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Drones atingem refinaria e deixam o Sudão às cegas

As explosões em Omdurman e Al-Jaili revelam o avanço da guerra civil que já matou milhares e deixou milhões sem abrigo nem eletricidade No Sudão, a tragédia não é apenas uma estatística. Ela é real, visceral, diária. Na terça-feira, 9 de setembro, drones das Forças de Apoio Rápido (RSF) — uma força paramilitar em conflito […]

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Drones das Forças de Apoio Rápido atingiram subestações e áreas militares em Cartum, causando blecautes e ampliando o colapso do sistema energético sudanês / Reprodução

As explosões em Omdurman e Al-Jaili revelam o avanço da guerra civil que já matou milhares e deixou milhões sem abrigo nem eletricidade


No Sudão, a tragédia não é apenas uma estatística. Ela é real, visceral, diária. Na terça-feira, 9 de setembro, drones das Forças de Apoio Rápido (RSF) — uma força paramilitar em conflito com o Exército nacional desde abril de 2023 — atingiram áreas estratégicas em Cartum, a capital. O ataque, que incluiu a subestação elétrica de Al-Markhiyat, na cidade de Omdurman, provocou uma queda generalizada de energia, deixando milhares de pessoas sem eletricidade e agravando ainda mais as condições de vida já precárias em um país devastado pela guerra.

O que vimos nas redes sociais — transformadores em chamas, ruas mergulhadas na escuridão, civis em pânico — é mais do que imagens chocantes. É a face visível de uma crise humanitária que, há mais de dois anos, escapa ao controle da comunidade internacional. E que, com cada novo ataque, cada nova ofensiva, cada nova falha diplomática, se aprofunda de forma inaceitável.

Atacar uma subestação elétrica não é apenas um golpe militar — é um crime contra a população civil. A energia elétrica é essencial para o funcionamento de hospitais, escolas, serviços públicos e até mesmo para o acesso à informação. Quando a luz se apaga, as consequências se estendem muito além do imediato: pacientes em UTIs correm risco de vida, crianças deixam de frequentar aulas, e a cadeia de abastecimento de água e alimentos é comprometida.

As RSF, ao direcionar seus drones contra infraestrutura civil, demonstram um desprezo total pelas normas internacionais de proteção à população. É uma estratégia de guerra que não visa apenas vencer o inimigo, mas subjugar a população — uma tática comum em conflitos contemporâneos, mas não por isso menos condenável.

O Sudão é um dos maiores focos de sofrimento humano no mundo. Desde abril de 2023, mais de 20 mil pessoas morreram, e quase 15 milhões foram deslocadas — dentro e fora do país. Pesquisadores dos EUA estimam que o número real de mortos já ultrapasse 130 mil. Apesar disso, o conflito entre o Exército sudanês e as RSF raramente ocupa espaço nas primeiras páginas ou nos noticiários internacionais. Por quê? Será que o mundo só se importa com guerras quando elas afetam países “estratégicos” ou quando envolvem atores globais de destaque?

A esquerda humanitária tem o dever de manter o foco nesses dramas esquecidos. A dor de um refugiado sudanês não é menos importante do que a de um europeu ou de um americano. A fome de uma criança em Darfur não dói menos do que a de qualquer outro lugar do mundo. A vida de um médico que teve que abandonar seu hospital por medo de morte é tão preciosa quanto qualquer outra.

O ataque desta semana ocorre em um contexto mais amplo de intensificação do conflito. O Exército sudanês, nos últimos dias, tem intensificado operações em Kordofan, no centro do país, tentando retomar o controle de cidades estratégicas e romper o cerco das RSF à cidade de El Fasher, no norte de Darfur. El Fasher, que abriga um importante centro humanitário, tem sido palco de intensos combates desde maio de 2024. Milhares de civis estão presos no fogo cruzado, sem acesso a alimentos, medicamentos ou assistência básica.

A ONU e outros organismos internacionais alertaram repetidamente para os riscos de uma catástrofe humanitária completa. Mas alertas não bastam. A ação concreta, com pressão diplomática e assistência humanitária efetiva, é o que falta — e é urgente.

Quinze milhões de pessoas deslocadas — isso significa quase um em cada sete sudaneses teve que deixar sua casa. Muitos estão em campos de refugiados, em condições precárias, sem garantia de segurança, alimentação ou cuidados médicos. O impacto psicológico desse deslocamento forçado é imenso. Famílias inteiras se desfizeram, comunidades foram destruídas, e o futuro de milhões de pessoas está em suspenso.

A comunidade internacional precisa agir com urgência para garantir o acesso humanitário irrestrito a todas as áreas afetadas pelo conflito. E precisa pressionar tanto o Exército quanto as RSF a respeitarem os civis e a infraestrutura civil — um dever que transcende qualquer disputa política ou de poder.

A esquerda humanitária acredita que a paz só será possível com justiça. Isso significa investigar e responsabilizar os autores de crimes de guerra, inclusive os ataques deliberados a civis e infraestrutura civil. Mas também significa criar espaços de negociação realistas, com mediação internacional séria e comprometida com os direitos humanos.

O Sudão merece um futuro melhor. Seu povo merece segurança, dignidade e esperança. Mas isso só será possível se o mundo parar de olhar para o outro lado e assumir a responsabilidade de proteger quem está indefeso.

Em meio à brutalidade do conflito no Sudão, o que resta são os rostos das vítimas. São os civis que dormem com medo, que fogem com o que têm nas costas, que tentam reconstruir suas vidas em campos improvisados ou em países estrangeiros. São os profissionais de saúde que continuam atendendo, apesar de tudo. São as crianças que, apesar do horror, ainda sorriem.

A esquerda humanitária tem um compromisso inegociável: defender a vida. E defender a vida é exigir que os governos, as instituições internacionais e a sociedade civil se mobilizem para pôr fim a essa guerra. É urgente. É moral. E é possível.

Com informações de Agência Anadolu*

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