Responsabilidades

O governo Bolsonaro derrete como queijo no microondas. A velocidade com que o governo empossado há menos de 5 meses perde apoios é possivelmente um recorde mundial.

As manifestações convocadas pelos alucinados que ainda apoiam o governo são fortes candidatas ao “Não me deixem só” 2.0. Fernando Collor fez esse dramático apelo à nação e a resposta foram massivos protestos populares por sua queda.

Janaína Paschoal chutou o balde – parece que até saiu do grupo de Whatsapp do PSL. O MBL diz que não tem nada com isso. O Estadão escreveu, em editorial do fim de semana, que “Bolsonaro vem demonstrando um chocante despreparo para o exercício do cargo”.

Mas peraí, chocante?

Bolsonaro foi eleito dizendo com todas as letras que não entendia nada de economia. Sem conseguir formular qualquer raciocínio ligeiramente sofisticado sobre projetos para o país. Era “liberalismo”, “desburocratização” e mais alguns chavões toscos. Só.

Nem os chavões, a propósito, Bolsonaro consegue mais repetir. Nos EUA, o presidente disse, gaguejando, que agora é “Brasil e Estados Unidos acima de tudo e Brasil acima de todos”. Deus aparentemente foi rebaixado e Trump foi colocado em seu lugar.

Com o pretexto da facada, Bolsonaro recusou-se a debater com os demais candidatos durante a campanha, por motivos óbvios.

O Estadão não tinha percebido o desértico vazio mental de Bolsonaro? Pensou que os debates com o Inri Cristo e com o Agnaldo Timóteo no programa da Luciana Gimenez o qualificavam para o posto máximo do país?

É evidente que não.

O Estadão e a grande mídia são, provavelmente, os maiores responsáveis por termos um completo desqualificado dirigindo o Brasil em seu momento mais crítico. Apostaram na criminalização da política – especialmente da esquerda – e elevaram o populismo penal a níveis estratosféricos. O resultado não poderia ser muito diferente do que está aí.

Um desavisado que assista as matérias da Globo dos últimos dias pode pensar que os Marinho são entusiastas do investimento público em educação. Ora, façam-nos um favor e sejam minimamente honestos. A Globo só não apoia os cortes na educação porque sabe que Bolsonaro muito mais atrapalha do que ajuda seus planos para o Estado brasileiro: cortes e mais cortes, a não ser na gorda parcela do orçamento público que acaba nas mãos do rentismo. 

Como a Globo não é de fazer favor – e muito menos de ser minimamente honesta -, faríamos bem se voltássemos a focar, nos atos de rua e na militância diária, na grande mídia. Bolsonaro é uma escada da qual se serviram para tentar abocanhar o poder. Cedo ou tarde ele cairá, mas os planos dos barões da imprensa para o país, os quais se confundem com os do imperialismo, seguirão firmes e fortes, seja com Mourão, Moro ou Doria. 

Não esqueçamos jamais dos responsáveis pelo surreal estado de coisas em que estamos metidos.

É importante também fazermos o balanço do campo progressista.

A jogada de Cristina Kirchner, que lidera as pesquisas na Argentina mas abriu mão da cabeça de chapa para ser vice de Alberto Fernández, com quem chegou a ter desavenças políticas, é uma dura lição para Lula e para o PT.

Lula também liderava as pesquisas, é certo, mas, assim como Kirchner, é alvo de uma perseguição judicial e de uma alta rejeição na sociedade. É evidente que abrir mão da cabeça de chapa para alguém que não atrai a mesma rejeição aumenta consideravelmente as chances de vitória. 

Ainda há o agravante de que Lula está preso, enquanto Cristina permanece solta, ao menos por enquanto. Li alguns comentários que tentaram desqualificar a comparação apontando que Alberto Fernández é do mesmo partido de Cristina, enquanto Ciro não é do PT.

Bom, se a ideia fosse garantir a vitória do campo progressista sobre a direita, o que menos importava era qual partido seria o cabeça de chapa, não é mesmo? A não ser que outras questões estivessem colocadas, como a hegemonia no campo da esquerda, por exemplo. Parece ser o caso. 

Na semana passada, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira visitou Lula na prisão. Em um relato divulgado no Facebook, Bresser-Pereira disse que Lula “Conta que muitas vezes aconselhou o Chávez, que era uma pessoa ótima, mas cabeça-dura. Ouvia os conselhos com atenção, mas não os seguia.”

Com todos os problemas venezuelanos, o sucessor de Chávez, Maduro, resiste bravamente ao assédio criminoso dos EUA e de seus asseclas. Já o Brasil está nas mãos de um protofascista. Lula está preso.

Onde quer que esteja, Chávez deve estar agradecendo aos céus por não ter ouvido os conselhos do Lula. 

 

 

 

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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