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Wilson Gomes: A esquerda da Guerra Fria e a invasão da Ucrânia

Por Wilson Gomes Há várias esquerdas e cada vez mais diversas entre si. É um fato, não um juízo de valor. Afinal, o que faz alguém se colocar à esquerda no espectro ideológico não uniformiza cada compreensão do mundo, cada valor ou cada princípio. Como já disse outras vezes, a esquerda é aquela posição em […]

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Imagem: Divulgação

Por Wilson Gomes

Há várias esquerdas e cada vez mais diversas entre si. É um fato, não um juízo de valor. Afinal, o que faz alguém se colocar à esquerda no espectro ideológico não uniformiza cada compreensão do mundo, cada valor ou cada princípio.

Como já disse outras vezes, a esquerda é aquela posição em um regime republicano que responde a duas decisões fundamentais:

A igualdade política, base da democracia, precisa produzir também (mais) igualdade social; A forma institucional da comunidade política, o Estado, é um instrumento básico para a promoção da justiça social.

Se você defende a todo custo a liberdade e a igualdade políticas, é um democrata. Se você, além disso, não abre mão de direitos e garantias fundamentais, nem de viver em um Estado de Direito, então é um liberal-democrata. Mas se, enfim, considera que uma sociedade justa é aquela em que, além disso, a igualdade social é uma meta essencial, você é de esquerda.

Quanta igualdade social é imprescindível haver, quanto o Estado precisa considerar isso a sua prioridade, se afinal se trata de igualdade de bens ou igualdade de oportunidades, é discutível, e daí decorrem variações, mas ninguém é de esquerda se achar que as desigualdades fazem parte da paisagem ou não podem ou devem ser resolvidas.

Fora esse combinado social, o resto são diferenças. E enganos. Há quem ache, por exemplo, que uma vez que a esquerda, por definição, é a favor da mudança social e contra qualquer tipo de injustiça, todo indivíduo de esquerda é progressista.

Não é. Uma fração da esquerda é muito conservadora do ponto de vista moral. Outros gostam de pensar que, posto que a esquerda é uma posição que naturalmente atrai os intelectuais e descende do Iluminismo, todo mundo na esquerda tem mente aberta, é flexível e confia na força dos argumentos como forma de persuasão. Nada mais falso. Uma parte expressiva da esquerda é profundamente autoritária e, na mesma medida, dogmática.

Por fim, dado que a esquerda em geral está sempre pronta para defender liberdades civis e políticas, ou para se bater pela igualdade entre as pessoas, nos acostumamos a imaginar que as pessoas que se dizem de esquerda sejam todas convictamente democráticas.

Um constrangedor engano, pois uma franja da esquerda, se tiver que escolher a igualdade econômica e a democracia, escolherá sempre pelo socialismo. Muitos são democratas relutantes, na espera de uma “coisa melhor” que nunca chegou, outros abrem facilmente mão da democracia, de alguns ou vários dos princípios que a constituem, desde que alguns dos valores da própria esquerda se materializem.

Isso é particularmente notável na esquerda de 2ª geração (2G) marxista, que acrescentou aos dois combinados fundamentais da esquerda pré-maxista mais um par de convicções. Esta esquerda, nascida no século 19, mas cujo imaginário foi lapidado no século 20, entre a Revolução Bolchevique e a Guerra Fria, é mais socialista que republicana. É uma esquerda que só aceitou com resignação e relutância a democracia liberal quando a Revolução não veio e/ou quando os socialismos reais fracassaram.

Pois na esquerda 2G toda democracia autêntica tem que ser direta (contra o Governo Representativo); todas as genuínas forças da sociedade estão na base social (basismo); propriedade e lucro são anátemas, vez que são frutos do sangue do trabalhador (anticapitalismo); tem que haver alinhamento e simpatia automáticos com as formas de luta dos trabalhadores (trabalhismo); a igualdade política e as liberdades são menos importantes do que a igualdade social; o imperialismo capitalista é o grande inimigo geopolítico do homem (anti-imperialismo seletivo).

Claro, a esquerda gosta de pensar que a direita é um campo fértil para o conservadorismo. E é verdade. Ou que a direita é que facilmente descamba para a autocracia, que acolhe as posições mais autoritárias e mais dogmáticas e coisas do gênero. Também é verdade. Mas é só aparecer uma oportunidade e as tendências conservadoras, autoritárias, dogmáticas e até autocráticas que também estão presentes na esquerda vão escorrer pela esfera pública, à vista de todos.

