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Celso Rocha Barros: Bolsonaro representa facção da tortura das Forças Armadas

Bolsonaro representa facção das Forças Armadas que ganhou poder com a tortura Votar como Ulysses, ou contra Ulysses 22.out.2018 às 2h00 Jair Bolsonaro não representa o regime de 64. Representa sua dissidência extremista, que revoltou-se contra a abertura de Geisel. O ídolo de Bolsonaro não é o moderado Castelo Branco, que provavelmente gostaria mesmo de […]

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Bolsonaro representa facção das Forças Armadas que ganhou poder com a tortura

Votar como Ulysses, ou contra Ulysses

22.out.2018 às 2h00

Jair Bolsonaro não representa o regime de 64. Representa sua dissidência extremista, que revoltou-se contra a abertura de Geisel. O ídolo de Bolsonaro não é o moderado Castelo Branco, que provavelmente gostaria mesmo de ter restaurado a democracia. Não é o Geisel, que matou gente, mas deu início à restauração. Não é nem, vejam só, o Médici.

O ídolo de Bolsonaro, o autor de seu livro de cabeceira (segundo ele mesmo disse no Roda Viva), a entidade a quem Bolsonaro consagrou o impeachment, é o torturador Brilhante Ustra. Com um santo protetor desses, não impressiona que Temer tenha dado o azar de receber o Joesley.

O culto a Ustra é lepra moral, mas não é só isso: é uma reivindicação de linhagem. Na convenção do PSL, Eduardo Bolsonaro comparou Ustra a Janaina Paschoal, possível candidata a vice na chapa de seu pai.

Janaina se disse chocada com a comparação, e ultra-bolsonaristas como Olavo de Carvalho pediram sua cabeça. O vice foi Mourão, que tem Ustra entre seus heróis. O discurso de Eduardo Bolsonaro foi um teste de lealdade.

Bolsonaro representa, enfim, a facção das Forças Armadas que ganhou poder quando a tortura se tornou parte importante do regime. Bolsonaro é o porão.

Leiam o Gaspari: os militares e policiais que controlavam do porão logo se tornaram bandidos comuns, que os generais temiam que instaurassem a baderna na hierarquia. Aproveitaram-se do direito de atuar à margem da lei para ganhar dinheiro. Um célebre torturador se tornou um dos chefes do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Outros se envolveram com esquadrões da morte, aquela turma que cobra dez para matar bandido e vinte para matar seu cunhado e mentir que ele era bandido.

Essa turma não queria voltar a ser guarda da esquina, não queria voltar a ser só capitão de Exército. Compraram briga contra a abertura de Geisel. Perderam.

Ainda houve, entretanto, tempo de Geisel reconhecer o velho inimigo de cara nova: em entrevista
ao CPDOC [Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea da FGV], disse que Bolsonaro era um “mau militar”.

Bolsonaro não é o anti-Lula. Bolsonaro é o anti-Geisel.

Como combater o porão? Aprendendo com quem de fato já o venceu.

No segundo turno de 1989, Ulysses Guimarães deixou claro que apoiaria Lula se recebesse um telefonema dos petistas. O telefonema não veio. Lula até hoje se arrepende disso, e afirma que foi um dos maiores erros de sua vida. Foi mesmo. Só por essa, Lula já mereceu perder.

Lembrem-se: Ulysses era muito mais conservador do que a turma que hoje posa de “centro” no Brasil. Lula em 1989 era muito, mas muito mais radical do que Haddad jamais será. Collor era uma ameaça incomparavelmente menor do que Bolsonaro à democracia.

Mas Ulysses tinha os instintos morais certos, e sabia do que devia sentir ódio e nojo.

Ulysses não era um idealista ingênuo. Se Lula vencesse, Ulysses jogaria para moderá-lo, e jogaria pesado.

Era uma raposa como poucas, não um desses Cunhazinhos one-hit wonders que só fazem sucesso por um ano.

Jogaria contra o radicalismo petista com Congresso, mídia, Judiciário, o que mais estivesse à mão.

Mas na hora em que foi preciso, Ulysses apoiou Lula. Não fugia de guerra. Desse, o porão tinha medo.

Esse, sim, é mito.

Daqui a uma semana, só haverá duas opções: votar como Ulysses, ou votar contra Ulysses.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Israel Just da da rocha Pita

25/10/2018 - 06h45

Quem tem que dizer que Bolsonaro não representa o golpe de 1964 são os comandantes das forças armadas, e eles estão caladinhos da silva, quem cala consente ele é sim o poder militar. Agora esta critica constante ao lula e ao PT é trabalho de bolsonaristas, Que não cometeu erros e ainda comete? O momento é de união para vencer o pior que nos esta ameaçando.

Paulo

24/10/2018 - 19h23

Pobre Ulisses Guimarães! Um estadista que não teve chance de governar. Que o mar o tenha “sepultado” em paz!

Jose carlos

24/10/2018 - 14h48

Falácia de Bolsonaro: ele é a favor das cotas sociais, mas vai privatizar as universidades federais.
Não gosta de mulher, não gosta de negro, não gosta de homossexuais, não gosta de nordestinos.
E governará para quem, então ?
Só para os brancos MACHOS.
Mulher vai se ferrar.

    CAR-POA

    24/10/2018 - 19h40

    “machos” brancos e bombados ,o verme vive tentando matar o homosexual que carrega dentro.
    Aliás essa turma da extrema direita despreza mulher .Psicopatías varias ,florescem no meio dessa turma de ratos de esgoto.
    MAS ELES MORREM TAMBÉM,NÃO É SÓ DO NOSSO LADO QUE SANGRAMOS .
    A “CORAGEM” DOS “machos” brancos e bombados DESAPARECE AO MENOR SINAL DE REAÇÃO,E AÍ ELES MOSTRAM QUE SABEM CORRER.


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