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Covid-19: novo estudo indica que ignorância de Bolsonaro ajudou a destruir empregos, negócios e vidas

Agora temos um estudo sério, revisado, publicado numa prestigiada revista médica (a Lancet), provando que as medidas de isolamento social foram essenciais para a contenção do vírus na China continental e em Hong Kong. Entretanto, o estudo vai além. Ao analisar as diferenças entre as políticas adotadas em Wuhan, local original do vírus, e em […]

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Autoridades políticas conscientes e população seguindo rigorosamente as recomendações médicas ajudaram a China a voltar mais rapidamente à normalidade, salvando empregos e vidas. Foto: Hong Kong 04/02/2020 Anthony Kwan/Getty Images

Agora temos um estudo sério, revisado, publicado numa prestigiada revista médica (a Lancet), provando que as medidas de isolamento social foram essenciais para a contenção do vírus na China continental e em Hong Kong.

Entretanto, o estudo vai além. Ao analisar as diferenças entre as políticas adotadas em Wuhan, local original do vírus, e em Hong Kong, o estudo mostrou que, em Hong Hong, região que goza de algumas prerrogativas democráticas que não existem no continente, as medidas de isolamento social foram menos severas e menos economicamente traumáticas porque foram substituídas, em boa parte, por mudança de hábitos na população, que passou, por exemplo, a evitar aglomerações, usar maścaras, manter distanciamento social de outras pessoas, entre outros cuidados.

Com isso, Hong Kong pode conter a disseminação do vírus com grande eficiência, e  voltar mais rapidamente à normalidade, salvando muitos empregos e negócios.

Importante observar que essas medidas culturais não eliminam a necessidade de medidas mais severas de isolamento social. O que o estudo prova é que, se as medidas de isolamento forem respeitadas e compreendidas pela população, elas serão muito mais eficazes, e permitirão que haja uma gestão mais flexível ao longo do tempo, em virtude do próprio sucesso em vencer o vírus.

A citação da revista e essas observações foram feitas pelo infectologista Atila Iamarino, em seu twitter:

Qual a lição para o Brasil?

Bem, o presidente Bolsonaro, que vem, desde o início da pandemia no Brasil, participando ostensivamente de aglomerações, minimizando seus riscos e perigos, sempre tentando jogar a população contra governadores e prefeitos que procuraram adotar as medidas recomendadas para conter a disseminação do vírus, trabalhou na verdade para que o país ficasse mais tempo à mercê da epidemia, atrasando ainda mais a volta ao trabalho.

Caso Bolsonaro, desde o início, tivesse seguido a orientação da comunidade científica, o Brasil poderia já estar planejando a volta à normalidade de sua economia.

Em resumo, Bolsonaro jogou ao lado do vírus e, com sua ignorância, contra a economia brasileira.

Desde a chegada da pandemia ao Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, contra toda a comunidade científica do mundo, tem atacado, sistematicamente, as medidas de isolamento social.

Ontem mesmo, em seu bate papo matinal com apoiadores em frente à Alvorada, disse que “70% dos brasileiros vão pegar o vírus”, e que, se morrer gente, “é a vida”.

O raciocínio de Bolsonaro é difícil de acompanhar. Esse argumento dos 70% de infectados  foi rechaçado pelo novo ministro da Saúde, Nelson Teich, em sua primeira fala, quando apareceu ao lado do presidente.

Teich explicou que essa previsão de que “70%” contrairão o vírus é um absurdo lógico, porque implicaria em mais de 150 milhões de infectados, o que, pelas taxas de letalidade e hospitalização do Covid-19, produziria uma tragédia sem precedentes no país.

Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, imagine se a China pensasse assim. Teria bilhão de infectados em semanas?

Se a China fosse liderada por um insano como Bolsonaro, o país estaria destruído, e o mundo testemunharia a maior tragédia sanitária, econômica e social da história da civilização humana.