A guerra na Ucrânia tem sido um bom experimento para isso, e uma parte da esquerda, justamente a esquerda 2G, está penosamente mostrando as suas dificuldades. Anos e anos em que foi lavrada a convicção de que o capitalismo e o imperialismo são os problemas políticos centrais da humanidade, tornou uma geração da esquerda incapaz de condenar com nitidez e decisão a invasão da Ucrânia pela Rússia.

E quando falo “geração de esquerda”, me refiro ao software em funcionamento no aparelho mental das pessoas, não à idade dos envolvidos. Nesse sentido, Lula e Leonardo Boff são da mesma geração que Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila, por exemplo.

Pois bem, a esquerda 2G acha que invadir um país é uma coisa deplorável, todos fizeram questão de afirmar isso. Isto posto, alguma coisa no seu DNA lembra que os russos estão associados ao bem e os norte-americanos ao mal, que a Otan é o imperialismo ocidental, que o capitalismo do Ocidente quer só explorar os povos.

Aí, pronto, como condenar a Rússia, coitada, espremida em seu espaço vital, sob constante avanço e provocação do Oeste Europeu e dos Estados Unidos? Como aceitar embargos contra a Rússia sem que a memória ative automática e inconscientemente os sentimentos e convicções sobre o embargo a Cuba?

Então, dá-lhe racionalizações para evitar a dissonância cognitiva entre algumas das suas mais arraigadas crenças – pelas quais, inclusive, orientam o seu afeto – e os fatos desconcertantes de uma invasão brutal e moralmente injustificada, que Putin levou a termo como parte de um sombrio projeto de poder.

Foi assim que depois das ressalvas que agora são obrigatórias, sobre o erro da invasão russa, Leonardo Boff declarou no Twitter: “A OTAN incorporou a Polônia, os países bálticos e outros da área do Pacto de Varsóvia. É o expansionismo dos USA usando os vassalos europeus. Por trás da crise da Crimeia estão estas traições. Se ela entrar na OTAN os mísseis da OTAN alcançarão a Rússia em segundos. E a segurança?”.

E quando a ONU condenou a invasão e sanções foram aplicadas, Boff protestou e admoestou: “Estimo que o Ocidente (USA/NATO) está exagerando nas sanções c/a Rússia. Cuidado que o autoritário líder russo possa se sentir uma fera acuada e se defenda com todos os meios até com os mais letais para a humanidade. A Rússia não é um Iraque ou Afeganistão, fracos. É uma potência nuclear”.

E mesmo Lula, que retardou o máximo possível um juízo sobre o conflito, provavelmente escutando seus consultores de confiança, foi claro na desaprovação da invasão, mas o fez em nome do pacifismo, dos custos da guerra, da confiança na cooperação.

E não esqueceu do essencial doisladismo de quem precisa ao mesmo tempo condenar o imperialismo norte-americano: “É inadmissível que um país se julgue no direito de instalar bases militares em torno de outro país. E é absolutamente inadmissível que um país reaja invadindo outro país”.

Alguém notou que nenhuma palavra foi dita sobre a Ucrânia, apenas geopolítica realista, mas com uma repreensão ao imperialismo que instalou bases “em torno” da pobre Rússia. Mesmo argumento de Boff: “Vocês tolerariam um canhão diante da porta de sua casa?”.

Causa espécie, a este ponto do conflito e do que nós sabemos sobre ele, o esforço de explicar os feitos de Putin como reação, uma vez que estava acossado pela Otan e pelo poder militar do Ocidente Europeu, que chegou ao ponto de colocar mísseis no jardim do pobre homem.

Mas a racionalização alcança também a desqualificação da Ucrânia pelas mais variadas e coloridas razões. Houve quem destacasse o fato de o presidente do país invadido ser um comediante profissional, um ator, um populista, de pouco valor.

Houve quem, como Guilherme Boulos, destacasse que a Ucrânia está do outro lado da batalha ideológica: “Mas é fato que, desde 2014 a Ucrânia tem forças políticas relevantes de extrema-direita. A principal facção delas se chama Movimento Azov, organização paramilitar integrada por células neonazistas acusadas de tortura, saques, estupros e limpeza étnica”. E houve quem sublinhasse o fato de que o país não podia ter provocado Putin fazendo amizade com a Otan.

Com isso, estava pronto o discurso para uma condenação, relutante, seguida de uma conjunção adversativa: Tudo bem, Putin não devia ter jogado mísseis nem invadido, mas, contudo, porém, todavia… e aí segue a lista do que justifica mísseis sobre criancinhas e tanques varrendo o país. O que que não faltou foi gente da esquerda 2G sublinhando o infame mas, que oferece uma desculpa ao indesculpável, uma atenuante ao que só poderia ser condenado.

