Sob gritos de ‘construir poder popular’, deputado do Psol chama escala 6×1 de ‘vergonhosa’ e defende taxação das bets
Em um evento concorrido no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu posse ao novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República (SG/PR), Guilherme Boulos (Psol), em uma cerimônia na tarde desta quarta-feira (29), em Brasília. Ele substitui o agora ex-ministro Márcio Macêdo.
Boulos foi recebido no salão nobre do palácio sob gritos de “lutar, construir poder popular”. Diante de representantes de movimentos sociais de todo o país, sobretudo do movimento de luta por moradia, origem da trajetória política do novo ministro, que agradeceu a confiança do presidente da República.
“Orgulho de fazer parte do governo do presidente que sabe que a cabeça do crime organizado desse país não está no barraco de uma favela. Muitas vezes está na lavagem de dinheiro lá na Faria Lima”, disse o ministro, agregando que a missão dada por Lula foi percorrer o país e dialogar com os mais diversos setores.
“O presidente Lula me deu a missão, como ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, de ajudar nessa reta final do seu terceiro mandato a colocar o governo na rua, a rodar todos os desse país, ouvir as pessoas, conversar olho no olho, ter a humildade de ouvir críticas e, ao mesmo tempo, apresentar o que o nosso governo tem feito pelo povo brasileiro, pela maioria do nosso povo”, declarou. “A proposta é dialogar com todo mundo, não só com quem já concorda com a gente”, completou.
Finalmente, o novo ministro agradeceu e parabenizou Márcio Macêdo pelo trabalho realizado até então. “Márcio, quero te agradecer em nome de todo movimentos sociais pelo trabalho incrível de reconstrução do processo de participação social do governo federal nesse país. Parabéns. Isso não vai ser esquecido e vai ser honrado”, se comprometeu.
“Meu papel aqui nesse palácio vai ser ajudar, continuando o trabalho que o Márcio fez, a dar ainda mais voz para os catadores, para as trabalhadoras domésticas, para o sem teto e o sem terra, o agricultor familiar que produz sem veneno para os quilombolas, os povos indígenas e para os trabalhadores desse país que não aguentam mais a vergonhosa escala 6 por 1”, disse o novo ministro, referindo a esses e outros projetos do governo que ainda dependem de avanço no Legislativo, sem mencionar o parlamento.
“Nosso papel vai ser também expor a hipocrisia, presidente, desses que dizem ser contra o sistema e defender o povo. Se são contra o sistema, porque é que não apoiam a nossa proposta de taxar bilionário e bets. Por que não vem junto com a gente para acabar com a escala 6 por 1 para milhões de trabalhadores brasileiros?”, provocou.
Durante seu discurso, Boulos pediu um minuto de silêncio pelos mortos no massacre ocorrido no Rio de Janeiro, na terça-feira (28).
Despedida
Despedindo-se do cargo, Márcio Macêdo fez um longo discurso, no qual elencou uma série de avanços obtidos a partir de sua gestão à frente da Secretaria-Geral. “Usando a metáfora do futebol, que o nosso presidente tanto gosta, Brasil venceu a Copa das Américas e também ergueu o troféu da Copa do Mundo da participação social. O mundo viu e aplaudiu uma política de Estado que privilegia a inteligência coletiva. Permitam-me falar com franqueza. Houve quem dissesse que participação atrapalha e que ouvi o povo atraso entregas. Nós respondemos trabalhando e o Brasil viu”, disse o agora ex-ministro, que também agradeceu a confiança do presidente Lula.
“Meu querido companheiro, amigo e líder, meu sentimento se resume em uma única palavra: gratidão. Muito obrigado”, disse, dirigindo-se ao presidente.
“Deixo esta missão convicto de que a participação social não volta mais para a gaveta. A chave agora é coletiva, é de vocês, os movimentos sociais organizados desse país. Quero com meu respeito e apoio, desejar ao ministro Guilherme Boulos uma grande e fecunda gestão. Entrego uma transição transparente de valorização ao legado que deixamos na participação social. Seguimos juntos no mesmo projeto”, declarou Macêdo.
Concorrida cerimônia de posse do Secretário-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos, realizada no Palácio do Planalto | Valter Campanato/Agência Brasil
Prestígio
Além de dezenas de representantes de movimentos populares, estiveram presentes na cerimônia de posse ministros do governo, os governadores da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) e do Ceará, Elmano Freitas (PT), a família do novo ministro, além de deputados federais e estaduais.
Ceres Hadich, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vê com otimismo a indicação de um militante forjado nas lutas sociais, para comandar o ministério responsável pela articulação com os movimentos populares.
“Estamos confiantes na escolha que o presidente Lula fez. A gente acredita que essa mudança vai vir para dar mais energia para a participação popular, para o enraizamento das organizações no território brasileiro, que é tão importante para a gente poder dar energia também para o governo brasileiro”, disse a dirigente.
A cientista política e ex-deputada federal Áurea Carolina, fez questão de estar em Brasília para a posse do companheiro de militância política.
Bella Gonçalves (Psol), atualmente deputada estadual em Minas Gerais, tem uma trajetória política parecida com a do novo ministro, tendo iniciado sua militância na luta por moradia, e logo chegado à institucionalidade. Para a parlamentar, Boulos chega à Secretaria-Geral para fazer desse um governo “pé no chão”.
“A gente está vivendo agora um momento de ataque à democracia e ataque ao povo. Vivemos a maior chacina da história do Brasil recente que aconteceu de ontem para hoje no Rio de Janeiro. A direita com uma pauta muito bem definida de atacar direitos, atacar pessoas, tensionar os limites da democracia. E a gente só vai conseguir enfrentar isso se, de fato, o governo Lula for um governo que esteja com os pés no chão. E aí eu digo, não apenas com os movimentos sociais, que é de onde Boulos vem, de onde eu venho, mas é com o povo”, disse a deputada ao Brasil de Fato.
Já a deputada estadual de São Paulo, Ediane Maria (Psol), se emocionou ao ver seu amigo ocupando um cargo de tamanha importância, ao lado do presidente Lula. “É uma reparação, é colocar o povo de fato no centro do debate. O Guilherme tem um papel que é fundamental, tenho muito orgulho de andar com ele, porque nós temos um trabalho muito enraizado na periferia. Inclusive é um ministério que é fundamental para a reeleição do nosso presidente Lula, porque ele vai colocar o governo na rua”, disse Ediane.
“Então, quando a gente olha para esse ministério, olha para o Guilherme Boulos à frente, eu olho e falo, existe esperança, tem jeito. O Lula não escolheu à toa. O Lula sabe o que o Guilherme representa”, considerou a deputada, interrompida em seguida por um cadeirante: “Eu tenho 51 anos, nasci em Brasília, nunca entrei aqui na minha vida. A gente, nunca teve essa prioridade”, disse Paulo Sérgio.
“Essa é a expressão do que eu quis dizer aqui”, finalizou Ediane Maria.
Publicado originalmente pelo Brasil de Fato em 29/10/2025
Por Leonardo Fernandes – Brasília (DF)
Edição: Luís Indriunas


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