Rússia e China trabalham para que o petrodólar adormeça em paz

(crédito imagem: khmerwathanak)

Enquanto as guerras se desenrolaram no Oriente Médio, principalmente pelo interesse estadunidense na geopolítica regional, dois atores tentaram mudar a dependência ao dólar da principal ¨commodity¨ mundial: o petróleo. O início do século foi palco da tentativa de Saddam Hussein(Iraque) e Muamar Al-Gaddafi(Líbia) em comercializar o crudo em euro e tiveram o mesmo fim em enfrentar os Estados Unidos.

Em que pese a ação regional destes líderes, gerou um precedente que agora se apresenta como realidade, desta vez pelo protagonismo de duas potências mundiais: Rússia e China. O primeiro como principal produtor de petróleo e fornecedor do segundo. A China na eminência de assumir como maior economia mundial, bem como ser o maior mercado para petróleo na atualidade. A diferença principal é que Hussein e El-Gaddafi eram importantes produtores regionais, mas os russos e chineses unem o maior produção com a maior demanda do planeta.

É evidente que esta mudança que se aclara, está sendo possível pela conclusão entre os países que seria difícil lograr êxito contra os EUA atuando isoladamente. Vladimir Putin depois de tentar por décadas se integrar ao ocidente, percebeu com o golpe na sua vizinha Ucrânia em 2014 que a OTAN não negará esforços para criar uma nova rota de energia via Síria, Turquia e a própria Ucrânia.

A Rússia que sofre com as sanções impostas pela Europa e Estados Unidos, auferiria grande benefício com a redução do status do dólar e por conseguinte diminuição de sua capacidade em produzir guerra econômica, que comumente utiliza contra adversários.

A China sendo a propulsora da economia do mundo e a maior compradora de crudo, possui capacidade de pactuar com os principais países petroleiros que o petroyuan passe ser a moeda de comercialização da sua produção. Em verdade este processo já se iniciou através da Venezuela, Indonésia e Irã ao operar em contratos futuros em yuan.

A Rússia como parceira da China, atua para convencer a última peça do oligopólio. Em 5 de outubro o rei Salmán Abdelaziz Al Saud se transformou no primeiro monarca saudita a visitar Moscou, gerou neste encontro o lançamento de um fundo de U$S 2 bilhões na área de energia. Os russos e os sauditas que já são sócios no acordo de valorização do barril organizado pela OPEP e produtores independentes, deram seguimento tratativas para enfraquecimento do petrodólar. O maior argumento é que Salmán simplesmente perderia mercado caso não aceitasse, além de ver os chineses cancelarem investimento no setor em sua nação.

A situação da China é de imenso conforto. Suas reservas cambiais montam mais de US$ 3 trilhões, detém US$ 1,3 trilhão em títulos da dívida estadunidense e emitiu semana passada títulos em US$ 2 bilhões apenas para manter a internacionalização de seu mercado financeiro.

A supremacia do dólar serviu apenas para financiar o deficit comercial e fiscal dos EUA via emissão de papel-moeda. A sua economia não possui contas controladas que possam garantir o lastro de sua moeda.

O dólar além de encontrar um ambiente econômico adverso, enfrenta as duas potências asiáticas trabalhando para sua substituição que levaria um redução da demanda da moeda em até US$ 800 bilhões por ano.

Na seara política, o presidente Donald Trump sofre de uma imensa volatilidade ao contrário dos outros dois mandatários. Putin é reeleito constantemente e tem em Dmitri Medvedev um primeiro-ministro fiel. O líder Xi Jinping foi reconduzido nesta semana por mais 5 anos como chefe do Estado chinês pelo partido comunista, indicou os 5 membros do Comitê Politburo, todos com mais de 60 anos o que significa que não poderão lhe substituir no fim deste mandato em 2020.

Trump pode ser obrigado utilizar uma medida drástica, mais comum a governos estadunidenses. Gerar um conflito bélico, que na História sempre trouxe ganhos ao país valorizando sua moeda por ser um porto seguro ao capital mundial pós-guerra. A península coreana lamentávelmente, pode ser esta oportunidade.

Autor:

Tulio Ribeiro é graduado em Economia(UFBA), pós-graduado em História Contemporânea(IUPERJ), mestre em História Social(USS) e doutorando em ¨Ciencias para Desarrollo Estrategico¨ na UBV-Caracas.

Escreveu : A política de Estado sobre recursos do petróleo, o caso venezuelano. Editora Pillares, 2016.

Tulio Ribeiro: Túlio Ribeiro é graduado em Ciências econômicas pela UFBA,pós graduado em História Contemporânea pela IUPERJ,Mestre em História Social pela USS-RJ e doutorando em ¨Ciências para Desarrollo Estrategico¨ pela UBV de Caracas -Venezuela
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