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Paulo Felletti: Quem ganhou e quem perdeu com os atos no dia 12 de setembro?

ANÁLISE DE CONJUNTURA 12/09 Quem ganhou e quem perdeu com os atos no dia 12 de setembro? Paulo Felletti Júnior – Administrador Público formado pela Universidade Federal de Lavras Ponto 1 – Os Atos Os atos de 12 de Setembro foram organizados pelos Movimentos Brasil Livre e Vem pra Rua, contando com a participação de […]

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Vista aérea da manifestação do dia 12 de setembro de 2021, na Paulista. Foto redes sociais.

ANÁLISE DE CONJUNTURA 12/09

Quem ganhou e quem perdeu com os atos no dia 12 de setembro?

Paulo Felletti Júnior – Administrador Público formado pela Universidade Federal de Lavras

Ponto 1 – Os Atos

Os atos de 12 de Setembro foram organizados pelos Movimentos Brasil Livre e Vem pra Rua, contando com a participação de partidos como PSDB, DEM e outros partidos aliados, além de PDT e PSB, contando com certa estrutura política e financeira para a realização do ato, principalmente na Avenida Paulista.

Ponto 2 – A “Frente Ampla”

A amplitude do movimento, que contou com lideranças (dissidentes da posição majoritária) de partidos como PCdoB e PSOL, além da decisão majoritária dos partidos já citados, embora inicialmente escondida na ideia de “pauta única” do FORA BOLSONARO, pareceu ter claros objetivos para cada força política diferente, assim como os resultados esperados e obtidos por cada uma delas.

Ponto 3 – MBL, os Liberais e os Convites às Esquerdas

O Movimento Brasil Livre, o Vem Pra Rua e seus Partidos aliados, claramente buscam consolidar uma terceira via mais palatável a um país assustado com os desmandos e a desinteligência permanentes do presidente, mas que não abra mão de abraçar a agenda ultraliberal de retomada do processo de colonização brasileira, que coincide com a entrega criminosa do nosso patrimônio, além das destruições de Direitos e das capacidades estatais de coordenar qualquer projeto de caráter emancipador, nacional, popular e soberano.

Na busca por protagonizar eleitoralmente a agenda do “Fora Bolsonaro” para o ano que vem, dado o eminente desastre eleitoral do presidente, tentaram capturar em suas arapucas, forças do centro democrático como PV, Rede e Cidadania, além do Campo Popular/Progressista, ao convidar partidos como PCdoB, PDT, PSB, PT e PSOL para a construção dos atos, cabendo ressaltar que todos esses partidos já vinham construindo atos contra o desgoverno de Bolsonaro, desde o início do ano (para não dizer desde o início desse desastroso mandato).

O PT não foi, poucas lideranças de PSOL e PCdoB até participaram, muito mais individualmente, como dissidentes de suas organizações partidárias. Já PDT e PSB, mantendo uma tradição histórica que antecede e passa pela redemocratização no Movimento DIRETAS JÁ, decidiram participar, argumentando que para além do importante momento de unidade que a nação brasileira demanda, existe a necessidade (até eleitoral) de “furar bolhas” e fazer a mensagem de seus projetos atingirem maior capilaridade na sociedade.

Ponto 4 – Os Riscos da Participação (PSB e PDT)

A arapuca estava montada e os dois partidos, PDT e PSB assumiram para si os riscos e benefícios possíveis da participação. Ainda que tenham contradições internas em ambos, como dissidências em votações no parlamento com divergências profundas no que diz respeito as bandeiras e diretrizes históricas dessas duas organizações, eles vêm apresentando ricas elaborações de construção futura ao país nos últimos anos.

Seja o PDT com seu PND – Projeto Nacional de Desenvolvimento, que vê em Ciro Gomes o principal expoente de um Projeto de Reindustrialização Nacional, ou o PSB que vem resgatando valores e caminhos de proposições para a superação de nossos problemas, através do Cooperativismo e a Economia Criativa que culmina no que se chama Socialismo Criativo.

Sabendo que ao escolher participar destas manifestações e caso elas tivessem grande adesão, poderiam estar fomentando o surgimento de uma terceira via ultraliberal e mais palatável como pretendia MBL e alinhados, ao mesmo tempo em que cria-se também a oportunidade única de abertura de novos canais de diálogo com jovens estudantes e trabalhadores, pertencentes às classes subalternas e espremidos juntos no meio dessa crise. Esse público não é necessariamente liberal, mas a mensagem de ambos os partidos (e do campo que compõem) costuma chegar a eles cheias de ruídos e inverdades, o que dificulta a comunicação e construção dialética e eleitoral de ambos os projetos junto a essa turma, que por vezes reproduzem a narrativa liberal, sem o ser, motivadas por micro realidades mas que são grandes e diretos prejudicados pela destruição nacional da agenda Liberal, como classe subalterna que são. Essas pessoas, possuem hoje, visões distintas das que tinham há 5 anos, quando apoiaram o Golpe contra a presidente Dilma, algo que se confirma em dados de pesquisa realizada pela USP, dos quais falarei à frente.

