Dallagnol torra verba pública para fazer politicagem

Arpeggio – coluna política diária

Por Miguel do Rosário

No dia 29 de dezembro, a seção paranaense do site do Ministério Público Federal publicou um panfleto político contra o congresso nacional, que diz muito sobre a nossa era de golpes.

O texto foi alardeado pelas equipes de marketing (pagas com nosso dinheiro) do MP. O twitter de Dallagnol, que, além de procurador da Lava Jato, faz bico especulando com imóveis do Minha Casa Minha Vida, traz uma mensagem divertida.

A expressão “nós, da Lava Jato” é maravilhosamente emblemática de um país entregue a mais feroz anarquia institucional. Quem é o “nós” da Lava Lato? Os procuradores, o juiz, os delegados, os auditores da receita, os jornalistas amigos?

Se considerarmos, por generosidade, que Dallagnol se referia apenas aos procuradores, então a coisa se torna mais ridícula. Imagina se cada grupo de procuradores, à frente de uma investigação qualquer, agisse como se aquela investigação fosse um partido político, pretendesse representar o interesse nacional e, em plena crise econômica, torrasse milhões de verba pública com o mais barato e raivoso proselitismo político.

Há pouco mais de um mês, Dallagnol visitou a Folha acompanhado de seu marketeiro, de uma firma paranaense conhecida por prestar serviços ao governo do PSDB.

A imprensa corporativa, cúmplice de todo o tipo de bandidagem institucional de que temos sido vítimas nos últimos tempos, jamais se interessou em informar ao contribuinte quanto ele está pagando por essas “campanhas de marketing” do MP.

O artigo do MP contra uma lei do congresso para punir procuradores e juízes que cometem crimes não poderia ser mais desrespeitoso, a começar pelo apelido que o MP dallagnesco dá a lei: lei do terror. Na verdade, é uma lei anti-terrorismo, isso sim. Contra o terrorismo do MP e do Judiciário, que perderam completamente as estribeiras, e passaram a agir abertamente como agentes dos interesses norte-americanos no país, como já ficou bastante claro com essa “cooperação internacional” da Lava Jato com o Departamento de Justiça americana, toda voltada para fazer empresas brasileiras, públicas e privadas, pagarem muitos bilhões de dólares aos americanos, coitadinhos, tão pobrinhos, inocentes, corrompidos e enganados pelas diabólicas empresas brasileiras…

“Nós, da Lava Jato”…

Esse pode ser o nome do partido político de Dallagnol e Sergio Moro. O texto divulgado por Dallagnol poderia ter sido escrito, aliás, pelo monstro de Campinas, tamanha a quantidade de chorume presente.

Num dos trechos, o artigo fala o seguinte:

A afirmação de que essas classes são uma “casta privilegiada” ou “intocável” são falsas e objetivam manipular a opinião pública.

Não são uma casta privilegiada? O que podemos dizer de uma categoria cujos membros ganham, com frequência, quase cem mil reais por mês, mais de cem vezes o valor do salário mínimo de seu próprio país, e algumas dezenas de vezes do que ganham professores e enfermeiros país afora?

Não são uma casta intocável? Diga-me, senhor Dallagnol, quem vai punir os palhaços do MP de São Paulo, por causa daquelas acusações vazias contra Lula? Quem vai punir você, por causa daquele power point criminoso, que fez o MP virar chacota no mundo inteiro, mas que feriu profundamente a ética da instituição, que é paga com nosso dinheiro para salvaguardar nossos direitos e não para solapá-los?

Quanto à história de “manipular a opinião pública”, aí temos um exemplo da mitomania lavajatense. Os caras tem, a sua disposição, trabalhando com eles, para eles, em prol deles, a maior máquina midiática do mundo: todos os grandes jornais, revistas, rádios e TVs estão com eles, levando a sério qualquer power point vagabundo que a Lava Jato produz, fazendo pesquisas de opinião encomendadas, e eles vem insinuar que os críticos das castas é que estão manipulando a opinião pública?

Isso me lembra um trecho do relatório do delegado que pediu a prisão de Dirceu (prontamente atendido, claro, por Sergio Moro). O delegado – típico esbirro desse novo regime autoritário vigente no país desde meados de 2014, quando castas e mídia se uniram em prol de um projeto de poder independente de voto – tentou usar a prisão de Dirceu para perseguir jornalistas que não pactuavam com o golpe, naquele tempo ainda em estado de gestação. No relatório, ele fala que Dirceu montou “rede de jornalistas” para lhe proteger, sem dizer nomes. Em seguida, tentou pegar o Brasil 247, que havia se tornado um projeto jornalístico contra-hegemônico importante. Uma frase me chamou atenção: referindo-se a um email em que Dirceu pede autorização a um amigo para postar seu artigo em seu blog, o delegado afirma que isso era prova de que o ex-ministro ainda tinha grande influência nos meios de comunicação…

Dirceu tinha um blog, que sequer chegou a ter muita audiência.

