JBS encolhe à metade e exportações de carne para China caem 40% em dois meses

(Da esq. p/ dir. O vice-presidente do Grupo Globo e presidente da Fundação Roberto Marinho, José Roberto Marinho, o vice-presidente do Grupo Globo e presidente do Conselho Editorial, João Roberto Marinho, o diretor-geral da Infoglobo, Frederic Kachar, e o presidente do Grupo Globo, Roberto Irineu, participam da inauguração da nova sede da Infoglobo – Fernando Lemos / Agência O Globo)

Depois de afundar setores de construção civil, petróleo e gás, golpe devasta setor de carne, onde o Brasil é líder mundial.

Segundo notícias veiculadas hoje, as perdas financeiras da JBS com a Operação Carne Fraca fez a empresa encolher à metade.

As exportações de carne para China caíram 40% nos últimos dois meses (abril/maio), na comparação com igual período de 2016.

A estratégia de Joesley Batista, de se tornar um mercenário de luxo da dupla PGR/Globo, armando para cima do presidente da república, representa um risco tão grande para o futuro da própria JBS, que se explica apenas em função da atmosfera de terrorismo político e jurídico criada pela Lava Jato.

Apenas num país virado de cabeça para baixo por um golpe e pelo fim das garantias constitucionais básicas, um empresário tomaria uma decisão tão desesperada.

O que me espanta, além disso, é o silêncio amedrontado dos liberais.

Independente das críticas que se possa fazer à JBS, trata-se de um grupo empresarial consolidado no país, profundamente enraizado nos setores mais dinâmicos da economia nacional, como o de carnes e de seus derivados. A desestabilização de uma organização desse porte traz enormes riscos econômicos e sociais ao Brasil.

Eu acho incrível que a neurose golpista tenha chegado a tal ponto que, não satisfeita de criminalizar a classe política, também promoveu, nos últimos anos, a criminalização das empresas.

Grandes organizações, como a JBS, envolvem os talentos de milhares de profissionais. Reduzi-la a atuação de seu presidente é demonstrar uma visão medieval do que seja uma empresa moderna. Seus negócios se estendem a todas as regiões do país e pelo mundo inteiro, e suas realizações nasceram de um conjunto de esforços, envolvendo governos, instituições financeiras, empresas parceiras, investidores, sócios, e profissionais das mais diversas áreas do conhecimento humano.

Nenhuma empresa cresce sozinha. E nenhuma empresa afunda sozinha. A crise da JBS produzirá efeitos similares àqueles trazidos pela Lava Jato: desemprego, desestruturação, queda de receita fiscal para governos, crise econômica e social.

A operação Carne Fraca seguiu o modus operandi da Lava Jato: foi uma operação articulada em torno de um objetivo político, que era derrubar o governo Dilma. Como o governo Dilma já tinha caído quando a operação veio à tôna, ela passou a ser criticada, de início, pela mídia, mas já era tarde demais. Tornou-se uma operação criada para aterrorizar Joesley Batista e fazê-lo delatar os inimigos desse antro de neuróticos golpistas em que se transformaram instituições como PF, MP e Judiciário.

É inacreditável o grau de estupidez a que o moralismo rasteiro e o golpismo neurótico nos levou, nos fazendo desprezar as empresas que geram empregos, impostos e receita para o país.

A mistura explosiva de populismo penal, planos de derrubar o governo popular, e a obsessão para implementar reformas neoliberais, fez a nossa imprensa assumir posições perigosamente hipócritas.

Prisões de empresários, em função de suas relações com políticos, e sempre com objetivo de arrancar delações que ajudassem a construir a narrativa do golpe, passaram a ser defendidas com argumentos jacobinos (o que é absolutamente esquizofrênico, por parte de setores plutocráticos).

Editorialistas de jornais e mesmo ministros do Supremo, como Luis Roberto Barroso, passaram a festejar que o país esteja, finalmente, “prendendo empresários”.

Ora, há uma razão muito lógica para que nenhum país governado com racionalidade se orgulhe ou se esforce para “prender empresários”, apesar de que, no mundo inteiro, sabe-se que empresários flertam com a ilegalidade.

Se os empresários são responsáveis pela maior parte dos investimentos e da geração de empregos, deflagrar campanhas para prendê-los é uma iniciativa que não ajuda em nada a estimular a economia do país.