PONTO 5 – Resultados gerais das Manifestações

Utilizando um linguajar da internet, o fato é que as manifestações “floparam”, não foram o sucesso esperado, sem adesão expressiva na Paulista, a ação quase não se espalhou para fora de São Paulo e onde se espalhou não conseguiram reunir uma massa considerável, diferente das manifestações pró e contra Bolsonaro realizadas nos últimos meses, estas últimas organizadas nos grandes centros pela frente composta pelo campo popular/progressista do qual fazem parte os Movimentos Sociais e Partidos como PT, PSOL, PCdoB, PSB, PDT e por partidos do Centro Democrático como PV e Rede, manifestações estas que vêm ocorrendo com frequência e adesão maiores que os atos de apoio ao presidente.

PONTO 6 – Resultado da Pesquisa da USP

Para corroborar com a afirmação de que boa parte desse público ainda é mobilizado pelo MBL, por N motivos que não cabe aqui aprofundar, a pesquisa coordenada pelos Professores da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado e Márcio Moretto, entrevistou 841 manifestantes e teve margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos.

Em primeiro momento, é curioso observar que num ato puxado pelo MBL, somente 38% afirmam que não participariam de uma manifestação junto com o PT, ou seja, 62% estariam dispostos a compor fileiras, estando desta forma, propícios a se abrir para esse diálogo. Esse primeiro dado mostra algo que ainda não estava muito claro: o anti petismo esfriou e vem perdendo força entre a população, afinal tratamos aqui, daqueles que ajudaram a criar Bolsonaro, com cumplicidades em fakenews e nas apologias mais escrotas que o nosso presidente já protagonizou.

No que diz respeito a votação presidencial em primeiro turno, dentre os manifestantes entrevistados, 16% afirmaram votar em Ciro Gomes, 14% em Lula, 11% em Sérgio Moro, 8% em João Amoedo, 7% em João Dória e 31% que ainda estão indecisos.

Vejam bem, 30% dos manifestantes dispostos a votar já no primeiro turno, em dois candidatos assumidamente de centro-esquerda (Ciro e Lula) e o mais surpreendente, 14% votam em Lula já no primeiro turno, já estando maior que Sérgio Moro, no próprio reduto do ex magistrado.

PONTO 7 – Os Resultados para o MBL, PSDB e demais Liberais

Se tem alguém que “perdeu” ali foram os Movimentos Liberais encabeçados pelo MBL e seus Partidos aliados. Perderam porque demonstraram incapacidade de mobilizar grande parte das massas. Também por terem que amargar a preferência dentro de seu público, a votar em Ciro ou Lula, dois candidatos que divergem, cada um a sua medida, da agenda ultraliberal que defendem, além é claro, do fato de que todos os 3 candidatos somados na pesquisa, não conseguem alcançar a soma que os Projetos defendidos por Ciro e por Lula alcançaram, repito: dentro de seu próprio público.

Àqueles que permanecerem junto ao MBL e os partidos aliados, restarão duas alternativas: se abraçar a Ciro Gomes, que tem uma agenda claramente oposta a deles e vale dizer, é bem improvável que as lideranças desses movimentos desembarquem no PND de Ciro. A outra alternativa, que parece mais plausível a esses atores, será o contentamento com o fato de que não se diferem tanto assim do presidente que agora “criticam” (depois de apoiarem institucionalmente, quase 90% da agenda governista), o que pode fazer com que escolham uma via mais “limpinha” no primeiro turno, cientes de que o segundo turno deles será abraçados com Bolsonaro.

No que diz respeito ao MBL, poderá estar com dias contados, a tendência é de se esvaziar e devido à falta de apelo junto a sociedade, algo que corrobora com a possibilidade de as elites financeiras brasileiras, não titubearem a desembarcar desse barco, levando junto as estruturas e recursos que permitem a eles, ainda mobilizar alguns setores.

É provável que boa parte dessas lideranças embarquem em candidaturas com menores chances de vitórias, o que pode provocar uma readesão antecipada ao bolsonarismo por algumas lideranças que ainda tentam emplacar os nomes dos liberais que somados nesse público, atingem 25% das preferências.