Se o MPF, ao invés de torrar o nosso dinheiro com essas campanhas de marketing em prol de um código penal fascista, patrocinasse pesquisas para saber quanto ganham procuradores de outros países, descobriria que essa casta só existe aqui. No mundo inteiro, os membros do MP ganham rendimentos modestos e não podem ter nenhum protagonismo político, pela razão óbvia de que não é sua função se meter numa seara na qual, para se ter legitimidade, é preciso antes receber o voto da população e se expor ao contraditório. O MPF e o Judiciário se expõem ao contraditório, ou reagem com truculência a todo tipo de crítica que se lhe faz?

O engraçado é que as frases de efeito do MP do Paraná se voltam contra eles mesmos.

A intenção de criminalizar a atividade específica do Ministério Público e do Judiciário apareceu repentinamente, não foi submetida a uma adequada discussão e não existem episódios recentes que justifiquem sua súbita introdução num pacote anticorrupção. A única novidade é o risco que os poderosos estão sofrendo de responderem por seus crimes e pagarem pelo que fizeram.

Ué, por acaso essa palhaçada fascista que vocês estão tentando impor ao povo brasileiro, essas 10 medidas contra a corrupção, foi “submetida a uma adequada discussão”? Ou não foi uma jogada de marketing, paga regiamente com dinheiro público, que abanou um monte de clichês mentirosos no rosto da população para juntar assinaturas no meio da rua? Houve exposição ao contraditório? Não houve, porque sempre que se tentou debater o tema, essas medidas foram destruídas pelos principais cérebros jurídicos do país. Até mesmo os juristas conservadores, como Gilmar Mendes, fizeram aspérrimas críticas ao caráter profundamente antidemocrático presente em todo esse projeto de lei.

Outro trecho fala que “poderosos estão sofrendo de responderem por seus crimes e pagarem pelo que fizeram”.

A gente sente um calafrio ao ler um troço desses, porque é um texto exatamente igual, até na sintaxe analfabeta, à carta do psicopata de Campinas, que matou a mulher, o filho, e mais dez parentes da mulher.

Os caras ganham mais de cem mil por mês, pagam firmas de marketing para lhes ajudar, e escrevem como analfabetos?

O que estão fazendo com nossos impostos, meu Deus? Enquanto metade das prefeituras do Brasil está falida, esses loucos do MP torram dinheiro público com esse tipo de coisa?

“Poderosos”, Dallagnol?

E os “poderosos” do Ministério Público, do Judiciário e da mídia, como nos defenderemos de suas violências?

E onde esteve o MP durante todo esse tempo que nunca coibiu a concentração da mídia? A família Marinho burla a lei controlando emissoras através de seus familiares, entregando concessões a oligarcas políticos locais, fraudando o fisco, e o MP nunca fez nada contra esses “poderosos”…

Além disso, não sei se os perseguidos pelo MP e Judiciário são tão poderosos assim, visto que são presos sem julgamento, sem condenação, sem provas, e apodrecem na cadeia se não confirmarem as historietas ofertadas pelo MP. A burocracia jurídica se tornou uma espécie de infantaria fascista do golpe, e passou, desde antes do impeachment, a governar o país, levando-o imediatamente a mais completa ruína econômica.

O discurso sobre “poderosos” é uma falácia populista que não cola mais, porque já virou uma contradição. Poderoso é quem tem poder, e quem tem poder é o que pode prender quem deseja, investigar quem deseja, fazer o que quiser, sem ser punido, como o próprio Dallagnol, e tudo isso amparado pelo apoio dos poderosos do dinheiro.

O poder de Lula não veio do Estado autoritário, como é o caso de Dallagnol, não veio dos empresários da Fiesp e dos especuladores sem lei das privatizações, com é o caso dos tucanos, não veio da mídia cevada no regime militar, como é o caso de ambos: veio única e exclusivamente do povo, pelo voto livre e secreto do povo, que acompanhou a história de Lula, que o observa de perto, e que confia nele. Lula está aí, levando uma vida simples, morando toda a vida no mesmo apartamento em São Bernardo. Seu único luxo era frequentar um sítio modesto em Atibaia, propriedade de um amigo de longa data, um sítio que Dallagnol quer transformar em propina em troca de obras de infra-estrutura que custaram centenas de bilhões de reais.

