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Com literatura e diplomacia, Feira do Livro de Havana põe Cuba no mapa cultural internacional

Tradicional evento marca primeira viagem oficial feita pelo governo colombiano à ilha caribenha Publicado em 19/02/2023 – 17:11 Por Gabriel Vera Lopes – Havana (Cuba) Brasil de Fato — Realizada há mais de 40 anos, a Feira Internacional do Livro de Cuba é um espaço voltado ao intercâmbio cultural e literário da América Latina e […]

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Yamil Lage/AFP/Direitos Reservados

Tradicional evento marca primeira viagem oficial feita pelo governo colombiano à ilha caribenha

Publicado em 19/02/2023 – 17:11

Por Gabriel Vera Lopes – Havana (Cuba)

Brasil de Fato — Realizada há mais de 40 anos, a Feira Internacional do Livro de Cuba é um espaço voltado ao intercâmbio cultural e literário da América Latina e do Caribe. O evento é também uma das mais importantes ferramentas culturais da ilha para romper o bloqueio imposto pelos EUA e vencer o isolamento econômico e diplomático que a Casa Branca tenta impor.

A última edição, que ocorre entre os 9 e 19 de fevereiro deste ano, contou com a presença da vice-presidenta da Colômbia, Francia Márquez, a primeira mulher negra a assumir o cargo no país. No discurso de abertura, Márquez apontou que “Cuba e Colômbia são duas nações irmãs que hoje fortalecem suas relações históricas através da cultura”.

A ida de Francia Márquez a Cuba é a primeira viagem oficial feita pelo governo colombiano à ilha caribenha desde que Gustavo Petro tomou posse. Além da participação na Feira Literária, a agenda da vice-presidente contou com encontros com várias organizações civis, incluindo o Centro Memorial Martin Luther King, uma organização não-governamental de inspiração cristã que, em suas próprias palavras, “contribui profeticamente para a solidariedade e a participação popular, consciente, organizada e crítica.”

Márquez aproveitou a oportunidade para exigir que os EUA retirem Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo: “daqui dizemos que um país que está comprometido com a paz não pode ser colocado em uma lista de guerra”, pontua.

Cuba foi adicionada, durante o governo de Donald Trump, na lista de “países que patrocinam o terrorismo” elaborada pelo Departamento de Estado dos EUA. A inclusão ocorreu depois da ilha ter facilitado os Diálogos de Paz entre o governo colombiano e as FARC.

Em cada edição, o evento presta homenagem a importantes figuras literárias e um país é o convidado de honra. Em 2020, última edição presencial do evento, os escritores homenageados foram Ana Cairo Ballester e Eugenio Hernández Espinosa, e o país, o Vietnã.

Preços baixos e editorias fora do circuito tradicional

O diretor da editora estatal mexicana Fondo de Cultura Económica (FCE), Paco Ignacio Taibo II, palestrou no evento para falar sobre a coleção Vientos del Pueblo, um conjunto de livros curtos que são vendidos por 40 pesos cubanos, cerca de U$S 0,32. Em entrevista à agência de notícias espanho EFE, o escritor elogiou o “espírito crítico” das publicações cubanas. “Temos que perder nosso medo da capacidade crítica”, disse Paco.

Os preços baixos são uma característica das prateleiras da feira. Particular ênfase é dada à literatura infantil e juvenil, cujo um livro pode custar em torno de 15 pesos cubanos, ou U$S 0,10 dólares.

“O preço dos livros são praticamente subsidiados, na maioria dos casos, em Cuba. Neste momento, ele está se tornando um desafio. Não somos estranhos a todos os problemas que existem do ponto de vista editorial em escala internacional, que no caso cubano são sempre mais agudos por causa do bloqueio. Isto é um desafio. Uma das prioridades tem a ver com a oferta de variedade e acesso aos livros. Do ponto de vista do preço, sempre houve uma preocupação e uma vontade política expressa de que os livros não se tornem um bem de luxo”, diz Fernando Luis Rojas, diretor editorial da Casa das Américas, ao Brasil de Fato.

