Picaretas do regime de exceção dão palestra em centro acadêmico nos EUA

Em plena segunda-feira de trabalho, um ministro do STF, a procuradora-geral da república, e dois juízes que, supostamente, comandam a “maior operação contra corrupção do mundo”, estavam nos Estados Unidos, num seminário estudantil organizado pela filha do ministro do STF convidado…

Quer dizer, seminário estudantil mas repleto de patrocínios privados, cujos organizadores ganham um bom dinheiro!

Dallagnol já passou pelo centro acadêmico também, em abril deste ano.

É muita bananice, pelo amor de Deus!

Ao mesmo tempo, é tão emblemático! Os picaretas símbolo do regime de exceção, esse arremedo patético e sinistro da ditadura militar, viajando juntinhos, às nossas custas, para um seminário de centro acadêmico nos Estados Unidos!

E a imprensa no Brasil, mentirosa como de praxe, dando notícia de um grande evento em Harvard!

O juiz Marcelo Bretas, que acumula dois auxílio-moradia, apesar de ter quase 7 milhões em imóveis no Rio de Janeiro (fora os de sua família), foi falar sobre “combate à corrupção”.

Não foi perguntado sobre sua sentença nazista contra o almirante Othon Pinheiro, o cientista nuclear brasileiro octagenário condenado (sem provas) a 40 anos de prisão, cuja pena foi ampliada em cinco anos por causa (sic) de seus “bons antecedentes”.

Estava lá Sergio Moro, que condenou Lula sem provas. Tanto os alegres participantes do Seminário, como o juiz, parecem ignorar as pesadas críticas que sua sentença recebeu de juristas do mundo inteiro, entre eles Luigi Ferrajoli. A prisão de Lula produziu comoção mundial, inclusive nos EUA. O presidente do maior sindicato industrial dos EUA, Dennis Willians, assinou um protesto fortíssimo, e ao mesmo tempo embasado em críticas juridicamente fundamentadas, que ele mesmo mandou traduzir para o português, contra a sentença de Sergio Moro. Ou seja, a sentença de Moro virou uma espécie de clássico da indigência jurídica desse momento sombrio vivido pelo Brasil.

Moro se tornou, assim como Joaquim Barbosa durante a Ação Penal 470 (hoje candidato a presidente da república), uma espécie de liderança política da ultradireita. O núcleo social que mais gosta de Moro são os eleitores de Bolsonaro.

Cafona e ignorante, num inglês paupérrimo, Moro citou Theodore Roosevelt como liderança anticorrupção nos EUA: o magistrado conhece ainda menos história do que direito e inglês. Theo Roosevelt ficou conhecido pelo combate ao monopólio da Standard Oil, de John Rockfeller, mas jamais destruiu empregos e empresas. Ao contrário, assim como o segundo Roosevelt, que seria presidente algumas décadas mais tarde, Theo era um progressista (embora apenas para dentro dos EUA, como todos os presidentes progressistas norte-americanos) que tinha planos para gerar empregos dentro dos EUA. Após anos de guerra judicial, a Standard foi dividida em várias grandes empresas, que se transformariam em companhias como Exxon, a Chevron, a Mobil, a Amoco, entre outras, as quais, por sua vez, se tornariam membros do cartel mundial do petróleo, o mesmo cartel que hoje faz a festa no Brasil pós-Lava Jato.

No artigo reproduzido abaixo, de André Araújo, vê-se ainda que Roosevelt praticou uma política externa para beneficiar empresas americanas, ao contrário de Moro, que liderou uma cruzada norte-americana para destruir empresas brasileiras (não é por outra razão que é tão paparicado pelo Tio Sam).

Tínhamos por lá Raquel Dodge, a combativa protetora de tucanos. Se o Brasil tem problemas tão graves de corrupção, como a procuradora geral da república tem tempo para dar seminários em centro acadêmicos dos… Estados Unidos?

Por fim, lá estava o papai Luis Roberto Barroso, o demagogo mais cínico da história da magistratura brasileira! Enquanto protege os ricos, os rentistas, os barões da mídia, Barroso faz o jogo sórdido do populismo penal, que é lavar as mãos para o avanço do golpe judicial sobre a democracia brasileira, usando um discurso do punitivismo fascistóide, que agrada o populacho manipulado pela mídia.

