Empresa de Rocha Loures apoiou ’10 medidas contra a corrupção’ do MPF

Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados

Além da reunião com Deltan Dallagnol na véspera do impeachment de Dilma Rousseff, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures mostrou afinidade com a força-tarefa da Lava Jato com outra medida. Uma de suas empresas está na lista de apoiadores “do projeto ’10 Medidas Contra a Corrupção’, lançado no ano passado pelo Ministério Público Federal.

A informação está no Justificando, na Carta Capital, e a íntegra do texto vai abaixo.

Político e produtor agropecuário. A combinação não é incomum. E também inclui o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), preso neste sábado pela Polícia Federal, herdeiro de fazendas e de empresas no setor. A Nutrimental Indústria e Comércio de Alimentos, por exemplo, aparece em lista com cerca de 2 mil instituições apoiadoras do projeto “10 Medidas Contra a Corrupção“, lançado no ano passado pelo Ministério Público Federal. Loures foi gravado pela JBS, em vídeo, recebendo R$ 500 mil de propina numa mala.

Ex-assessor especial de Michel Temer, ele faz parte de um clã de empresários paranaenses. Segundo o sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, uma família com três séculos de poder político no estado. “Uma das principais receitas da Nutrimental provinha da merenda pública, justamente na época em que Gilda Poli da Rocha Loures era Secretária da Educação do Estado”, observa o pesquisador, em artigo publicado em 2007 na revista Sociologias.

Rocha Loures recebeu a mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud, presidente da J&F, em uma pizzaria em São Paulo. Segundo o delator, ele foi indicado por Temer como intermediário para assuntos da empresa com o governo. Uma das tarefas era a de resolver uma disputa sobre o preço do gás comprado da Petrobras por uma termelétrica do grupo. O valor da propina aumentaria caso ele conseguisse convencer os membros do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, definiu Rocha Loures como o “longa manus” de Temer, ou seja, o mão longa, executor de ordens.

Além da Nutrimental, conhecida pela marca de barra de cereais Nutry, a família de Rocha Loures – a empresa está em nome do pai, homônimo – é sócia da Belarissa Agropecuária, de Londrina, da Ativa Indústria e Comércio de Alimentos, da Newpet Indústria e Comércio de Rações e da Provimi Nutrição Animal, as três de São José dos Pinhais, entre outras empresas no Paraná. No Rio Grande do Sul, ele tem ainda a Pescal Indústria e Comércio de Alimentos. A Nutrimental, por sua vez, é sócia da Ativa e da Rna Indústria e Comércio de Alimentos.

Uma das terras da Nutrimental já foi motivo de disputa com o povo Kaingang, no oeste do Paraná. Em 1992, os indígenas ocuparam terras da empresa contíguas à reserva de Apucaraninha, em Tamarana (PR). A notícia da Folha de Londrina, arquivada no acervo do Instituto Socioambiental (ISA), conta que eles ocuparam a área – o jornal utiliza o verbo invadir – “depois que capatazes da empresa os chamaram de ladrões”.

A Nutrimental cria gado na fazenda Tamarana. Um relatório da Companhia Paranaense de Energia (Copel) mostrava, em 1999, que o reservatório da estatal fazia divisa com a Fazenda Tamarana e com a reserva indígena. A maior parte do domínio fundiário da região, segundo a Copel, pertence à Fundação Nacional do Índio (Funai). A própria empresa está no local em regime de comodato. Um dos problemas que a usina enfrenta é o assoreamento provocado por atividades agropecuárias na região.

Uma pesquisadora da Universidade Federal Tecnológica do Paraná, Hieda Maria Pagliosa Corona, contou em 2013, em artigo sobre o cotidiano de agricultores em São José dos Pinhais, que um deles, fornecedor da Nutrimental, teve duas fortes intoxicações por agrotóxicos “porque os técnicos da empresa exigiam altas doses desses produtos para garantir a qualidade”. “O cheiro de agrotóxico nas verduras que iam pra Nutrimental chegava a dar enjoo e desmaio de cheirar”, afirmou. “E era pra sopinha dos nenês”.

Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.
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