A participação de diferentes editoras latino-americanas também tem seu lugar no evento, indo das estatais Editorial del Estado Plurinacional de Bolívia e as publicações venezuelanas de El Perro y la Rana e Monte Ávila, até editoras independentes como a brasileira Expressão Popular e as argentinas Batalla de Ideas e El Colectivo.

Casa das Américas

Uma das principais promotoras da Feira Internacional do Livro de Cuba é a Casa das Américas, uma instituição cultural fundada poucos meses após o triunfo da Revolução Cubana, em 1959. Foi criada e dirigida por Haydee Santamaría, numa época em que mulheres dificilmente ocupavam cargos políticos importantes.

Desde seu início, a organização teve como objetivo fortalecer os laços entre a América Latina e o Caribe através da cultura. Ao longo dos anos, ela desempenhou um papel de liderança na visibilidade e na disseminação da literatura latino-americana e caribenha.

A Casa das Américas concede anualmente um prestigioso Prêmio Literário para diferentes categorias: poesia, contos, romances, peças de teatro e ensaios, além de um concurso para testemunhos, literatura caribenha de língua inglesa e francesa, literatura brasileira e literatura indígena. O objetivo é dar visibilidade às produções culturais de setores que normalmente ficam fora das academias literárias.

“A Feira Internacional do Livro de Cuba tem a ver com a forma como a Casa das Américas entende a cultura e o acesso a ela. A ideia é socializar e popularizar o melhor da contribuição das Letras nas Américas e como elas chegam a Cuba. Sempre foi um esforço trazer o Continente para Cuba e levar Cuba para o Continente, na perspectiva de que não são transferências estrangeiras. Em outras palavras, há uma centralidade, há vasos comunicantes e, ao mesmo tempo, o que temos que fazer é levá-los ao diálogo. Não para transplantar nada, mas para colocar esta perspectiva em diálogo”, avalia Fernando Luis Rojas.

Assim, o compromisso cultural da Feira Internacional do Livro de Cuba segue sendo transformar a Solidão da América Latina – da qual Gabriel Garcia Marquez falou – em reconhecimento mútuo de culturas latino-americanas e caribenhas.

Edição: Thales Schmidt, Sarah Fernandes e Patrícia de Matos

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Comentários

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Paulo

19/02/2023 - 22h39

Exato, Édson Luiz, o tão propalado “bloqueio econômico americano” é só uma muleta da esquerda mais ideologizada, especialmente latino-americana, para tentar justificar o fracasso da economia centralizada e a falta de democracia em Cuba. Tenho tanta pena do povo cubano. Eles poderiam ser um paraíso turístico do Caribe, criando renda e progresso para a Nação. Acho que um dia isso vai acontecer, mas demora, porque autoritários se assenhorearam dos destinos da Nação há décadas, e agora não podem afrouxar o laço, porque certamente seriam linchados pela população, se houvesse uma revolta e derrubada do poder desses canalhas…

EdsonLuíz.

19/02/2023 - 20h55

Nào há esse “bloqueio econômico” propalado pela narrativa da ditadura cubana.

Há impedimento de comercialização de certos itens de tecnologia norte-americana sensível com Cuba, porque certamente iriam parar na mão de regimes monstruosos como Irã, Coreia do Norte e Rússia. E o comércio direto com os Estados Unidos de todos os outros produtos só são feitos com exigência de pagamento a vista, porque os Estados Unidos não comercializam com Cuba por nenhum sistema bancário ou de crédito.

Mas os Estados Unidos é o maior fornecedor de produtos para Cuba em diversas itens. Em alimentação, por exemplo, os Estados Unidos é o maior fornecedor de carne de frango.

E o comércio normal, sem certas exigências, entre Cuba e os Estados Unidos só não ocorre porque Cuba não indeniza os norte-americanos que foram expropriados no início da tomada de poder pelos ditadores cubanos.

O que Cuba deveria fazer é parar de oprimir seu pivo e restabelecer a democracia na ilha.

Kleiton

19/02/2023 - 20h13

“a medicina, a instrução”.

Kleiton

19/02/2023 - 20h13

A famosa literatura cubana, assim como a médico, a saúde e por fim a democracia….kkkkkkkkk


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