Todos os técnicos tem explicado, repetidamente, que as medidas de contenção social visam proteger, sobretudo, os sistemas nacionais de saúde, evitando colapsos que causariam enorme instabilidade e perda de vidas.

O presidente tenta justificar seu malabarismo lógico, baseado puramente em sua colossal ignorância, como “preocupação com a economia”.

A ignorância de Bolsonaro apenas tem ajudado a destruir empregos, negócios e vidas no Brasil.

Autoridades políticas conscientes e população seguindo rigorosamente as recomendações médicas ajudaram a China a voltar mais rapidamente à normalidade, salvando empregos e vidas.

***

Clique aqui para baixar o estudo original, em inglês.

Tradução do trecho inicial do estudo:

Avaliação de impacto de intervenções não farmacêuticas contra a doença de coronavírus 2019 e influenza em Hong Kong: um estudo observacional

Uma série de medidas de saúde pública foi implementada para suprimir a transmissão local da doença por coronavírus 2019 (COVID-19) em Hong Kong. Examinamos o efeito dessas intervenções e mudanças comportamentais do público na incidência de COVID-19, bem como nas infecções pelo vírus influenza, que podem compartilhar alguns aspectos da dinâmica de transmissão com COVID-19.

Métodos

Analisamos dados de casos COVID-19 confirmados em laboratório, dados de vigilância de influenza em pacientes ambulatoriais de todas as idades e hospitalizações por influenza em crianças. Estimamos o número diário de reprodução efetiva (Rt, na sigla em inglês) para COVID-19 e influenza A H1N1 para estimar alterações na transmissibilidade ao longo do tempo. As atitudes em relação ao COVID-19 e as mudanças no comportamento da população foram revisadas por meio de três pesquisas telefônicas realizadas em 20 a 23 de janeiro, 11 a 14 de fevereiro e 10 a 13 de março de 2020.

Constatações

A transmissibilidade do COVID-19 medida pela Rt permaneceu em aproximadamente 1 por 8 semanas em Hong Kong. A transmissão da gripe diminuiu substancialmente após a implementação de medidas de distanciamento social e mudanças no comportamento da população no final de janeiro, com uma redução de 44% (95% CI 34–53%) na transmissibilidade na comunidade, de uma Rt estimada em 1.28 (95% IC 1 · 26–1·30) antes do início da escola fecha para 0 · 72 (0 · 70–0 · 74) durante as semanas de fechamento. Da mesma forma, uma redução de 33% (24-43%) na transmissibilidade foi observada com base nas taxas de hospitalização pediátrica, de um Rt de 1 · 10 (1 · 06–1·12) antes do início do fechamento da escola para 0·73 ( 0·68–0·77) após o fechamento da escola. Entre os entrevistados nas pesquisas, 74,5%, 97,5% e 98,8% relataram usar máscaras ao sair e 61,3%, 90,2% e 85,1% relataram evitar lugares lotados nas pesquisas. 1 (n = 1008), 2 (n = 1000) e 3 (n = 1005), respectivamente.

Interpretação

Nosso estudo mostra que intervenções não farmacêuticas (incluindo restrições nas fronteiras, quarentena e isolamento, distanciamento e mudanças no comportamento da população) foram associadas à transmissão reduzida do COVID-19 em Hong Kong, e também provavelmente reduzirão substancialmente a transmissão da influenza no início Fevereiro de 2020.

Introdução

A primeira onda da doença de coronavírus 2019 (COVID-19) na China, fora da província de Hubei, foi abordada com a implementação de medidas agressivas de saúde pública. Essas medidas dependiam fortemente de restrições maciças de mobilidade, triagem universal da febre em todos os ambientes e vizinhança o distanciamento social baseado na família, baseado em famílias, imposto por grandes equipes de trabalhadores comunitários, bem como a implantação generalizada de aplicativos de mídia social baseados em inteligência artificial e o uso de big data. Se algumas ou todas essas medidas seriam aceitáveis ​​e viável em locais fora da China continental foi questionada.