PONTO 8 – Resultados para Ciro e PDT

Assim como todos os movimentos e partidos que aderiram aos movimentos, o resultado da baixa adesão da manifestação também se contabiliza como ponto negativo para Ciro e PDT, já que isso diminui sua força de negociação para articular alianças mais amplas dentro do sistema político (com PSD, DEM, REDE, PV, Cidadania e PSB, este último cada dia mais improvável), que o próprio Ciro vem tentando. Vale ressaltar que houveram bate-bocas entre militantes/dirigentes do PDT e do MBL em Belo Horizonte, demonstrando o que para muitos já era claro: o MBL e a Direita Liberal vão tentar cozinhar o Ciro até onde puderem, mas em hipótese alguma, abraçarão a sua agenda Nacional Desenvolvimentista.

Fato é que Ciro também foi para a manifestação para se promover em cima dos canais de diálogo que esses Movimentos ainda têm com setores da sociedade e fez um discurso bastante produtivo e democrático, ressaltando as profundas diferenças que sua agenda tem com a agenda Liberal, que são diametralmente opostas.

A pesquisa da USP entre manifestantes da Paulista, que traz Ciro com 16% (e Lula com 14%), mostra que o pedetista é popular entre os “nem nem”; no entanto, ele não vem conseguindo demonstrar crescimento na adesão ao seu projeto, conforme mostram os dados dos diferentes institutos de pesquisas, nos quais, quando muito, alcança margens próximas à sua média histórica de 12%.

Com os resultados das manifestações, Ciro perde forças nas articulações institucionais, sendo possível vislumbrar um afastamento gradual de PSD e DEM, que tendem a fazer o retorno rumo aos dois polos estabelecidos em Lula e Bolsonaro, já que não é surpresa para ninguém que Kassab/Paes têm boa proximidade com Lula, e ACM Neto com Bolsonaro. Será que eles iriam arriscar abraçar um Ciro que embora surja como terceiro nome nas pesquisas, não demonstra sinais de crescimento? Pouco provável, ainda mais se tratando destes atores/partidos.

As suas chances de se viabilizar como candidato numa ampla coalizão, vêm diminuindo e tudo caminha cada vez mais para uma disputa do PDT com chapa pura, adicionando-se o agravante de não ter em sua vice a capilaridade de Katia Abreu e não se vê no horizonte outro nome a altura em termos de amplitude no diálogo, principalmente com o setor produtivo.

Ainda que a política seja dinâmica, nesse desenho o Ciro surgiria, na melhor das hipóteses, caso se viabilize, como uma espécie de “outsider”, sem um arco sustentável de alianças, o que pode ser bastante problemático para a implementação de sua agenda. Que Ciro é preparado e talvez tenha o programa mais avançado para o momento do país, não há dúvidas, a questão é, o povo brasileiro está disposto a apostar, mais uma vez, numa figura de “outsider”, que chega nas eleições sem um grande escopo de apoios? É de se duvidar.

Quanto ao PSB, falarei deles no próximo ponto, mas cabe ressaltar: está a cada dia mais distante de apoiar o Ciro, ao qual restará escolher se tenta mais uma vez se viabilizar sem alianças, correndo o sério risco de se esvaziar eleitoralmente e alcançar votação parecida com a que teve Brizola em 94, ou então, recuar em sua agressividade contra o PT, pensando numa retomada na estabilidade do país. E ainda que se continuar se empenhando para chegar ao segundo turno, reconhecer que não se trata de duas faces da mesma moeda, Lula tem suas qualidades, é um humanitário, já Bolsonaro é muito pior, basta lembrar suas homenagens ao torturador condenado Ustra.

Ponto 9 – Resultados para o PSB

Dos Partidos que aderiram ao ato, o PSB foi o que menos “perdeu” e curiosamente, o que mais “ganhou”.

Se por um lado as manifestações foram pequenas, mesmo que tenham aderido ao movimento, o PSB passou longe de ser um dos seus principais articuladores e ainda contou com o ponto positivo de não ter uma personalidade majoritária que o vinculasse tanto aos atos, como é o caso do Ciro com o PDT. Por outro lado, o PSB está a cada dia mais próximo de apoiar Lula e o PT, repetindo o movimento de 2018, que foi feito em cenário muito mais desfavorável para tal, reforçando a ideia de que não faz sentido presumir que exista alguma possibilidade do partido apoiar o PND de Ciro eleitoralmente, nesse momento. Enfim, o PSB consegue hoje, garantir um papel de relevância nos diálogos com a candidatura Lula, ao mesmo tempo que mantém abertura para dialogar com o eleitorado da centro direita e de Ciro. Seria o PSB um possível fiador da pacificação nacional nos próximos anos? Provável.

