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Crise com os EUA une Lula e Centrão e isola bolsonarismo em meio a embates no Congresso

A ameaça de sanções comerciais anunciada pelos Estados Unidos a partir de 1º de agosto levou o governo federal e partidos do Centrão a alinharem discursos em defesa da soberania nacional. A movimentação reduziu tensões internas e isolou parlamentares aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que insistem em condicionar a retirada das tarifas à aprovação de […]

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Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A ameaça de sanções comerciais anunciada pelos Estados Unidos a partir de 1º de agosto levou o governo federal e partidos do Centrão a alinharem discursos em defesa da soberania nacional. A movimentação reduziu tensões internas e isolou parlamentares aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que insistem em condicionar a retirada das tarifas à aprovação de uma anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.

Após semanas de desgaste entre o Palácio do Planalto e o Congresso em razão do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a ofensiva do governo norte-americano motivou um reposicionamento político no Legislativo. O novo cenário é visto como oportunidade de reconstrução institucional, de acordo com interlocutores do Executivo.

Segundo o senador Renan Calheiros (MDB-AL), a reaproximação tem efeitos diretos sobre a estabilidade entre os Poderes. “Acho que já ampliou o leque de apoio ao governo, aproxima setores econômicos refratários, desgasta, como nunca, o bolsonarismo e refaz a relação harmoniosa entre Poderes”, afirmou.

A avaliação predominante entre parlamentares é que a medida anunciada por Donald Trump enfraquece a retórica de aliados do ex-presidente e pressiona partidos do centro a adotarem uma postura de unidade nacional. Mesmo assim, líderes do PP, MDB, União Brasil e PSDB apontam que o alinhamento é conjuntural e pode não se manter quando o cenário externo se estabilizar.

Dentro do próprio Centrão, há desconforto com a condução política de bolsonaristas. O líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), criticou o posicionamento de opositores. “O que me chama atenção é essa capacidade de entreguismo do bolsonarismo. Eles colocam o boné [do Trump] e, ao mesmo tempo, se enrolam na bandeira do Brasil. É a definição de oportunismo. Houve esse alinhamento do governo com o centro, sim. Houve um sentimento de unidade. Quem tem sentimento de patriotismo tem que se unir. Eu acho que isso vai reacender essa unidade em defesa do Brasil.”

Votações no Congresso intensificam tensão política

O ambiente de convergência ocorre em meio a uma pauta legislativa extensa. Nesta segunda-feira, a Câmara dos Deputados inicia a votação do projeto que altera as regras de licenciamento ambiental. A proposta flexibiliza critérios para autorizações ambientais e conta com apoio de ministérios como Casa Civil, Transportes, Agricultura e Minas e Energia, que apontam ganhos em agilidade para obras de infraestrutura.

O governo federal ainda não firmou posição sobre o texto. O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), está em diálogo com diferentes bancadas partidárias. Caso seja aprovado, o projeto seguirá para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que poderá vetar total ou parcialmente o conteúdo. O Congresso, no entanto, mantém prerrogativa de derrubar eventuais vetos.

A matéria já passou pelo Senado em maio, com articulação do senador Davi Alcolumbre (União-AP), que incluiu a criação da “Licença Ambiental Especial (LAE)”. A emenda autoriza licenças simplificadas para empreendimentos considerados estratégicos, mesmo com potencial de causar impactos ambientais relevantes. Entidades ambientais alertam para a possibilidade de decisões políticas se sobreporem a análises técnicas, favorecendo projetos sem viabilidade ecológica.

Propostas sobre segurança e Imposto de Renda também avançam

Além do projeto ambiental, duas propostas de grande repercussão estão previstas para análise nas comissões. A primeira é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, defendida pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. A segunda trata da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores com salários de até R$ 5 mil.

A proposta de isenção, relatada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deve gerar impacto fiscal estimado em R$ 27 bilhões por ano. O parlamentar ainda negocia formas de compensação para evitar desequilíbrio nas contas públicas. Apesar disso, integrantes do governo consideram a medida uma estratégia para ampliar a base de apoio entre os assalariados formais e reforçar a imagem de responsabilidade social da atual gestão.

Isolamento bolsonarista e efeitos eleitorais

A nova conjuntura política é interpretada por lideranças como sinal de enfraquecimento da base bolsonarista. A insistência de aliados de Bolsonaro em condicionar acordos comerciais com os Estados Unidos à aprovação de uma anistia para participantes dos atos de 8 de janeiro tem causado incômodo inclusive entre partidos tradicionalmente próximos do ex-presidente.

Segundo um dirigente do União Brasil, a posição do grupo oposicionista contrasta com o atual momento político. “A política muda rápido, mas ninguém vence defendendo outro país contra o seu”, afirmou.

O impacto imediato da crise pode se estender às eleições presidenciais de 2026. Com o centro político assumindo protagonismo em pautas nacionais e a oposição enfrentando divisões internas, o isolamento do bolsonarismo no Congresso tende a se acentuar. A expectativa de interlocutores é que a gestão Lula utilize a conjuntura internacional como catalisador para recompor alianças e fortalecer sua posição institucional.

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