A filha de Barroso é uma das lideranças do centro acadêmico que organizou o seminário.

Barroso é uma figura. Num dia, defende a redução do direito ao habeas corpus e aos recursos antiprisionais, dizendo que o STF não aguenta tanto trabalho. Daí viaja, em plena segunda-feira, para o centésimo seminário de que participa, dessa vez para um organizado pelo centro acadêmico onde sua filha atua. Há pouco, Barroso foi flagrado recebendo quase R$ 50 mil por uma hora de palestra em Rondônia, pagos pelos contribuintes do estado, via TCE. Confrontado pela imprensa, negou. Mas era mentirinha… de Barroso. Não só o pixuleco foi confirmado em documento oficial do TCE, publicado no Diário Oficial do estado, como se descobriu que, em 2017, ele recebeu a mesma quantia pela mesma hora de seminário.

Em sua palestra no centro acadêmico de Harvard, Barroso dedicou-se às suas especialidades como palestrante: falar mal do Brasil e repetir clichês idiotas. Dentre suas sacadas geniais, está a frase que repete qual papagaio: “não dá para não ter vergonha do Brasil”. Frase melancólica, cuja repercussão irônica o ministro não parece perceber: sim, Barroso, dá vergonha ser de um país que tem um ministro do STF como você!

Barroso é mais um moralista sem moral, um eunuco servil ao golpe, um lacaio da Globo (e do imperialismo, embora talvez ele nem se aperceba disso). Membro destacado do regime de exceção e mandarim imperial, leva uma vida sossegada, sem trabalhar, dando seminários em centros acadêmicos e instituições estatais de estados pobres, enquanto Lula, vítima de sua demagogia fascista, mofa numa cadeia em Curitiba.

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No Jornal GGN

Sobre o oba-oba dos seminários de Harvard

por André Araújo

Moro e o Ministro Luis Roberto Barroso aparecem na imprensa brasileira de hoje como palestrantes em um seminário na Harvard Law Wchool, a Escola de Direito da Universidade de Harvard. Em toda a mídia apareceu essa notícia para demonstrar a importância dos palestrantes.

Não é bem assim. O Simpósio onde eles palestraram é na Associação dos Estudantes Brasileiros da Harvard Law School, um centro acadêmico criado por brasileiros entre as quais Luna van Brussell Barroso, filha do Ministro Barroso. Trata-se, portanto, de evento bem menor do que algum patrocinado pela própria Escola de Direito de Harvard como foi divulgado na mídia brasileira. A Escola tem muitos eventos diariamente, há dias com mais de 30 eventos, mas esse Simpósio não é da Escola e sim da Associação, é palco bem diferente porque não é de responsabilidade institucional da Escola.

Nessa entrevista de hoje Sergio Moro mencionou, como referência ao combate à corrupção, o Presidente Theodore Roosevelt. Vamos refrescar a memória. Esse presidente foi o mais imperialista entre os Presidentes americanos do Século XX, criou a política do Big Stick, ou seja, do porrete, para intervir na América Latina protegendo interesse de empresas americanas, invadiu e ocupou a República Dominicana em 1905 e Cuba em 1906. Mas o grande feito dele foi financiar com dinheiro a rodo os secessionistas do Istmo, província colombiana, para que eles se separassem da Colômbia e criassem um novo País, na realidade uma colônia americana, com bandeira americana nos dois lados do Canal, mais de cem edifícios e quarteis, base aérea e naval, a chamada “Zona do Canal ” para lá construir o Canal do Panamá inteiramente controlado pelos EUA, sendo que o dolar americano é até hoje a moeda oficial do Panamá.

Esse Theodore Roosevelt é para o juiz Moro o exemplo na luta contra a corrupção, citado por ele ontem na entrevista a propósito desse Simpósio.

Provavelmente o Presidente americano combatia as gorjetas para a polícia de Nova York, notoriamente corrupta naquele tempo, e no andar de cima operava para as grandes empresas americanas na América Latina, Sergio Moro citou um exemplo infeliz, Theo Roosevelt nunca foi um santo nem para seus patrícios, tomá-lo como paladino da moral é uma piada até para os gringos.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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