Dallagnol e toda a força-tarefa da Lava Jato são traidores. Arruinaram o Brasil com sua loucura messiânica. Não se combate corrupção da maneira que fizeram. Copiaram o pior modelo de combate à corrupção do mundo, a Mãos Limpas, que destruiu o sistema político italiano, levando ao poder o maior corrupto de todos, Berslusconi, o que fez a corrupção italiana crescer mais que nunca. A mesma coisa fez a Lava Jato: desorganizou a economia e a política brasileiras, e levou ao poder os mais corruptos de todos.

O texto diz que, segundo a lei proposta pelo congresso, “os próprios investigados poderão processar criminalmente os investigadores.”

Por aí se vê como a loucura punitivista faz esse MP surtado perder qualquer noção de democracia.

É claro que são os investigados que poderão processar os investigadores, pela simples razão de que uma lei de abuso de autoridade, que existe no mundo inteiro, visa coibir justamente o abuso da autoridade investigadora contra o cidadão investigado!

Essa lei obrigará procuradores e juízes a não abusarem de suas prerrogativas para perseguir um cidadão, obstruindo sua defesa, fazendo “bullying midiático” contra ele, e ferindo sua dignidade através de ações espetaculares!

A mitologia mentirosa do golpe, da qual Dallagnol é um adepto fervoroso, adora usar o termo “poderosos”, mas, com ele, costuma apenas se referir a políticos eleitos pelo povo (da direita e da esquerda), e não a, por exemplo, potências imperialistas.

Quem é o poderoso, Dallagnol? O político brasileiro ou o lobista norte-americano, que trabalha para fechar empresas brasileiras e ganhar gordas comissões com a valorização das ações das empresas americanas, europeias e asiáticas que herdarão os despojos dessa nova guerra colonial?

O texto do MP termina com uma agressão incrível ao congresso:

O momento clama por medidas contra, e não a favor, da corrupção.

Como assim? Quer dizer que todas as ideias com as quais o filhinho da mamãe Dallagnol e seus coleguinhas do Paraná não concordam são “a favor da corrupção”?

É muito infantilismo!

O Brasil nunca foi uma potência industrial. Mas, em diversos momentos, governos tentaram proteger, salvar, consolidar nossas indústrias.

Vargas e a ditadura militar prezavam a indústria nacional e investiram dinheiro para que ela existisse e se fortalecesse. O golpe de 2016 resolveu destruir as poucas que tínhamos e as melhores: a de petróleo e gás e a de construção pesada.

Medidas “contra a corrupção”? Vai enganar outro, Dallagnol! Após anos de lavagem cerebral do Fantástico e Veja, os coxinhas enfim saíram às ruas contra o “petismo” e contra o “Estado”. Resultado? Angra 3, que estava sendo construída por empresas privadas nacionais, gerando empregos e desenvolvimento aqui no país, agora será terminada por uma estatal envolvida em corrupção até o talo, da China… comunista!

A direita tucano-midiática brasileira é realmente extraordinária! Ela é tão vira-lata, entreguista e corrupta, que prefere entregar nossas maiores empresas para estatais estrangeiras. Estatal de outro país, aí pode.

É muita estupidez, evidentemente, porque esse processo gera uma queda brutal de arrecadação fiscal, já que essas empresas estrangeiras pagarão infinitamente menos impostos no Brasil do que pagavam as empresas brasileiras.

Só a Petrobrás pagava mais de 100 bilhões em impostos, ajudando a reduzir o déficit público.

Suécia, Noruega, Coréia do Sul, China, Alemanha, todos têm grandes estatais de importância estratégica para o desenvolvimento nacional.

Os EUA têm o Pentágono, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, a Nasa, a NSA, a CIA e o FBI, que juntos custam mais ao erário público do que todas as estatais do resto do mundo reunidas, não produzem nada, e mesmo assim são consideradas estratégicas para a segurança econômica e política dos EUA. Estado mínimo sempre foi história para boi dormir contada para os coxinhas do terceiro mundo. Não há Estados mais fortes do que os do mundo desenvolvido.

Aqui no Brasil, seguindo as orientação da Globo, braço midiático do imperialismo, vendemos quase todo nosso patrimônio nacional na era tucana, e agora, com o golpe, estamos já vendendo o pouco que havia restado.

Os golpistas já começaram a depredar o Banco do Brasil e a Caixa. A Petrobrás está sendo vendida a toque de caixa. O déficit fiscal só aumenta, o desemprego explode, o governo não acena com nenhuma proposta construtiva, e quando a mídia entrevista o presidente da república, o repórter da principal emissora do país pergunta a ele como “conheceu a sua esposa”.

Tudo tem que ser feito muito rápido para que o povo não perceba que está sendo roubado. A mídia bloqueia, distorce a manipula o máximo possível, para que o saque de nossas riquezas possa seguir adiante sem ser perturbado.

Feliz 2017!

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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