Hong Kong é uma região administrativa especial da China que opera com um alto grau de autonomia. Está localizado fora do continente, na costa sul da China, província vizinha de Guangdong – que registrou o maior número de casos confirmados de COVID-19 (1490 casos em 31 de março de 2020) fora de Hubei. Tendo sido um dos epicentros mais afetados durante a epidemia da síndrome respiratória aguda grave (SARS) em 2003, a comunidade de Hong Kong está preparada para responder a doenças infecciosas emergentes. Uma série de medidas de saúde pública foi implementada para atrasar e reduzir a transmissão local do COVID-19, e houve grandes mudanças no comportamento da população.

As medidas iniciais de contenção ou supressão atuais usadas para controlar o COVID-19 em Hong Kong incluem intensa vigilância de infecções, não apenas nos viajantes que chegam, mas também na comunidade local, com cerca de 400 pacientes ambulatoriais e 600 pacientes internados testados diariamente no início de março de 2020. Uma vez que os indivíduos são identificados como positivos para COVID-19, eles são isolados no hospital até se recuperarem e cessarem o derramamento de vírus. Seus contatos íntimos são rastreados (dois dias antes do início da doença) e colocados em quarentena em instalações especiais, incluindo campos de férias e conjuntos habitacionais recém-construídos. Como nem todas as pessoas infectadas serão identificadas, as medidas de contenção funcionam apenas se medidas de distanciamento social ou mudanças comportamentais também reduzirem a chamada transmissão silenciosa na comunidade como um todo.
(…)

Autores do estudo:

Prof Benjamin J Cowling, PhD †
Sheikh Taslim Ali, PhD †
Tiffany W Y Ng, PhD †
Tim K Tsang, PhD
Julian C M Li, BSc
Min Whui Fong, MPH
Qiuyan Liao, PhD
Mike YW Kwan, MBBS
So Lun Lee, MPH
Susan S Chiu, MD
Prof Joseph T Wu, PhD
Peng Wu, PhD
Prof Gabriel M Leung, MD

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Raul

18/05/2020 - 20h00

Ditadura comunista agora virou lógica e simbolo de credibilidade no mundo! Será que o autor do artigo frequentou alguma escola durante a vida toda dele?

Helio

22/04/2020 - 11h43

Pergunta que não quer calar: O cafezinho apóia o fora bolsonaro? O pdt apóia o fora bolsonaro?

    Redação

    22/04/2020 - 18h50

    Eu apoio, claro. Mas quem não apoia?

    Movimentos, partidos e indivíduos de oposição podem ter estratégias diferentes sobre a melhor maneira de se livrar desse psicopata, mas todos querem se livrar, de uma maneira ou de outra.

      Raul

      18/05/2020 - 20h06

      Eu apoio Bolsonaro, assim com a maioria do povo brasileiro que o elegeu Presidente do Brasil democraticamente nas eleições em 2018 para a tristeza da bandidagem brasileira como o autor desse artigo!!! Nós somos Conservadores, Cristão, de Direita e somos a maioria no Brasil e no Mundo! Em uma Democracia, quem governa é a maioria do povo, então por favor, respeite o voto e a vontade do povo brasileiro! A Esquerda genocida que matou mais de 100 milhões de inocentes pelo mundos nos ultimos 90 anos, jamais voltará ao poder do Brasil! Seu GOLPISTA!! Analfabeto funcional e moral! Seu PARIA apoiador de bandidos, assaltantes de bancos, mercenários, comunistas e genocidas!!! Esse era ó governo do PT! Dá até vontade de vomitar!!! Meus herois não morreram de overdose e muito menos foram presos !!!

dcruz

21/04/2020 - 13h48

Bolsonaro fala como se todas as mazelas existentes no país e que com suas atitudes desastrosas só pioraram não existissem antes da epidemia e quarentenas. Antes do flagelo não existia desemprego, não existia crise na saúde, não existia fome, etc., tudo foi consequência desse vírus, comunista, com toda a certeza.


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