A China implementou um novo sistema automatizado para a fabricação de drones militares em instalações de defesa em Pequim.
A inovação, desenvolvida pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), substituiu o processo manual de perfuração de estruturas de fibra de carbono por robôs industriais com sensores de alta precisão.
A mudança tem reduzido a margem de erro para níveis entre 0,04 mm e 0,1 mm e dobrado a velocidade de produção em comparação aos métodos tradicionais.
As peças de fibra de carbono, que compõem entre 60% e 80% da estrutura dos drones, exigem precisão extrema na perfuração para garantir desempenho aerodinâmico e furtivo, além da correta instalação das cargas úteis. Antes operada por técnicos treinados, a atividade passou a ser realizada por robôs industriais pesados equipados com braços articulados e mecanismos de ajuste micrométrico.
De acordo com um artigo publicado em abril no periódico científico Manufacturing Technology & Machine Tool, o novo sistema foi projetado por pesquisadores liderados por Le Yi, da CAST.
A publicação descreve que os sensores do robô imitam o toque humano, ajustando a pressão em tempo real para realizar furos verticais e escareamentos com uniformidade. A broca é montada em um efetor final paralelo, desenvolvido para manter estabilidade mesmo durante movimentos bruscos.
A detecção da superfície da peça é feita por três feixes de laser que escaneiam a geometria curva da fuselagem do drone. Padrões de deformação são medidos com sondas flutuantes, que ajudam a determinar a profundidade correta da perfuração.
Um modelo digital completo da estação de trabalho, chamado de gêmeo digital, também foi criado para simular a reação de materiais compostos antes do início da perfuração real. Esse sistema virtual permite que engenheiros antecipem deformações e testem estratégias de posicionamento da ferramenta.
Os dados divulgados indicam que a nova técnica tem alcançado um desvio inferior a 0,48 graus e 0,1 mm, superando o requisito militar de 0,5 graus e 0,2 mm. Com isso, o número de peças rejeitadas por falhas estruturais foi eliminado e a montagem dos drones passou a apresentar encaixes perfeitos de rebites e estruturas.
O robô utilizado é fabricado pela Kuka, empresa anteriormente alemã e atualmente controlada pela chinesa Midea. O equipamento foi escolhido por sua capacidade de executar movimentos de alta precisão com robustez estrutural.
Imagens recentes divulgadas pela mídia estatal chinesa mostram linhas de produção automatizadas montando mísseis PL-15. Esse modelo, de uso ar-ar, foi citado por autoridades do Paquistão como o armamento empregado na derrubada de caças indianos em um confronto ocorrido no mês passado. As novas instalações industriais não dependem de mão de obra humana para executar tarefas técnicas, e produzem em ritmo elevado com padrão de consistência.
Os pesquisadores da CAST afirmam no artigo que “drones militares, ao alavancar tecnologias inteligentes e baseadas em informações para conduzir operações aeroespaciais, tornaram-se um componente integral de ‘novos domínios e vantagens qualitativas’ em capacidades de combate”. O documento destaca que a aplicação extensiva de compostos de fibra de carbono permite reduzir o peso total do equipamento e ampliar a carga útil transportada.
A CAST é uma subsidiária da China Aerospace Science and Technology Corporation (CASC), maior conglomerado estatal de defesa aeroespacial da China. A empresa é responsável pela fabricação de mísseis, satélites e veículos espaciais, além de desenvolver e exportar drones militares da série Rainbow, adquiridos por diversos países.
A automação das linhas de produção integra a estratégia do governo chinês de aumentar a eficiência no setor de defesa, reduzir custos e minimizar erros humanos em processos sensíveis. As mudanças ocorrem em meio a uma tendência global de transição para operações militares não tripuladas e baseadas em sistemas inteligentes.
O uso de robôs de alta precisão e a implementação de gêmeos digitais nas linhas de produção representam uma mudança na abordagem da indústria militar chinesa. A CAST afirma que o objetivo é alinhar a produção à demanda por equipamentos confiáveis, operacionais em ambientes hostis e com tolerâncias cada vez mais rigorosas.
O novo modelo de fabricação é apresentado como parte de um esforço mais amplo da indústria aeroespacial da China para consolidar capacidade tecnológica autônoma. O processo reduz a dependência de operadores humanos em tarefas críticas e padroniza a qualidade das peças produzidas.
Com essa infraestrutura, a China amplia sua capacidade de produção em escala de equipamentos militares com características furtivas e aerodinâmicas avançadas. A expectativa, segundo especialistas do setor, é que essas mudanças ampliem a competitividade dos produtos chineses no mercado internacional de defesa e fortaleçam sua presença em zonas de conflito e exportação.
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