governo) de pressioná-lo a produzir parecer técnico favorável a seus interesses pessoais”.

O jornal conta que, segundo “informam Natuza Nery e Paulo Gam, Calero disse que o articulador político do governo Temer (PMDB) o procurou para que o Iphan, órgão subordinado à Cultura, aprovasse projeto imobiliário perto de área tombada em Salvador, base política de Geddel.” O motivo do interesse do ministro é que ele, Geddel, tinha comprado um apartamento no prédio em construção. Segundo o Tijolaço, trata-se de “um espigão de 30 andares na Ladeira da Barra, com um apartamento por andar e estrutura completa de lazer e serviços”.

Brito compelta informando que “são unidades de 260 metros quadrados, com quatro suítes  e quatro vagas de garagem, além de uma cobertura de 450 metros quadrados”, e que “a construção, que chegou a ser suspensa por uma liminar judicial, é contestada pelo Instituto dos Arquitetos da Bahia, que acusa a Prefeitura de Salvador de ter liberado irregularmente a obra, de 106 metros de altura, o que seria proibido, por exceder a altura permitida para não provocar o sombreamento na Praia do Porto da Barra e ferir a paisagem da Ladeira, onde existem monumentos tombados pelo Patrimônio Histórico.”

À Folha, Calero disse que recebeu o telefonema de Geddel no dia 28 de outubro. “Por volta de 20h30, recebo uma ligação do ministro Geddel dizendo que o Iphan estava demorando muito a homologar a decisão do Iphan da Bahia. Ele pede minha interferência para que isso acontecesse, não só por conta da segurança jurídica, mas também porque ele tem um apartamento naquele empreendimento. Ele disse: ‘E aí, como é que eu fico nessa história?’”, contou o ex-ministro que, agora, será substituído por Roberto Freire, do PPS.

No meio de todos esses percalços, de ministros pedindo pra sair, outros balançando no cargo, segue em curso o “projeto econômico” do governo Temer, como avisa a Folha na editoria de economia, na matéria em que a “Petrobras negocia áreas no pré-sal com grupo francês Total”. O subtítulo informa que “empresa estatal pode vender participações em áreas próximas dos maiores campos de petróleo da região”. e o governo mostra a pressa de sempre para vender, se desfazer do patrimônio nacional em meio à guerra entre os Poderes que não dá trégua.

A chamada no alto da capa do Globo diz que “Renan pode virar réu no STF até o fim do ano”. “Antes do recesso de fim de ano, o STF vai analisar a mais antiga denúncia na Corte contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, que poderá transformá-lo em réu. Ele é acusado de ter despesas de uma filha pagas por empreiteira”, informa o jornal carioca, para em seguida dizer que “a eventual aceitação da denúncia sinalizará que a hora chega também para políticos poderosos, mas o efeito prático será pouco. Graças ao pedido de vista do ministro Dias Toffoli, não valerá para o presidente do Senado o entendimento, já majoritário no Supremo, de que réus têm de abandonar cargos situados na linha sucessória da Presidência da República”.

Na coluna Painel, na nota “Alerta Vermelho”, a Folha diz que “a prisão de Anthony Garotinho (PR) e Sérgio Cabral (PMDB) elevou ao nível máximo o senso de urgência dos congressistas que querem aprovar uma anistia ampla e explícita aos alvos da Lava Jato”. Alvo principal, exposto na maior das bolotas do powerpoint sem provas do procurador Deltan Dallagnol e sua equipe, o ex-presidente Lula partiu para o ataque e pediu a prisão do juiz Sergio Moro.

“Defesa de Lula quer que Moro seja preso por abuso de autoridade”, diz o título da matéria da Folha. O subtítulo afirma que, “para advogados, juiz federal extrapolou ao determinar a condução coercitiva do ex-presidente”, e em outro subtítulo o jornal trata de reforçar a tentativa de colar Lula a Cabral, mesmo que o ex-governador não só tenha apoiado Aécio Neves em 2014, como também tenha orientado até o filho, Marco Antonio, a votar pelo impeachment de Dilma Rpusseff.

O subtítulo em questão diz que “dirigentes do PT e do Instituto Lula classificaram como ‘espetaculosa’ a prisão de Cabral na Lava Jato”, o que só aparece no fim da texto, depois da informação de que a peça protocolada na Procuradoria-Geral da República pelos advogados de Lula pede providências “em relação a fatos penalmente relevantes praticados pelo citado agente púbico (Sergio Moro) no exercício do cargo de juiz da 13a Vara Federal Criminal de Curitiba.”

Os advogados de Lula citam ainda, entre outras coisas, as escutas telefônicas de conversas particulares do ex-presidente, inclusive com a então presidenta Dilma, entregues por Moro à TV Globo para que fossem exibidas nos jornais da emissora e reproduzidas indiscriminadamente pela grande mídia. Não deve dar em nada, a julgar pela blindagem que o juiz e a Lava Jato têm no Judiciário para todos os seus atos ilegais, mas não custa pensar em Simão Bacamarte, protagonista de O Alienista, de Machado de Assis.

Na história Bacamarte é um médico que passa a dirigir um hospício em sua cidade. Começa a ver sinais de loucura em cada vez mais pessoas até que enclausura a cidade inteira na chamada casa de loucos. Por fim, solta todo mundo e se enclausura ele mesmo, sozinho, no hospício.  Moro certamente não vai libertar todos que mandou para a prisão, muito menos se enclausurar, mas um desfecho de toda essa crise com ele preso, depois de prender tantos, seria, sem dúvida, machadiano.

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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Maria Aparecida Lacerda Jubé

19/11/2016 - 19h29

Os que faltam, ou os intocáveis? A função da Lava-Jato é deixar o PSDB bem limpinho, pois em um país de analfabetos políticos, o único partido no qual, o maior caçador de corruptos do mundo, não conseguiu encontrar nenhum político corrupto, é porque se trata do partido mais limpo e ético do mundo.


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