As agruras do poder

Não é necessária uma longa explanação para demonstrar os benefícios de, na política, se estar no poder. Basta dizer que o poder dá a legitimidade e os meios para que um determinado grupo aplique suas políticas e seu projeto.

Há, no entanto, como tudo na vida, o outro lado.

O presidente eleito Jair Bolsonaro, muito embora não tenha tomado posse ainda, já experimenta o outro lado de deter o poder.

Ser oposição, afinal, é muito mais fácil. Ainda mais uma oposição ao estilo Bolsonaro e em tempos de crise e de antipetismo: bastaram algumas frases decoradas para galvanizar as massas insatisfeitas com os rumos do país.

Ser governo, por seu turno, são outros quinhentos.

Há que se conciliar interesses dos mais diversos, garantir o funcionamento da máquina pública, trabalhar para resolver as demandas do país, e por aí vai.

Bolsonaro na oposição era uma metralhadora giratória. Atirou sem cessar nos alvos fáceis de sempre.

Ao sagrar-se vencedor no pleito eleitoral, torna-se ele o alvo. Passa de estilingue a vidraça. Não adianta mais dizer que vai mudar issudae, talkey? O ex-capitão vai ter que mostrar serviço.

Como seu projeto é totalmente voltado para o 1% – o trabalhador deve se contentar com menos direitos se quiser ter emprego, não é mesmo? -, parece ser questão de tempo para que a massa que elegeu Bolsonaro se volte contra ele.

Uma boa demonstração prática do que significa esse reposicionamento – da oposição ao poder – está nos comentários das notícias dos grandes portais. Tradicional reduto do senso comum conservador/reacionário, a famigerada área de comentários pode estar mudando de perfil ideológico.

Este que vos escreve constatou esse fenômeno em duas notícias dos últimos dias: a de que Eduardo Bolsonaro falou que o Brasil não será mais um país socialista (para desgosto do camarada Temer, suponho) e a de que Bolsonaro, o pai, disse que é difícil ser patrão no Brasil (imagine ser trabalhador).

Os comentários disparadamente mais curtidos no post em que essas matérias (se não me engano, as duas de O Globo) foram compartilhadas no Facebook eram todos criticando, inclusive com algumas belas tiradas irônicas, os Bolsonaro.

Não será fácil, para quem sempre foi estilingue, acostumar-se a ser vidraça.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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