Menu
,

A bolsonarização da vida precisa ser interrompida

Por Theófilo Rodrigues Quem já teve a oportunidade de assistir Relatos Selvagens sabe do que estou falando. Dirigido por Damián Szifron e estrelado por Ricardo Darín, o filme argentino, que estreou em 2014, traz seis histórias que em tempos normais poderiam parecer surreais ou bizarras. Mas que, infelizmente, traduzem bem o cotidiano da atual vida […]

10 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Por Theófilo Rodrigues

Quem já teve a oportunidade de assistir Relatos Selvagens sabe do que estou falando. Dirigido por Damián Szifron e estrelado por Ricardo Darín, o filme argentino, que estreou em 2014, traz seis histórias que em tempos normais poderiam parecer surreais ou bizarras. Mas que, infelizmente, traduzem bem o cotidiano da atual vida brasileira. No filme, situações corriqueiras do cotidiano transformam-se rapidamente em bolas de neve onde pessoas comuns tornam-se violentas, corruptas e até mesmo assassinas.

Por óbvio, essa onda de ódio à flor da pele não surgiu como um raio em dia de céu azul. Essa intolerância vem sendo alimentada há algum tempo, pelas beiradas, seja por atores políticos ou, até mesmo, por veículos de comunicação.

No Leblon, bairro hostil para quem usa roupas vermelhas, uma ativista social teve parte de um dedo cortado por uma mordida raivosa de uma simpatizante de outro partido durante a reeleição de Lula, em 2006. Nas chamadas Jornadas de Junho de 2013, no Centro da cidade, militantes com bandeiras de partidos foram agredidos covardemente: não pela polícia, mas por uma parcela dos próprios manifestantes que não aceitavam a presença de partidos políticos nos protestos.

A intolerância não é apenas política, mas também social. Sob a palavra de ordem “bandido bom é bandido morto”, grupos de musculosos frequentadores de academia do bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, passaram a agredir jovens negros suspeitos de assaltos. Os autointitulados “justiceiros” chegaram a acorrentar um menor de idade em um poste, sem roupas. Se o menor era um “bandido”, ninguém sabe. Mas sobre seus agressores não há dúvidas: são bandidos.

O desrespeito tem ainda sua face religiosa. Alguns crentes, que parecem não ter entendido bem os próprios valores de sua crença, passaram a atear fogo em terreiros de religiões de matriz africana, como o Candomblé. O autoritarismo é evidente: “se não professa a mesma religião que eu, então merece ser exterminado”, pensa esse criminoso que diz agir em nome de Deus.

A situação é ainda mais bizarra quando a turba se levanta para linchar um suposto criminoso, mas logo em seguida descobre que acabou matando a pessoa errada, um inocente. Foi o que aconteceu nos últimos anos em Santos, no Guarujá e no Maranhão, entre tantos outros casos. Quem é o criminoso nessa história?

Democracia não é consenso, como preconizam alguns, mas sim o reconhecimento da existência do conflito. Ocorre que esse conflito não pode ser sinônimo de intolerância, não pode significar o extermínio do outro. Faz parte da democracia o reconhecimento do conflito e a consequente organização de regras e procedimentos para o convívio de adversários.

Nesse registro, regras e procedimentos são palavras-chave. Quem age em nome de suas convicções, mas sem provas, em busca do extermínio do inimigo, age contra a justiça e a democracia. Esse inimigo pode ser um partido, uma religião, ou um menor de idade pobre e sem direitos. Junto com o seu extermínio, morre a justiça e a democracia.

Infelizmente, parece que caminhamos no sentido inverso ao do aprofundamento da democracia quando um candidato que promove a intolerância e o ódio contra minorias aparece em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais para a presidência do país.

Mas nem tudo estará perdido enquanto houver quem acredite na tolerância ao diferente e na igualdade social e econômica.

Theófilo Rodrigues é professor do Departamento de Ciência Política da UFRJ.

Artigo publicado originalmente no jornal Bafafá.

Apoie o Cafezinho

Theo Rodrigues

Theo Rodrigues é sociólogo e cientista político.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Castelhano Mamparago

25/07/2018 - 19h34

Não consegui compreender como esse artigo comete erros tão primários. O pior de todos é dizer que “um candidato que promove a intolerância e o ódio contra minorias aparece em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais para a presidência do país”. Como? Bolsonaro é evidentemente a figura visada, tanto que o título do post fala em “bolsonarização”. Okay. Bolsonaro está “em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais para a presidência do país”? Que bobagem é essa?? Bolsonaro não está. Nem por ênfase dramática, força invocatória, ou seja o que for é possível dizer tal asneira. Ela não serve pra nada, aliás, na lógica do artigo. Poderia citar outras baboseiras, mas me restringirei a apenas uma: Em 2013 no Centro do Rio “militantes com bandeiras de partidos foram agredidos covardemente: não pela polícia, mas por uma parcela dos próprios manifestantes que não aceitavam a presença de partidos políticos nos protestos”. Por favor, não diga tal barbaridade. A violência da PM foi tanta em 2013, reprimiu tanto o livre direito de manifestação, foi tanta pancada, violações, ferimentos com bala de borracha, que caiu o comandante da PM.

Nostradamus

25/07/2018 - 19h24

Traz a bacia… isso… paradinha… Rareou!

