O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) escapou da cassação e teve seu mandato suspenso por seis meses após decisão do Plenário da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (10).
A votação encerrou semanas de articulação política intensa, protestos nacionais e uma mobilização que envolveu viagens a todos os estados do país. Apesar da punição, o parlamentar mantém seus direitos políticos, permanece elegível e seguirá atuando publicamente enquanto durar a suspensão.
Nas redes sociais, Glauber comemorou o resultado com a frase:
“A mobilização popular venceu!”
Segundo ele, a defesa do mandato extrapolou sua trajetória individual e tornou-se uma pauta política nacional. Em texto publicado após a votação, afirmou:
“Rodamos os 26 estados e o Distrito Federal com a Caravana Glauber Fica. Mostramos que a defesa de um mandato vai muito além de um cargo: é a defesa de um instrumento de luta da classe trabalhadora.”
O deputado reiterou que continuará atuando em defesa de direitos e da democracia:
“Seguimos firmes na luta contra a anistia, em defesa dos direitos e para transformar a realidade.”
Como foi a votação que evitou a cassação
A cassação exigia 257 votos favoráveis, mas não alcançou apoio suficiente. Em seguida, a Câmara aprovou uma punição alternativa, definindo a suspensão do mandato por seis meses. A medida foi aprovada por 318 votos a 141, com três abstenções.
Pouco antes, outro movimento interno já havia sinalizado a tendência do Plenário: parlamentares aprovaram, por 226 votos a 220, a preferência pelo substitutivo que retirava a cassação e incluía a suspensão. A proposta foi apresentada pelo deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) e contou com apoio de diferentes bancadas, entre elas PSD e MDB.
Com isso, a representação contra Glauber foi encerrada, e o parlamentar evitou se tornar inelegível.
Por que Glauber respondia ao processo
O caso teve origem em abril de 2023, quando Glauber reagiu fisicamente a provocações do integrante do MBL Gabriel Costenaro. Segundo o deputado, o episódio ocorreu após uma ofensa direcionada à sua mãe, que estava internada na UTI na época.
No Plenário, Glauber discursou emocionado, afirmando:
“Calar o mandato de quem não se corrompeu é sim uma violência.”
O relator do caso no Conselho de Ética, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), defendia a cassação. Ele afirmou que houve ampla análise técnica e que o caso já havia sido debatido exaustivamente:
“Acredito que temos que manter todos os conhecimentos apresentados e debatidos.”
A posição, porém, não obteve apoio suficiente entre os parlamentares.
Argumentos de quem defendeu a suspensão, e não a cassação
Diversos deputados argumentaram que a cassação seria uma medida desproporcional ao caso. O deputado Hildo Rocha (MDB-MA) afirmou:
“Glauber errou, mas isso não é motivo de cassação.”
A deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), que integra a oposição e votou pela suspensão, contextualizou a reação do deputado diante da situação familiar:
“Glauber erra muito. Mas a mãe dele estava na UTI. Eu daria também um tapa [se estivesse na mesma situação].”
A avaliação predominante foi a de que, embora a agressão de Glauber devesse ser punida, a cassação seria uma penalidade extrema, capaz de abrir precedentes problemáticos para a Casa.
Mobilização nacional influenciou decisão
Ao longo das últimas semanas, o gabinete de Glauber organizou atos públicos, plenárias, manifestações e uma caravana batizada de “Glauber Fica”, que percorreu os 26 estados e o Distrito Federal. A campanha buscou demonstrar que o mandato representava pautas amplas ligadas à classe trabalhadora e à oposição ao governo Bolsonaro, cujo legado Glauber critica publicamente.
A mobilização ganhou atenção nas redes sociais e entre movimentos sociais, que pressionaram parlamentares a rejeitar a cassação. Segundo aliados, o movimento ajudou a consolidar votos em bancadas variadas.
O que acontece agora
Com a suspensão aprovada, Glauber:
perde temporariamente o exercício do mandato;
mantém seus direitos políticos;
segue apto a disputar eleições;
pode atuar politicamente fora das atividades legislativas.
Ele retomará seu mandato ao final do período de suspensão, previsto para meados de 2026.A decisão também tem implicações políticas mais amplas: setores do governo e da oposição avaliaram que a cassação poderia acirrar tensões internas na Câmara, enquanto a suspensão foi vista como uma solução intermediária que evita rupturas.
Significado político da frase “A mobilização popular venceu”
A expressão, repetida por Glauber e por seus apoiadores após o resultado, simboliza a leitura de que a pressão social foi decisiva para impedir a cassação, especialmente diante de uma votação com margem apertada nos primeiros encaminhamentos.
Para o parlamentar, o desfecho reforça sua atuação como representante de posições críticas dentro do Congresso e, ao mesmo tempo, fortalece sua presença no campo da esquerda, que vinha temendo a possibilidade de perda do mandato de um de seus nomes mais combativos.


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