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A farsa dos militares, o golpismo bolsonarista e a urgência da defesa na democracia

Depoimento do ex-comandante da Marinha ao STF expõe a perigosa ambiguidade de militares que, com desculpas formais, flertaram com a ruptura democrática Nos últimos dias, mais uma vez, assistimos a um espetáculo deprimente protagonizado por setores das Forças Armadas que insistem em se aproximar do espectro do golpismo. Desta vez, o ex-comandante da Marinha, almirante […]

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Onde termina a preocupação institucional e começa a cumplicidade com o golpismo? A proximidade dos quartéis com o bolsonarismo radical ainda é uma ferida aberta.
A estratégia de usar a transparência como pretexto para minar a confiança nas urnas é uma tática bolsonarista que encontrou eco perigoso dentro das Forças Armadas / Agência Brasil

Depoimento do ex-comandante da Marinha ao STF expõe a perigosa ambiguidade de militares que, com desculpas formais, flertaram com a ruptura democrática


Nos últimos dias, mais uma vez, assistimos a um espetáculo deprimente protagonizado por setores das Forças Armadas que insistem em se aproximar do espectro do golpismo. Desta vez, o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) negando envolvimento com supostos planos golpistas ao lado de Jair Bolsonaro. “Nunca usei essa expressão”, afirmou ele, referindo-se à colocação de tropas da Marinha à disposição do então presidente.

Leia também: Marinha não marchou com Bolsonaro, diz ex-líder

Agora, não é difícil perceber que há um jogo de palavras aqui. Garnier nega ter usado termos específicos, mas não nega — e nem pode negar — o clima de tensão, ameaça e instigação antidemocrática que marcou aqueles dias sombrios no final do governo Bolsonaro. Ele diz que as preocupações eram com a segurança dos quartéis devido à presença de manifestantes nas proximidades, como se isso fosse algo normal ou desvinculado do contexto político inflamado criado pelo próprio Bolsonaro e seus apoiadores.

Ou seja: enquanto os apoiadores fanáticos de Bolsonaro acampavam nos arredores dos quartéis, exigindo intervenção militar, o ex-presidente conversava com os comandantes das Forças Armadas sobre análises e preocupações, segundo Garnier. Mas onde está a linha entre “preocupação” e cumplicidade? Onde fica a responsabilidade institucional de quem ouve, sem reagir, os delírios de um presidente que questiona sistematicamente a legitimidade das urnas e flerta com o golpe?

Garnier também afirmou que não é crítico do sistema eleitoral brasileiro, mas defende mais auditorias. “Quanto mais transparentes os processos, maiores serão as garantias de transições pacíficas.” É uma justificativa elegante para legitimar discursos antidemocráticos. No mundo real, o que vimos foi o uso constante de falas sobre “transparência” como instrumento de desgaste e descredibilização do processo eleitoral — estratégia usada por Bolsonaro e seus aliados para preparar o terreno para contestações violentas e antidemocráticas, como as ocorridas em 8 de janeiro de 2023.

É preciso lembrar que, independentemente das declarações individualizadas de Garnier, o papel das Forças Armadas na tentativa de golpe não pode ser ignorado. Sua simples proximidade com um projeto antidemocrático já fragiliza a República. E pior: coloca em xeque a própria missão constitucional das Forças Armadas, que é defender a pátria e garantir a ordem legal, e não servir como instrumento de chantagem política de um presidente que despreza a Constituição.

Não podemos aceitar esse tipo de discurso híbrido, que mistura formalidades jurídicas com meias verdades e silêncios estratégicos. Se o objetivo era tranquilizar a sociedade, o depoimento do almirante Garnier tem o efeito oposto: mostra o quanto certos setores das Forças Armadas estão permeáveis ao bolsonarismo, ao antipetismo radical e ao antiparlamentarismo extremo. Um perigo real para qualquer democracia que se preze.

Ainda bem que o Brasil resistiu ao golpe. Que Lula voltou democraticamente ao poder. Que as instituições, mesmo abaladas, resistiram. Mas essa resistência não pode ser confundida com complacência. Precisamos continuar investigando, cobrando responsabilidades e, sobretudo, fortalecendo nossa democracia contra todos aqueles que querem subvertê-la, seja com armas, seja com discursos ambíguos que mascaram intenções autoritárias.

A democracia não pode conviver com generais que hesitam entre o dever constitucional e a sedução golpista. Não pode conviver com discursos que legitimam narrativas de ódio e desinformação. E, principalmente, não pode conviver com um bolsonarismo que, mesmo derrotado nas urnas, insiste em contaminar o tecido institucional do país.

A hora é agora: defender a democracia com coragem, enfrentar o bolsonarismo em suas múltiplas formas e exigir das Forças Armadas um compromisso inquestionável com a Constituição — e não com projetos políticos que buscam destruí-la.

Com informações de Metrópoles*

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Rhyan de Meira

Rhyan de Meira é estudante de jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Ele está participando de uma pesquisa sobre a ditadura militar, escreve sobre política, economia, é apaixonado por samba e faz a cobertura do carnaval carioca. Instagram: @rhyandemeira

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