O czar da inteligência artificial da Casa Branca, David Sacks, afirmou que a China está a apenas “meses” de alcançar os Estados Unidos em IA, ao mesmo tempo em que garantiu que o país continuará à frente na corrida pelo desenvolvimento dessa tecnologia. Segundo reportagem da Reuters, Sacks fez a observação nesta terça-feira durante o AWS Summit em Washington.
“A China não está anos e anos atrás de nós em IA. Talvez esteja de três a seis meses”, declarou Sacks, que ocupa o cargo pela primeira vez. Em seguida, ele acrescentou: “É uma disputa muito acirrada”. A Casa Branca esclareceu que o comentário se referia a modelos de IA desenvolvidos na China, e não a chips, que, segundo autoridades americanas, têm atraso de um a dois anos em relação aos produzidos nos Estados Unidos.
Sacks também alertou para a estratégia de aquisição de chips por parte da Huawei, alvo de sanções americanas. “Se os chips de IA fabricados pela Huawei estiverem em todos os lugares em cinco anos, isso significa que perdemos… não podemos deixar isso acontecer”, afirmou, segundo a Reuters.
A declaração de Sacks expôs a contradição na posição americana: de um lado, há esforços para conter o avanço da IA na China por meio de restrições; de outro, os Estados Unidos mantêm a narrativa de que ainda detêm posição indiscutível no setor.
Ma Jihua, analista do setor de telecomunicações, afirmou ao Global Times que “os EUA exageram o desenvolvimento da IA na China para alimentar sua narrativa de ‘ameaça chinesa’, justificando novas repressões ao setor de IA da China para manter sua própria liderança. Por outro lado, insistem que os EUA continuam sendo a liderança indiscutível em IA para reforçar sua credibilidade e domínio globais.”
Ma apontou que autoridades americanas alternam narrativas em discursos públicos, resultando em confusão. “Frequentemente, elas mudam de um ponto de vista para outro de forma abrupta”, disse ele.
No setor privado, líderes de empresas americanas também comentaram o avanço chinês. Jensen Huang, CEO da Nvidia, declarou em maio que os controles de exportação de chips de IA adotados pelos EUA foram “um fracasso”, segundo reportagem da CNBC publicada em 29 de maio. Huang afirmou que a política americana partiu do pressuposto de que a China não poderia fabricar chips de IA, hipótese que ele considerou equivocada.
Em entrevista ao Diário do Povo publicada na terça-feira, Ren Zhengfei, CEO da Huawei, afirmou: “Os EUA exageraram as conquistas da Huawei — a empresa ainda não é tão poderosa”. Ren explicou que a companhia recorre a “matemática para compensar a física, abordagens que não se baseiam na Lei de Moore para complementar a Lei de Moore e computação em grupo para compensar as limitações de um único chip, o que também pode gerar resultados práticos”. Questionado sobre bloqueios e sanções, ele disse: “Não pensei nisso; pensar é inútil. Não se detenha nas dificuldades, basta agir e seguir em frente passo a passo.”
No início de maio, o Escritório de Indústria e Segurança do Departamento de Comércio dos EUA emitiu orientação sobre riscos associados ao uso de circuitos integrados de computação avançada chineses, incluindo chips Huawei Ascend.
Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, afirmou que os EUA “extrapolaram o conceito de segurança nacional e abusaram do controle de exportação e da jurisdição de longo alcance para bloquear e suprimir maliciosamente produtos de chips e indústrias de IA da China sem motivo.
A China se opõe firmemente a isso e jamais aceitará”. Lin acrescentou que as autoridades chinesas tomarão medidas para defender seu direito ao desenvolvimento e os interesses de empresas locais.
Tian Feng, presidente do Fast Think Institute e ex-reitor do Instituto de Pesquisa da SenseTime, declarou ao Global Times que, apesar de “avançar em modelos de IA, ainda há trabalho a ser feito em chips”. Ele afirmou estar confiante de que a China poderá competir em pé de igualdade com os EUA no mercado de semicondutores.
Em paralelo, fontes diplomáticas informam que novas rodadas de negociação entre EUA e China devem ocorrer nas próximas semanas, em meio a apelos de autoridades americanas por revisão de políticas de controle de exportação. Analistas acompanham de perto o desenrolar das discussões para avaliar impactos sobre cadeias globais de suprimento de tecnologia.
O debate sobre liderança em IA também envolve aspectos de segurança nacional, interesses comerciais e competição estratégica. Autoridades dos dois países mantêm encontros bilaterais para tratar de regras de uso responsável da tecnologia, bem como acordos para evitar riscos de proliferação de sistemas autônomos de armas alimentados por IA. As tratativas prosseguem com o objetivo de estabelecer limites claros e prevenir escalada de tensão no setor.
A trajetória do setor nos próximos meses será marcada por avaliação de desempenho de modelos de IA, desenvolvimento de chips e evolução de políticas de restrição comercial. Para especialistas, a disputa pode se refletir em novos investimentos em pesquisa, mudanças em fluxos de exportação e adaptação de empresas a cenários de mercado alternativo.
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