Questões relacionadas à contraposição entre a tirania de Putin e a liberdade dos ucranianos, o direito de autodeterminação dos povos, o perigo do aumento das autocracias no Leste Europeu e na Ásia, a expansão da extrema-direita, nada disso entra na conta.

A mola que move o julgamento é o sentimento anticapitalista e adversário do imperialismo norte-americano (o imperialismo russo não cabe na equação). A paixão desta franja da esquerda pela democracia demonstra-se mais uma vez, principalmente, nominal, pois quando se trata de defendê-la concretamente, a convicção fraqueja se há outros valores e outras memórias a que a esquerda da Guerra Fria continua apegada.

Por sorte, nem toda a esquerda se esgota aqui. Mas essa é já uma outra história.

Wilson Gomes é doutor em filosofia e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

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Comentários

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Paulo

08/03/2022 - 22h56

Régis, você é português ou só retirou isso de uma fonte portuguesa? É muita alienação e teoria da conspiração, amigo. Saia dessa!

Francisco*

07/03/2022 - 15h30

Limitado à Quadradura do Círculo.

Nada mais parecido com ‘melancia amarrada no pescoço’ que fazer-se diferenciado, provocador errático não tão inocentemente útil, pois normalmente visto avessamente incomodado à divergência e não tão suficientemente natural e utilitário quanto a girafa alimentando-se, sem nada amarrado ao pescoço, porém naturalmente extensa e diferente.

Previsto e mais explícito que glúteo em praia, não dá se conta que a equação do lado da hora, anunciada pela mídia, não faz compulsório o outro lado aos que duvidam do lado da hora a validar a equação do ‘bem estabelecido’, e que igualitariamente safos, safam-se ao saltarem de banda, bojo e bunda, para lados outros comportados pela equação nada binária proposta.

Livre, permanece o só pensar que a quadradura do círculo não limita a quatro lados os que não tem lado dado, só lado tido.

Porém, a paixão desta franja de Nem-Nem pelo ser diferenciado, acima de tudo e de todos, demonstra-se mais uma vez, seminal, quando se trata de defendê-la concretamente, diante de outros lados, valores e memórias, não pensados, a que os Nem-Nem, pelo diferenciado, forçam-se desapegarem, mesmo que custe um diferenciado desgovernante a não diferencia-los, lado a lado, na quadradura do círculo.

Por sorte, todos os diferenciados Nem-Nem se esgotam aqui. Pois essa é já uma mesma farsa.

Rudi

07/03/2022 - 08h11

Lembrado que toda potência hegemônica é, sempre,opressora.
Assim saúdo a volta de “freios e contrapesos” na geopolitica.
Ah, sou de esquerda.

Filipe Trajano

07/03/2022 - 05h55

Texto sensacional, enfim um pouco de bom senso no meio de tanta loucura. Parabéns pela coragem de expor o que muitos fingem não ver e pela defesa de uma democracia que está cada vez mais frágil nós tempos atuais.

Régis

06/03/2022 - 23h50

A Rússia impede os EUA de desencadearem guerra biológica a partir dos seus laboratórios militares na Ucrânia
Vladimir Platov [*]

Considerando a agitação iniciada pelos serviços de inteligência dos EUA nos últimos tempos, quer na Ásia Central, na Transcaucásia ou noutras zonas limítrofes da Rússia e da China, está a aumentar o risco de um desastre biológico proveniente dos múltiplos laboratórios biológicos militares secretos instalados pelos EUA em regiões potencialmente instáveis do ponto de vista político e social. Quanto a isso, a questão de os EUA prepararem uma bomba-relógio biológica no Cazaquistão já foi levantada muitas vezes. O risco crescente de o Pentágono iniciar uma guerra biológica utilizando os mais de 400 laboratórios biológicos americanos localizados por todo o mundo e a necessidade de uma resposta clara ao risco de desastre biológico mundial a partir das instalações secretas dos EUA no estrangeiro tem sido repetidamente apontado. Afinal de contas, estes laboratórios biológicos têm cerca de 13.000 “empregados” que estão ocupados a criar estirpes de agentes patogénicos assassinos (micróbios e vírus) resistentes a vacinas.

Hoje em dia já não é segredo que os EUA criaram laboratórios biológicos em 25 países do mundo: no Médio Oriente, África, Sudeste Asiático. Só no seio da antiga União Soviética existem laboratórios biológicos militares americanos na Ucrânia, Azerbaijão, Arménia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Moldávia e Uzbequistão.