Thiago Melo Teixeira

25/07/2018 - 10h42

Hoje presenciei um acontecimento no metro patético. Duas pessoas, um homem e uma mulher iniciaram a famosa discussão do empurra empurra, horário de pico, vagão lotado. Tubem bem por. A moça era a mais exaltada, pois segundo ela, o rapaz estaria forçando a mais da conta. Normal até então. Na parada seguinte, a mulher resolve empurrar o rapaz de volta, este retorna e agride a moça com murro, inicia-se então as vias de fato. Vagão repleto de homens ao redor da confusão, e ninguém faz nada, assistem a agressão mútua. Eu estava afastado e não aguentei: “Gente, cheio de marmanjo ai, separem a briga pelo menos”. Ouvi então piadinhas do tipo: “Tem um delegado no vagão”. Enfim, os dois cansam de brigar e a moça resolve segurá-lo para o conduzir a delegacia. Pronto, a Bolsonarização toma conta do Vagão, Homens e Mulher, isso mesmo, mulheres, tomam o lodo do Homem, e começam a iniciar um linchamento coletivo a moça: “Vai de Uber”. “Preconceituosa” (no calor da briga a moça chamou o rapaz de mariquinha, devido seu tom de voz afeminado). “Vamos todos aqui do vagão empurrar você”. Ai não, a partir dai entrei no bate boca: “Quem encostar na moça vai se ver comigo, é fácil escolher o lado mais fraco para atacar”. Para a minha surpresa, as mulheres do vagão eram as mais engajadas em defender o homem e acusar a mulher. Na saída do vagão, na Luz, com os segurança da estação foram ouvir as partes, a TODOS, passavam e diziam: “Quem empurrou foi ela”. “Quem começou foi ela”. “A moça que tá errada”. “Mentira dela”. Enfim, o rapaz sai como herói sumindo no meio da multidão, e a moça ficou lá a ver navios, linchada moralmente, agredida e sem o anteparo dos seguranças da estação. Resumindo, fiquei impressionado com a BOLSONARIZAÇÃO da classe trabalhadora paulistana.

    André

    25/07/2018 - 14h01

    Que triste.

    Carcará

    25/07/2018 - 15h13

    Insisto… Bolsonaro é consequência e não causa da banalização da vida. Mas começa pela indiferença, sim, com o massacre dos direitos do outro como faz a Globo, subtraindo o direito daquele cidadão ser chamado de médico e pelo nome e não de doutor bumbum, mesmo que esteja sendo acusado de algum ilícito… A coisa é mais sutil… vem desde a escravidão. Não tem nada a ver com Bolsonaro. E arrisco a dizer que as mulheres foram mais sensatas por não gostarem do rapaz ser chamado de mariquinha né ?E não coloca a classe trabalhadora no meio da história para aumentar o preconceito não senhor! O que é descrito no artigo além da banalização da vida é o fascismo. Que começa exatamente com a mentira, a distorção das coisas. O fenômeno é muito bem descrito no livro ANATOMIA DA DESTRUTIVIDADE HUMANA do saudoso psiquiatra da Escola de Frankfurt Eric Fromm.

Luiz

25/07/2018 - 10h36

Bolsonaro é uma criação da Globo e da milício do Rio.É preciso educar esse país para que não continuemos a assistir os tiriricas, Romários, Bolsonaro, Magnos Malta, Cunhas, Aécios, Anastasias, Perrelas e assemelhados reunidos como ratos no parlamento. Chega desse tipo de gente.

    Thiago Melo Teixeira

    25/07/2018 - 11h52

    Ana Amélia, Medeiros …

Carcará

25/07/2018 - 09h59

Uma pessoa entendida de política não pode, numa quadra dessas, vir fazer ( embora de escanteio, de forma ingenuamente involuntária ) propaganda da violência e muito menos dizer de o bolsonazi está ganhando as pesquisas, em primeiro lugar. O Blog, inclusive, erra ao divulgar essa foto dando destaque a essa besta com o dedo em riste bem acima de uma deputada da esquerda !!! São detalhes! São detalhes! São detalhes! Que fazem a diferença. Esse alarde é por demais aloprado porque não se insere num contexto internacional nem do capitalismo!!! Não é bolsonarização mas banalização da vida. E vem de mais tempo.
Por isso mesmo que nós recomendamos que se fale muito e bem dos nossos candidatos e nada dos nosso adversários. Isso é básico. Inclusive para cirista e petistas… vão arrumar votos para si, falem bem dos seus candidatos, propostas, não entrem nestas querelas de divisões da esquerda alimentadas por psicoses múltiplas.
Lula livre!

    Jessé Guimarães

    25/07/2018 - 17h11

    Observei os seus comentários e no final do segundo. você não foi nem subliminar. Foi muito direto. Concordo em algumas coisas. Realmente o Haddad, e olha que tenho a maior admiração por ele, deveria arranjar votos, para não perder do Dória no primeiro turno. Mas política tem destas coisas. Em 1989 se ele não dividisse a ala progressista com o Brizola, que tinha clara precedência, e ele Lula, parece pelo que li, reconheceu isto depois, o Collor não teria sido eleito. Hoje ele está preso. Injustamente preso, mas está preso. Não se pode brigar com fatos Não há psicose múltipla. Há fatos reais, que breve nos vão atropelar. Quem viver verá.

      Carcará

      25/07/2018 - 17h53

      Existem múltiplas determinações. Para muito além das psicoses múltiplas. E escapam a vontade individual ou de partido muito mais ainda de supostas estratégias. O moço tão cobiçado não vai ser o candidato indicado por Lula. É isso que quer o mercado e a Globo. O Papel dele é bem outro. É um fato inegável que Lula está preso mas, que não será candidato não. Nem é fato ainda. O que já está atropelando a direita é a enxurrada de votos. Não se pode brigar, engraçada forma de desencorajar 54 milhões de votos roubados, de uma nação saqueada, de um país golpeado… sim… engraçada forma de dizer… ninguém reaja, ninguém reclame, os fatos vão nos atropelar… ai que medinho psicótico! isso sim! Tem povo nestas ideias ? não!!! Lula livreeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!


Leia mais

Recentes

Recentes