A companhia aérea Gol participa nesta terça-feira, 20, de uma audiência na Justiça dos Estados Unidos que pode encerrar seu processo de recuperação judicial, iniciado sob as normas do Capítulo 11 da legislação norte-americana.
A expectativa é de que o plano financeiro da empresa seja aprovado após o encerramento da votação dos credores e a retirada de objeções, conforme informações obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo por meio de documentos judiciais e fontes do setor.
A audiência será conduzida pelo juiz Martin Glenn, responsável pelo caso no Tribunal de Falências do Distrito Sul de Nova York. A Gol conta com apoio majoritário dos credores e assegurou financiamento de US$ 1,9 bilhão para viabilizar a reestruturação. A aprovação judicial nesta etapa final abrirá caminho para a conclusão do processo, prevista para ocorrer em junho, conforme o cronograma estabelecido.
De acordo com os documentos, a Gol captou os recursos por meio de instrumentos de dívida com vencimento em cinco anos, sem recorrer à emissão de novas ações. A medida permitiu evitar a diluição acionária e manter a estrutura societária inalterada.
Os aportes vieram de atuais credores e de novos investidores, responsáveis por injetar US$ 570 milhões. O restante foi levantado com base em compromissos firmados ao longo das negociações, iniciadas no início de 2024.
A reestruturação financeira é considerada estratégica para o posicionamento da Gol no setor aéreo. Segundo analistas, a consolidação de uma base sólida amplia a margem de atuação da companhia, inclusive nas tratativas para uma possível fusão com a Azul, que vêm sendo conduzidas desde janeiro de 2025.
Na ocasião, as duas empresas assinaram um memorando de entendimento visando uma eventual união operacional. O diretor financeiro do Grupo Abra — holding que controla a Gol —, Manuel Irarrázaval, afirmou à época que “não vamos fazer uma transação que eleve a alavancagem, a dívida não vai aumentar”.
Enquanto a Gol avança para o encerramento de seu processo de reestruturação nos Estados Unidos, a Azul enfrenta cenário oposto. De acordo com fontes ligadas ao setor, a companhia voltou a considerar a possibilidade de recorrer ao Capítulo 11, também nos Estados Unidos, como alternativa para reorganizar sua estrutura financeira.
O aumento de custos operacionais, dificuldades na captação de recursos e a instabilidade no ambiente regulatório são apontados como fatores que pressionam as finanças da empresa.
Em comunicado enviado ao mercado, a Azul informou que “monitora constantemente alternativas” para reforçar sua estrutura de capital e manter a liquidez. A companhia também destacou que tem feito progressos na redução da dívida e que mantém negociações com parceiros para melhorar sua posição financeira.
A situação financeira das principais empresas do setor reaqueceu o debate sobre a concentração no mercado de aviação civil brasileiro. Especialistas e entidades ligadas à defesa da concorrência manifestaram preocupações com os efeitos de uma possível fusão entre Gol e Azul, especialmente no que se refere à oferta de rotas e à concorrência em aeroportos estratégicos.
A eventual união das duas companhias reduziria o número de grandes operadores no mercado nacional e poderia impactar os preços e o acesso ao transporte aéreo em determinadas regiões. A análise do processo caberá aos órgãos reguladores, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que já acompanham os desdobramentos do setor.
O encerramento do processo de recuperação judicial da Gol, se confirmado, representará um marco importante em sua trajetória recente, após o impacto da pandemia de Covid-19 e o agravamento da crise do setor aéreo brasileiro. Desde a formalização do pedido de proteção nos Estados Unidos, a empresa passou por ajustes operacionais e renegociação de dívidas com o objetivo de garantir continuidade das operações e preservação de ativos.
Segundo fontes próximas à negociação, a aprovação do plano financeiro sinaliza confiança por parte dos investidores e do mercado. Além disso, reforça a posição da companhia nas discussões estratégicas em andamento, inclusive na hipótese de integração com outras operadoras do setor.
A definição sobre a fusão dependerá da reação da Azul às atuais adversidades financeiras e das decisões que vierem a ser tomadas pelas autoridades reguladoras em relação à estrutura concorrencial do setor. O cenário segue em observação por investidores, instituições financeiras e representantes de consumidores, diante do potencial de mudança no equilíbrio do mercado de aviação comercial no Brasil.
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