Ponto 10 – Resultados para o Governo Bolsonaro

Até Bolsonaro, que vem derretendo mais rápido que gelo no calor de Montes Claros, conseguiu capitalizar em cima dessas manifestações contra ele, podendo utilizar em sua narrativa, o argumento de que está maior do que as oposições (como se elas se resumissem aos movimentos presentes neste ato).

De certo modo, isso dá uma sobrevida a ele que não chega a preocupar, já que sabe-se que ele tende a se sabotar continuamente e o saldo disso permanece extremamente negativo para ele.

As manifestações mais amplas dos Campos Popular/Progressista e do Centro Democrático, é bom lembrar, vêm obtendo adesão muito maior do que as manifestações governistas, o que explicita o quanto essa divisão de atos “sectariza” a luta contra Bolsonaro.

Ponto 11 – Resultados para Lula e para os Campos Popular/Progressista e o Centro Democrático

Retomo aqui o título da análise: Lula é o grande vencedor dessas manifestações!

A rejeição dele diminuiu, hoje é o segundo candidato preferido em primeiro turno pelos manifestantes mobilizados pelo MBL, em empate técnico com Ciro e amplas margens para crescimento. É claro que ano que vem com o aprofundar das “trocas de chumbos” entre candidatos, irão atacar pontos fracos de sua trajetória, mas afinal, o que Lula poderia ter feito que já não se saiba, e que impressione tanto num Brasil desfigurado e comandado por um genocida louco?

Os próprios resultados da pesquisa mostram que as pessoas estão cansadas da instabilidade em que o país se enfiou e parcela considerável enxerga em Lula uma possibilidade de retomarmos um mínimo de estabilidade. Se somarmos a adesão a sua candidatura nas manifestações de seu campo, com as manifestações de um campo que até outro dia lhe chamava de ladrão, fica perceptível que as chances de vitória já em primeiro turno, e sem sustos, são reais.

Ao PT e aos demais movimentos e lideranças que encabeçam as manifestações do Campo Popular/Progressista, incluindo PDT e PSB, cabe não deixarem acontecer um novo racha no movimento Fora Bolsonaro, até porque, o próprio PT tem um largo espaço eleitoral para explorar dentro do público do MBL, que já se provou minoritário em seus próprios atos, sendo esse o momento ideal para esse Campo Político ampliar suas pontes. Embora exista um receio de que a direita liberal tente protagonizar a agenda, está mais do que evidente que não têm a mínima chance, pelo contrário, serão engolidos pelo momento, dando a Lula, a oportunidade de falar, com menos ruídos, a esse público, do qual ele já tem a preferência de 14% e ainda pode convencer 31% de indecisos.

Com dados não dá para brigar, Bolsonaro tentou e os resultados estão aí, mais de 600 mil mortos. O Centro Democrático e o Campo Popular/Progressista, não podem se dar a esse luxo.

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Comentários

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Augusto

14/09/2021 - 20h13

Que bela manobra retórica foi feita nesta bizarra análise. Quase convence pelo cansaço. Impressionante a capacidade humana.

EdsonLuiz.

14/09/2021 - 18h06

PONTO 12 — O autor do post é do PT, é um partidário apaixonado e o seu post corresponde ao impulso da sua paixão, o que é legítimo, independentemente do que seu post contiver de acertos ou de erros. Apenas acho que, como post, empobrece este jornalzinho.

PONTO EXTRA E EXTERNO — Em minha opinião o texto que aqui está como post estaria mais adequado se estivesse como resposta.

Paulo

14/09/2021 - 17h56

A “voz rouca das ruas” se travestiu desta vez de “voz rouca dos lares, escritórios e bares”. Anti-Lula e anti-Bolsonaro…Só faltam o cavalo e o cavaleiro pra montá-lo…

ARY BOREL DE AGUIAR NETO

14/09/2021 - 14h15

Foi bom ver essa galera pulando numa piscina vazia!
É hora de reconhecer que só Lula e o PT são capazes de tirar o monstro do poder e estabilizar o país.

William

14/09/2021 - 13h16

Lula não tem nada mais a ver com a política brasileira a anos e nunca mais terá.

Kleiton

14/09/2021 - 13h14

Basta ter mais de 13-14 anos para perceber claramente que Bolsonaro está reeleito.


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