O projeto do trem de alta velocidade (TAV) que promete ligar Rio de Janeiro e São Paulo em apenas 1h30 voltou a avançar, mas também sofreu um novo adiamento. A TAV Brasil, empresa autorizada a construir e operar a ferrovia, confirmou que as obras — antes previstas para 2027 — agora devem começar somente em 2028, com início da operação comercial projetado para 2032.
A expectativa é transportar até 30 milhões de passageiros por ano, o equivalente a cerca de 45 mil pessoas por dia, o que colocaria o serviço como o sistema ferroviário mais rápido da América do Sul e transformaria uma das rotas mais movimentadas do país.
Licenciamento ambiental atrasa início das obras
Em entrevista ao Poder360, o CEO da TAV Brasil, Bernardo Figueiredo, afirmou que o atraso no cronograma decorre da demora no processo de licenciamento ambiental conduzido pelo Ibama. Segundo ele, a sobrecarga de trabalho do órgão — priorizando projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) — atingiu diretamente o andamento do trem-bala.
“Houve uma demora no licenciamento ambiental em função da sobrecarga de trabalho do Ibama, já que os projetos do PAC são prioritários, e o TAV não está no PAC”, explicou.
Mesmo com o novo prazo, Figueiredo afirma que o projeto segue avançando em engenharia, consolidação de parcerias internacionais e preparação de estudos que serão apresentados a investidores até 2027.
417 km de extensão e integração com sistemas urbanos
O projeto prevê uma linha de 417 quilômetros entre as duas maiores metrópoles do país. As estações deverão ser integradas ao metrô e aos trens urbanos no Rio e em São Paulo, permitindo conexão direta com modais já existentes, como forma de ampliar a demanda e reduzir deslocamentos complementares.
A tarifa planejada deverá variar entre R$ 300 e R$ 500, valores definidos conforme o nível de serviço. A ideia, segundo a TAV Brasil, é oferecer preços competitivos em relação ao transporte rodoviário e aéreo, que hoje dominam o fluxo entre as capitais.
“A ideia é ter preços competitivos tanto com o ônibus quanto com o avião”, afirmou Figueiredo.
Com o tempo estimado de 1h30, o trem pode capturar parcela importante do tráfego aéreo entre Rio e São Paulo — uma das rotas mais movimentadas do mundo e com preços que oscilam bastante conforme a demanda.
Autorização da ANTT e investimento 100% privado
Em 2023, a TAV Brasil recebeu da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a autorização para construir e operar o trem de alta velocidade por 99 anos. O aval foi concedido com base na Lei das Ferrovias, que permite concessões privadas sem necessidade de licitação.
O investimento previsto é de R$ 60 bilhões, integralmente privado, sem aporte de recursos públicos. O modelo foca em atrair fundos internacionais e empresas com expertise em ferrovias de alta velocidade, sobretudo da Europa e da Ásia.
A empresa afirma que a estrutura financeira está praticamente definida, com prioridade para mecanismos de project finance, em que o próprio fluxo de receita do empreendimento é utilizado como garantia para financiamentos.
Projeto acumula 35 anos de tentativas
Embora a TAV Brasil tenha sido fundada em 2022, a proposta de um trem-bala Rio–São Paulo é discutida há mais de 35 anos. Os primeiros estudos datam dos anos 1980, ainda na fase final da Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Desde então, diferentes governos retomaram a ideia:
em 2009, o projeto chegou a ser incluído no PAC;
em 2010, houve tentativa de licitação que não avançou;
em 2012 e 2014, novos modelos foram discutidos, também sem sucesso;
posteriormente, a Empresa de Planejamento e Logística (EPL) tentou revisar o traçado e atualizar custos.
Os entraves principais sempre foram o valor bilionário do investimento, a complexidade do licenciamento, o modelo de financiamento e o elevado risco de demanda. Agora, pela primeira vez, o projeto opera sob um marco regulatório que permite iniciativa totalmente privada.
Próximos passos e entrega da documentação ao governo
Segundo Figueiredo, o estudo de viabilidade está em fase final e deve ser apresentado formalmente ao governo federal ainda em 2025. O documento incluirá:
projeções financeiras;
impactos ambientais;
definição das áreas físicas e estações;
plano de engenharia;
estimativa de demanda;
cronograma executivo de obras.
O material servirá para orientar o Ibama, a ANTT e demais órgãos envolvidos no processo de autorização final do traçado e do início das obras.
Impacto esperado na mobilidade entre as capitais
Se concluído dentro do novo cronograma, o trem-bala deverá alterar significativamente o padrão de deslocamento entre Rio e São Paulo. Além de oferecer menor emissão de carbono por passageiro, o TAV permitiria:
redução de viagens aéreas na ponte aérea, hoje sobrecarregada;
diminuição de congestionamentos rodoviários na Via Dutra;
maior integração entre polos de negócios;
estímulo a novos investimentos logísticos e imobiliários ao longo do trajeto.
Figueiredo avalia que a combinação de tempo de viagem competitivo, integração urbana e conforto pode consolidar o trem como a principal opção entre as duas capitais. “É um projeto transformador”, afirma.


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