Possivelmente, procuradores, juízes e delegados jamais estudaram economia e, portanto, jamais ouviram falar que, sem tranquilidade jurídica e sem garantias de liberdades individuais, não há atmosfera para investimento e, portanto, não há crescimento econômico ou desenvolvimento. E sem desenvolvimento advêm crise econômica, que gera problemas reais que corrompem ainda mais a sociedade.

Além do mais, empresários são, na maioria das vezes, escravos de seus próprios negócios. Não podem fugir facilmente. Tem domicílio próprio, tem vida pública, tem familiares e parceiros estabelecidos no país, de maneira que não há necessidade de trancafiá-los, como fizeram com Marcelo Odebrecht e com todos os empreiteiros e seus executivos, por meses e anos a fio. Empresários são pessoas racionais. Na maioria das vezes, basta multá-los e adverti-los, e eles entrarão na linha.

A mentalidade da prisão a todo custo que tomou conta do Brasil, estimulada por ministros irresponsáveis e covardes de tribunais superiores, é doentia e tende ao fascismo.

Me parece bastante provável que a tortura infligida a Marcelo Odebrecht produziu o desespero de Joesley Batista. A Operação Carne Fraca, por sua vez, fez a JBS entender que o Brasil havia se tornado um país quase inviável para se fazer negócios. A Polícia Federal, por sua vez, transformou-se numa instituição com estrutura, financiamento e salários de primeiro mundo, mas com uma mentalidade de republiqueta de banana do mais baixo nível.

O grau de irresponsabilidade com que a Carne Fraca foi conduzida não tem paralelo na história: um setor estratégico do país, fruto do esforço de muitas gerações, foi exibido ao mundo como uma indústria vagabunda e corrupta, cujos objetivos era enganar o consumidor, de um lado, e pagar propina a políticos, de outro.

***

Abaixo, reproduzo matéria do Globo, para registro histórico.

No Globo

JBS encolhe à metade na Bolsa desde a Carne Fraca, perdendo R$ 15,4 bi
Após delação contra Temer, valor da empresa caiu R$ 8,5 bi

POR RENNAN SETTI 19/06/2017 12:02 / atualizado 19/06/2017 18:15

RIO – Passados três meses desde a deflagração da operação Carne Fraca, a JBS, um dos principais alvos da Polícia Federal na investigação, acumula perda de 47% do seu valor de mercado na Bolsa. Nesse período, a companhia dos irmãos Batista viu evaporarem R$ 15,4 bilhões de sua capitalização na B3 (antiga Bovespa), mais do que vale a administradora de shoppings Multiplan. Mas a perda não se deve apenas à Carne Fraca: desde as denúncias de Joesley Batista contra o presidente, reveladas pelo GLOBO há um mês, a perda foi de 33%, ou R$ 8,5 bilhões —quase uma Usiminas.

Agora, a JBS vale R$ 17,3 bilhões, 65,8% menos que seu pico histórico de R$ 50,6 bilhões, atingido em novembro de 2015. Na avaliação de analistas, os dois incidentes impõem restrições aos negócios da companhia, como dificuldades de geração de caixa e obtenção de crédito.

Por causa da delação premiada, o grupo J&F, que controla a JBS, aceitou pagar R$ 10,3 bilhões em um acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF). A companhia também é alvo de 13 investigações pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

“A companhia gerou alguma liquidez via uma rápida venda de ativos para a Minerva (…). Entretanto, não esperamos que ativos-chave sejam vendidos. Mais tempo e mudanças mais profundas são necessários para melhorar a governança corporativa. Sem esses catalisadores que criariam valor para o acionista e com uma tendência de fragilidade nas receitas pela frente, vemos o risco de a JBS ser uma ‘value trap’ (armadilha para o investidor, em tradução livre; quando, mesmo depreciada, a ação não ganha fôlego para recuperar seu valor)”, escreveram os analistas do JP Morgan em relatório divulgado este mês.

No mercado financeiro, gera desconforto a forma como Joesley Batista antagoniza o presidente Temer, comportamento que pode, temem os analistas, gerar represálias à companhia. No fim de semana, o empresário afirmou que o presidente Michel Temer lidera “a maior e mais perigosa organização criminosa” do Brasil. A declaração foi dada em entrevista à revista “Época”, na qual descreve a relação que mantinha com Temer, os pedidos de propina que teriam sido feitos pelo presidente e seu grupo político e as negociações para os pagamentos ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha depois de preso.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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