Os americanos tentam negar a natureza militar dos estudos realizados em tais laboratórios. Contudo, o segredo que os rodeia só é comparável ao das instalações militares mais importantes. Não há responsabilidade perante o público local e global acerca do “trabalho” que ali é feito. Além disso, nenhuma “proeza” científica foi apresentada publicamente pelos biólogos americanos ao longo dos muitos anos de existência de tais laboratórios secretos no estrangeiros. E os resultados das suas investigações não são publicados em parte alguma que seja do domínio público. Entretanto, os laboratórios estão a recolher activamente informações sobre o património genético (gene pool) das populações dos países onde estes laboratórios operam. Tudo isto indica que o Pentágono está sem dúvida a preparar-se para travar uma guerra biológica usando bioarmas, as quais os EUA preparam nestes laboratórios biológicos. É bem sabido que os EUA já gastaram mais de 100 mil milhões de dólares nos últimos anos no desenvolvimento de armas de guerra biológica. Os EUA são o único país do mundo que ainda bloqueia o estabelecimento de um mecanismo de verificação ao abrigo da Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção e Armazenamento de Armas Bacteriológicas (Biológicas) e Tóxicas e sobre a sua Destruição, de 1972.

Contudo, tal como os pedidos da Rússia ao Ocidente para um acordo claro sobre medidas de segurança universais e sobre a não proliferação da NATO para o leste, as advertências acerca da prontidão dos EUA para desencadear uma guerra biológica global nunca foram atendidas em Washington e nas capitais ocidentais.

Tendo isto em mente, dificilmente se pode recusar o direito de a Rússia, como qualquer outro país, não querer ter tais armas perto das suas fronteiras pondo em risco a segurança de todos.

Portanto, na actual operação militar de Moscovo para desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia, um dos pontos importantes será livrar-se dos numerosos laboratórios biológicos militares dos EUA no território daquele país.

A 24 de Fevereiro, a publicação conservadora britânica The Exposé publicou um artigo intitulado “Haverá mais no conflito Ucrânia/Rússia do que aquilo que se vê?” Reconhece que a Rússia deveria ter conduzido a presente operação militar com base nos seus interesses de segurança e confirma que desde há muito existe uma ameaça muito grave para as vidas e saúde da população da Federação Russa provenientes do território da Ucrânia.

Aquela publicação refere-se a pelo menos 16 laboratórios biológicos militares americanos localizados em Odessa, Vinnitsa, Uzhgorod, Lviv (três), Kharkiv, Kiev (também três), Kherson, Ternopil, Dnepropetrovsk, bem como perto de Lugansk e na fronteira com a Crimeia. Tal “cooperação” entre o Pentágono e o Ministério da Saúde da Ucrânia remonta a 2005. Os partidos da oposição conseguiram aprovar no Verkhovna Rada [parlamento] em 2013 o fim desta “cooperação”, mas o golpe de estado liderado pelos EUA em Kiev em Fevereiro de 2014 impediu a implementação desta decisão, o que resultou em que esta “cooperação” não só continuasse como também se desenvolvesse activamente por iniciativa de Washington.

Muitos dos segredos oficiais do Pentágono e da Casa Branca sobre laboratórios biológicos clandestinos dos EUA no estrangeiro foram revelados por Francis Boyle, professor de direito internacional na Universidade de Illinois em Champaign (EUA) que redigiu a lei Biological Weapons Anti-Terrorism Act of 1989 (BWATA). Como salienta este cientista americano, “Temos agora neste país uma indústria de Armas Biológicas Ofensiva que viola a Convenção sobre Armas Biológicas e a minha Lei Anti-Terrorismo de Armas Biológicas de 1989”. De acordo com Boyle, “as universidades americanas têm um longo historial de permitirem voluntariamente que a sua agenda de investigação …. seja cooptada, corrompida e pervertida pelo Pentágono e pela CIA para a ciência da morte”. Ele cita como exemplo o grupo do Dr. Yoshihiro Kawaoka da Universidade de Wisconsin, o qual conseguiu aumentar a toxicidade do vírus da gripe por um factor de 200. De acordo com Boyle, o Pentágono e a CIA estão “prontos, dispostos e capazes de lançar a bioguerra quando convém aos seus interesses… Eles têm um stock daquelas de super-armas antrax que já usaram contra nós em Outubro de 2001”.

A ameaça a pessoas que vivem mesmo à distância de tais laboratórios é evidenciada por uma investigação efectuada pelo jornal USA Today, o qual mostrou que, só entre 2006 e 2013, ocorreram mais de 1.500 acidentes e violações de segurança em 200 laboratórios biológicos militares no território dos EUA. Então, e quanto a possíveis incidentes semelhantes em laboratórios biológicos na Ucrânia ou noutras antigas repúblicas soviéticas?

