O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, anunciou nesta segunda-feira (26) a ampliação da meta de crédito voltada ao setor industrial.
A previsão inicial de R$ 259 bilhões até 2026 foi elevada para R$ 300 bilhões, representando um aumento de R$ 41 bilhões. A declaração ocorreu durante o fórum Nova Indústria Brasil, realizado no Dia da Indústria, com organização do BNDES, do site Brasil 247 e da Agenda do Poder.
O evento reuniu representantes dos setores político, empresarial e acadêmico com o objetivo de discutir estratégias de reindustrialização no país. Ao discursar, Mercadante destacou o papel do Estado no enfrentamento de crises e defendeu a reconstrução de políticas industriais diante de transformações econômicas globais.
Segundo o presidente do BNDES, o cenário internacional atual é caracterizado por instabilidade geopolítica, mudanças nos fluxos econômicos e enfraquecimento de instituições multilaterais.
Para ele, o modelo ocidental de governança liberal passa por um processo de questionamento, o que exige uma nova forma de interação entre os setores público e privado.
“Ou construímos uma relação mais criativa, mais engenhosa, mais inovadora entre Estado e mercado ou dificilmente os países em desenvolvimento poderão reconstruir suas indústrias e superar o hiato tecnológico que nós temos”, afirmou.
Mercadante apresentou dados que, segundo ele, indicam uma mudança na composição do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. De acordo com sua exposição, os Estados Unidos viram sua participação cair de 20,5% para 15%, enquanto a União Europeia passou de 21,7% para 14,7%. No mesmo período, a China aumentou de 6,6% para 18,7%, e a Ásia, como um todo, de 15,6% para 33,4%.
A América Latina, conforme apontado pelo dirigente do BNDES, reduziu sua participação no PIB global de 9,4% para 7,3%. Mercadante relacionou essa perda de relevância ao processo de desindustrialização que, segundo ele, compromete o desenvolvimento produtivo da região. Para reverter esse quadro, defendeu políticas de fortalecimento da indústria e reorientação dos investimentos públicos.
A crise climática também foi abordada no discurso. Mercadante criticou a fragilidade dos compromissos internacionais relacionados ao meio ambiente e apontou a retração de práticas negacionistas como uma mudança importante, especialmente após os efeitos observados durante a pandemia da Covid-19.
“Os Estados Unidos estão rompendo o Acordo de Paris, estamos assistindo ao descompromisso de muitos países com as metas [climáticas]. Quando a gente olha que a UE vai aumentar em 5% os gastos militares em relação ao PIB, sabemos que os recursos para enfrentar a crise climática serão ainda mais escassos”, declarou.
O presidente do BNDES também mencionou ações emergenciais adotadas em resposta a eventos climáticos no Brasil. Referindo-se ao estado do Rio Grande do Sul, afirmou: “Só no Rio Grande do Sul foram R$ 39 bilhões que tivemos que acionar. O PIB do estado se recuperou, cresceu 4,9%, acima do crescimento nacional, por causa do presidente Lula, por causa do compromisso dele, porque ele mobilizou o Estado”.
Ao tratar da reorganização geoeconômica global, Mercadante afirmou que a tendência de desacoplamento entre as economias dos Estados Unidos e da China deve impactar o Brasil de forma distinta em diferentes setores.
Para o agronegócio, avaliou que a nova configuração pode trazer oportunidades, mas apontou que a indústria brasileira enfrentará um cenário mais complexo.
“Para a indústria, o cenário é muito mais desafiador e vai exigir mais talento na defesa comercial, mais parceria do Estado com a indústria, mais recursos para a gente poder continuar esse processo de neoindustrialização do Brasil que deflagramos a partir da vitória do presidente Lula [em 2022]”, declarou.
No balanço apresentado sobre as operações de crédito, Mercadante destacou um crescimento de 132% nas concessões para a indústria entre 2022 e 2024. Reforçou que o BNDES pretende manter uma política de transparência e defendeu ajustes nas condições macroeconômicas para ampliar o crédito produtivo.
Entre os pontos de crítica, mencionou a taxa básica de juros, classificando a atual Selic como incompatível com os objetivos de estímulo à produção. “Estamos enfrentando essa taxa Selic, que é um ponto fora da curva sob qualquer perspectiva que a gente analise. É uma coisa que temos que começar uma transição”, disse.
Ainda sobre política fiscal, fez referência ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), argumentando que, ao contrário da Selic, o tributo tem função arrecadatória e pode contribuir para o equilíbrio da dívida pública. Segundo ele, o recente debate em torno do IOF deve considerar seu impacto sobre a relação dívida/PIB, e não apenas sua interferência sobre o custo de crédito.
O fórum Nova Indústria Brasil se insere no contexto da nova política industrial apresentada pelo governo federal, que tem como meta retomar o papel do setor como vetor de desenvolvimento. A elevação da meta de crédito do BNDES para R$ 300 bilhões até 2026 é uma das iniciativas anunciadas como parte desse esforço.
O banco pretende ampliar as linhas de financiamento a projetos ligados à inovação, sustentabilidade, digitalização e infraestrutura industrial. As condições de crédito e critérios de elegibilidade ainda serão detalhados pela instituição nas próximas semanas.
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