Os principais executivos do setor bancário participaram, na manhã desta terça-feira (9), de uma reunião com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar da crise no modelo atual de financiamento imobiliário no Brasil. A informação foi revelada pelo jornal Valor Econômico, com base em interlocutores que acompanharam as discussões. O encontro foi descrito como um “nivelamento” preparatório para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevista para quinta-feira.
O objetivo da agenda, segundo apuração do Valor, é elaborar uma proposta conjunta para reformular o modelo de crédito habitacional, que enfrenta dificuldades estruturais devido à retração da caderneta de poupança — principal fonte de recursos do setor. As ideias discutidas com os bancos serão levadas por Galípolo diretamente ao presidente da República antes de qualquer divulgação pública.
A redução dos depósitos em poupança, combinada com a taxa Selic elevada (atualmente em 15%), tem limitado a capacidade de financiamento imobiliário dos bancos. Esse cenário levou o Banco Central, a Caixa Econômica Federal e representantes do setor financeiro a buscarem soluções alternativas para garantir a continuidade do crédito para habitação e manter a atividade no setor da construção civil.
Entre as medidas avaliadas, estão soluções emergenciais e de médio prazo. Uma das propostas em análise é a redução dos depósitos compulsórios, o que permitiria liberar recursos de forma imediata para os bancos. Outra alternativa discutida é a ampliação do mercado de securitização, que transformaria contratos de financiamento em papéis negociáveis. Apesar do potencial, essa proposta enfrenta obstáculos relacionados ao custo elevado do crédito e à estrutura do sistema financeiro nacional.
A reunião contou com a presença de representantes das principais instituições financeiras do país, incluindo Isaac Sidney (presidente da Federação Brasileira de Bancos – Febraban), Sandro Gamba (presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança – Abecip), Milton Maluhy (Itaú), Mario Leão (Santander), Carlos Vieira (Caixa Econômica Federal) e Tarciana Medeiros (Banco do Brasil).
A presença desses nomes reforça o peso institucional do tema. A Caixa, maior operadora de crédito habitacional no país, tem papel central nas discussões. Carlos Vieira, seu presidente, também é esperado na reunião com o presidente Lula, segundo fontes do governo federal. A agenda ainda não foi oficializada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), mas está em negociação.
O Banco Central tem defendido publicamente a necessidade de mudança no modelo vigente. Em declarações anteriores, Gabriel Galípolo destacou que o sistema atual, baseado majoritariamente nos depósitos em poupança, se mostra insuficiente para sustentar a expansão da oferta de crédito. “A ideia é encontrar soluções que não apenas tapem buracos momentâneos, mas que possam estruturar um novo ciclo de crédito de longo prazo”, afirmou Galípolo.
A proposta de transição busca não apenas resolver a escassez de recursos no curto prazo, mas também estabelecer novas bases para o financiamento habitacional no país. A meta é garantir a continuidade da oferta de crédito, com foco especial em programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida.
A perspectiva é de que o governo anuncie nos próximos dias medidas voltadas à estabilização e expansão do crédito imobiliário. As propostas devem considerar tanto a atuação dos bancos públicos quanto o papel das instituições privadas, com suporte técnico do Banco Central.
No curto prazo, a redução dos depósitos compulsórios surge como uma alternativa viável para aumentar a liquidez dos bancos. Já o fortalecimento do mercado de securitização depende de ajustes regulatórios e de um ambiente financeiro mais favorável, o que pode exigir articulação com o Congresso Nacional e com os órgãos reguladores.
A escassez de recursos da poupança é reflexo de uma mudança no comportamento dos investidores, que têm buscado aplicações mais rentáveis em um cenário de juros altos. Esse movimento pressiona diretamente a principal fonte de funding do crédito habitacional, afetando tanto os contratos tradicionais quanto os financiamentos subsidiados.
A reunião com Lula será decisiva para definir os próximos passos do governo na área. A expectativa é que o encontro envolva não apenas os presidentes dos principais bancos, mas também ministros ligados à área econômica e representantes do setor da construção civil. A intenção é alinhar uma resposta conjunta que mantenha o fluxo de crédito e evite paralisações em obras habitacionais em andamento.
A preocupação do governo se concentra na preservação do acesso ao crédito para famílias de baixa e média renda, que compõem a maioria dos beneficiários dos financiamentos habitacionais. A manutenção da oferta de moradias, especialmente dentro de programas federais, é vista como estratégica para a política social e para o desempenho da economia nos próximos trimestres.
Com o agravamento da retração da poupança e a pressão do custo do crédito, a reformulação do sistema de financiamento habitacional se tornou prioridade no diálogo entre governo, bancos e Banco Central. A reunião desta terça foi considerada um primeiro passo para viabilizar medidas de curto e longo prazo, com o objetivo de preservar o funcionamento do setor e garantir a continuidade dos investimentos em habitação no país.


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