Opinião: Esquerda no limbo, “Centro” fortalecido

Por Gabriel Barbosa

Não existe nada mais claro no universo da política do que o recado das urnas. Não há pesquisa, marketing ou narrativa que possa substituir a participação popular. É nela que o todo o trâmite democrático se confirma. Contudo, nos primeiros sete dias depois do 2° turno o eleitor assistiu a dois fenômenos: a esquerda no limbo e o “centro” fortalecido.

Esses últimos, dominaram 20 das 27 capitais e com regozijo figuras como ACM Neto (DEM) e João Dória (PSDB) já começam a sinalizar movimentações para 2022. O PP de Ciro Nogueira abocanhou a maioria das prefeituras no Nordeste, em especial nos municípios da Bahia e do Piauí, e se consolida como a maior legenda da região. Outras legendas como PSD de Kassab e o MDB de Temer (auto intitulado como “radical de centro”) ficaram com os maiores pedaços do bolo no restante do país.

A esquerda do jogo, resultados interessantes da aliança PDT e PSB em quatro capitais do Nordeste: Fortaleza, Recife, Aracaju e Maceió. No Norte, a vitória de Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém também deu um sinal importante para o campo progressista. Já o PT no 2° turno, saiu vitorioso em quatro cidades: Diadema (SP), Mauá (SP), Contagem (MG) e Juiz de Fora (MG). Sendo assim, pela primeira vez em 35 anos de história o partido não terá nenhuma capital para governar.

Apesar dos resultados interessantes em Belém e nas capitais do Nordeste mencionadas anteriormente, a primeira semana pós 2° turno foi de fogo cruzado entre as lideranças do campo progressista. Figuras como o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), senador Jaques Wagner (PT-BA) e o vice-presidente Nacional do PDT, Ciro Gomes, protagonizaram embates de narrativa que refletem com fidelidade a decadência estratégica com que se encontra a esquerda brasileira.

Não estou propondo um pacto de compadres, longe disso. Creio que existe uma necessidade urgente de alinhar as demandas em comum entre os partidos e abrirem um diálogo franco a luz do dia, coisa que a esquerda ainda consegue fazer com maestria, mesmo diante da delicada situação. Para isso, é inevitável que os dois principais partidos do campo progressista, PT e PDT, estejam dispostos a liderar esse movimento.

A primeira vista, essa sugestão parece polêmica, ainda mais com as constantes acusações de ambas as partes. Porém, essas duas legendas abrigam as duas principais lideranças, Lula e Ciro. Estrategicamente falando, é inevitável um novo diálogo entre o ex-presidente e o ex-ministro.

Não é responsável figuras como Fernando Haddad, que sofreu duas derrotas seguidas em 2016 e 2018, acreditar que têm a tutela política de inserir um histórico companheiro de luta como Ciro Gomes na “faixa da direita” com João Doria e Luciano Huck. Assim como não é prudente que Ciro Gomes insista no discurso antipetista se nem mesmo os atuais postulantes da direita como Doria e Huck estejam usando dessa narrativa para se fortalecerem como alternativa.

É equivocado pensar que o campo progressista irá se fortalecer sem fazer uma costura de dentro pra fora. Só após um amplo entendimento entre os partidos e com suas bases alinhadas é que se pode sinalizar para o tal “Centro”. Em outras palavras, não se pode colocar a carroça na frente do boi. Espero que Lula e Ciro compreendam isso antes que seja tarde demais.

Gabriel Barbosa: Jornalista cearense com pós-graduação em Comunicação e Marketing Político. Atualmente, é Diretor do Cafezinho. Teve passagens pelo Grupo de Comunicação 'O Povo', RedeTV! e BandNews FM do Ceará. Instagram: @_gabrielbrb
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