No Verão de 2019, “o principal laboratório de guerra biológica da América foi mandado parar toda a investigação dos vírus e agentes patogénicos mais mortais por receios de que os resíduos contaminados pudessem escapar para fora das instalações”, informou o jornal britânico The Independent. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), a autoridade de saúde pública nos EUA, revogou [a licença] do centro militar de investigação biológica em Fort Detrick para lidar com ébola, varíola e carbúnculo depois de inspectores do CDC terem encontrado “problemas com os procedimentos utilizados para descontaminar águas residuais” em Fort Detrick. A este respeito, é notável que a possibilidade de “vírus e agentes patogénicos mortíferos” que se infiltram nas águas residuais de Fort Detrick fosse detectada pouco antes do surto da COVID-19, que os americanos foram rapidos em atribuir à China. Também é de notar que o Pentágono intensificou significativamente as actividades dos seus laboratórios biológicos no estrangeiro desde 2019, deslocando claramente o “trabalho” sobre estirpes particularmente perigosas e o desenvolvimento de armas biológicas.

Nestas circunstâncias, a tarefa de pôr termo às actividades dos laboratórios biológicos secretos dos EUA como parte da desmilitarização daquele país justifica-se no programa da operação militar de Moscovo na Ucrânia.

Contra este pano de fundo, deve-se notar que a embaixada dos EUA na Ucrânia removeu todos os documentos acerca dos laboratórios biológicos em Kiev e em Odessa do seu sítio web oficial depois de Moscovo ter lançado a sua operação militar. Isto confirma ainda que, para além da ameaça nuclear de Zelensky, a Rússia também estava a ser preparada para bio-extinção. Sob estas circunstâncias, compreende-se o anúncio feito em Outubro último pela Agência de Redução de Ameaças da Defesa dos EUA (US Defense Threat Reduction Agency, DTRA) no sítio web de compras do governo dos EUA de um anexo sobre o “combate a agentes patogénicos altamente perigosos”. Este documento dizia respeito aos 3,6 milhões de dólares para finalizar o lançamento de dois laboratórios biológicos na Ucrânia – em Kiev e em Odessa, onde maquinaria, equipamento e pessoal já estavam a ser preparados para os Estados Unidos desencadearem uma guerra biológica sob a cobertura da Ucrânia.

03/Março/2022

EdsonLuíz.

06/03/2022 - 21h50

Wilson Gomes, muito obrigado!
Guardei o seu nome. Não esquecerei você e este seu belíssimo texto!

Novamente: obrigado! Muito obrigado!

Partagas

06/03/2022 - 20h50

“Anos e anos em que foi lavrada a convicção de que o capitalismo e o imperialismo são os problemas políticos centrais da humanidade.”

Sao 4 trogloditas idiotizados por idelogias podres que nao fazem media, nao podem nem ser considerados de esquerda e que ainda existem em paises de terçeiro mundo como o Brasil.

Paulo

06/03/2022 - 20h12

Muito boa, a matéria. Entrei com reservas mas considero, ao termo da leitura do texto, que o autor é honesto, intelectualmente. Coisa que a maioria da esquerda não é…

Fanta

06/03/2022 - 19h43

As ideologias hoje existem sò na cabeça de 4 idiotas e é por isso que a politica nao acende mais paixoes.

A Russia anexou varios paises ao proprio com o uso de bombas (Crimeia, Georgia,ecc…) e farà o mesmo com a Ucrania pois sabe que fazer guerras no dia de hoje nao interesse a ninguem pois sò atrapalha.

Sepulveda

06/03/2022 - 19h18

Cada dia eu me percebo que a imbecilidade independe de diploma; Atacam a Rússia, mas são incapazes de detalhar as inúmeras queixas e pedidos para que a OTAN não avance rumo as suas fronteiras. Os EUA tem centenas de bases militares pela Europa, com armas nucleares, alguém por acaso não sabe o que isso significa? Sufocar Rússia e China para manter o império é uma necessidade e reagir a isso é questão de sobrevivência. Ninguém quer guerra, mas a Guerra Fria nunca acabou para o Ocidente, prova disso é que a OTAN continua a existir para sufocar a Rússia, não mais a URSS. Deveria ter caído com o muro de Berlim, mas sobrevive como símbolo da política do Porrete defendida pelos EUA, como forma de dominar o mundo pela força, reagir a isso é legítimo, burrice é ser cobaia do Ocidente.


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