OEA, um instrumento servil da guerra híbrida de Washington

Foto do representante brasileiro em reunião da OEA. Foto: Flickr da OEA.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) sempre foi acusada de ser submissa aos interesses políticos de Washington. Por vezes, porém, as contradições existentes nos próprios EUA, mais a mudança na correlação de forças de seus membros, permitiram que ela ganhasse alguma autonomia.

Entretanto, a ascensão de governos alinhados nos últimos anos, em especial a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições brasileiras de 2018, o presidente mais subserviente aos ditames da Casa Branca que jamais governou o país (até a ditadura militar teve mais altivez), ajudaram decisivamente a transformar a OEA numa subsecretaria do Departamento de Estado do governo americano.

A nota da OEA emitida no dia 16 de outubro é um exemplo caricatural do que vem se convencionando chamar de “guerra híbrida”.

Diz a OEA:

As correntes atuais de desestabilização dos sistemas políticos do continente têm origem na estratégia das ditaduras bolivariana e cubana, que buscam novamente se reposicionar, não através de um processo de reinstitucionalização e redemocratização, mas através de sua antiga metodologia de exportação de polarização e más práticas, mas essencialmente financiam, apóiam e promovem conflitos políticos e sociais.

Ora, acusar governos pobres, falidos, que mal conseguem resolver seus próprios problemas políticos  e econômicos domésticos internos de terem a capacidade de mobilizar enormes massas de cidadãos em vários países do continente sul-americano é tão surreal que tem um ponto positivo: a nota revela facilmente as intenções (nem tão) ocultas de quem a escreveu.

Se a “conspiração  cubana e venezuelana” que, segundo a OEA, estaria por trás das manifestações na Colômbia, Chile, Equador, Argentina, é uma teoria infinitamente imbecil e irreal, a teoria de que Washington tentará, a partir de agora, atribuir aos interesses cubanos e venezuelanos qualquer movimentação progressista, qualquer revolta popular anticapitalista e/ou antineoliberal, nos parece bastante plausível!

***

Abaixo, a íntegra da nota, em tradução livre.

Comunicado da Secretaria-Geral da OEA
16 de outubro de 2019

As correntes atuais de desestabilização dos sistemas políticos do continente têm origem na estratégia das ditaduras bolivariana e cubana, que buscam novamente se reposicionar, não através de um processo de reinstitucionalização e redemocratização, mas através de sua antiga metodologia de exportação de polarização e más práticas, mas essencialmente financiam, apóiam e promovem conflitos políticos e sociais.

As “brisas bolivarianas”, a que o presidente da assembléia nacional ilegítima constituinte bolivariana se referiu, trouxeram desestabilização, violência, tráfico de drogas, morte e corrupção. O custo mais alto foi pago pelo próprio povo venezuelano, mas os países do continente também estão agora pagando um preço alto pela crise causada pela ditadura venezuelana.

A brisa bolivariana não é bem-vinda neste hemisfério. Condenamos veementemente a ameaça de exportar más práticas e desestabilização para a Colômbia feitas por essa pessoa na ditadura bolivariana.

A estratégia de desestabilização da democracia através do financiamento de movimentos políticos e sociais distorceu a dinâmica política nas Américas. Durante anos, a ditadura venezuelana, com o apoio da ditadura cubana, institucionalizou na região estruturas sofisticadas de cooptação, repressão, desestabilização e propaganda na mídia. Por exemplo, o financiamento da ditadura venezuelana a campanhas políticas tem sido uma das maneiras eficazes de aumentar a capacidade de gerar conflitos.

A crise no Equador é uma expressão das distorções que as ditaduras venezuelana e cubana instalaram nos sistemas políticos do continente. No entanto, o que os eventos recentes também mostraram é que a estratégia intencional e sistemática das duas ditaduras para desestabilizar as democracias não é mais eficaz como no passado.

A Secretaria-Geral da OEA reafirma sua obrigação de proteger os princípios democráticos e os direitos humanos e de defendê-los onde estão ameaçados. Também permanece disponível aos Estados membros em seus esforços para enfrentar os fatores de desestabilização organizados pela ditadura venezuelana e cubana.

Referência: C-081/19

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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