A escalada de tensão entre Estados Unidos e Venezuela ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira (22), com a Rússia declarando apoio explícito ao governo de Nicolás Maduro diante do bloqueio imposto por Washington ao tráfego de petroleiros que entram e saem do país. A manifestação ocorreu um dia após a interceptação de uma terceira embarcação próxima à costa venezuelana, ampliando o alcance da ofensiva americana no Caribe.
O respaldo russo foi confirmado pelo chanceler da Venezuela, Yvan Gil, após conversa telefônica com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. Segundo Gil, o diplomata russo “expressou a firme solidariedade da Rússia com o povo da Venezuela e com o presidente Nicolás Maduro Moros, e reafirmou seu total apoio diante das hostilidades contra nosso país”. Ainda de acordo com o ministro venezuelano, Lavrov afirmou que Moscou oferecerá “todo o respaldo” às iniciativas da Venezuela no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
Com isso, a Rússia se somou à China, que também declarou apoio ao governo Maduro nesta segunda-feira. Pequim e Moscou figuram entre os principais aliados internacionais da Venezuela e têm criticado publicamente as ações adotadas pela Casa Branca. Embora autoridades russas já tenham prometido ajudar Caracas diante do aumento das tensões com os Estados Unidos, não detalharam como esse auxílio poderia se concretizar. Na semana passada, a chancelaria russa afirmou que a deterioração do confronto entre Washington e Caracas poderia gerar “consequências imprevisíveis” para o Ocidente. Em resposta, a Casa Branca declarou que a Rússia não teria condições de oferecer mais do que apoio retórico à Venezuela, em razão do envolvimento militar na guerra da Ucrânia.
O mesmo oficial disse que o navio interceptado no domingo estava sujeito às sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, em linha com o “bloqueio total” anunciado por Trump na semana passada contra petroleiros sancionados que operam na Venezuela. Ainda segundo a Reuters, o petroleiro apreendido no sábado não constava na lista oficial de sanções.
Pouco depois da divulgação da nova interceptação, o presidente Nicolás Maduro afirmou que seu país enfrenta “uma campanha de agressão de terrorismo psicológico e corsários que assaltaram petroleiros”. Não ficou claro se a declaração se referia diretamente à ação americana revelada no domingo. Em publicação nas redes sociais, Maduro afirmou: “A Venezuela vem denunciando, enfrentando e derrotando há 25 semanas uma campanha de agressão que vai desde o terrorismo psicológico até corsários que assaltaram petroleiros. Estamos preparados para acelerar a marcha da Revolução profunda”.
Além do navio interceptado no domingo, os Estados Unidos apreenderam no sábado (20) o petroleiro Centuries e, no último dia 10, o Skipper. Poucos dias antes, Trump havia anunciado publicamente o bloqueio a todas as embarcações sancionadas que entram ou deixam portos venezuelanos, movimento interpretado por analistas como uma intensificação da pressão americana.
As interceptações fazem parte de uma campanha mais ampla de pressão contra o governo Maduro, que inclui mobilização militar no mar do Caribe, sobrevoos no espaço aéreo venezuelano e ataques a embarcações. O objetivo central da estratégia é restringir a principal fonte de receitas da Venezuela: o petróleo.
O país detém a maior reserva comprovada de petróleo do mundo, com cerca de 303 bilhões de barris, o equivalente a aproximadamente 17% do volume global conhecido, segundo a Agência de Informação de Energia dos Estados Unidos (EIA). A maior parte desse petróleo, no entanto, é extra-pesado, o que exige tecnologia avançada e investimentos elevados para sua exploração. As sanções internacionais e a precariedade da infraestrutura limitam a capacidade de produção e exportação venezuelana.
Há também interesse estratégico dos Estados Unidos nesse cenário. De acordo com a EIA, o petróleo pesado da Venezuela “é bem adequado às refinarias norte-americanas, especialmente às localizadas ao longo da Costa do Golfo”. Assim, ao pressionar Caracas, o governo Trump atua simultaneamente para favorecer interesses econômicos internos e enfraquecer financeiramente o regime de Maduro.
Os efeitos das medidas já começam a aparecer. Reportagem da Bloomberg News indicou que a Venezuela enfrenta dificuldades para armazenar petróleo, em razão das restrições impostas por Washington à circulação de navios. Desde 2019, quando os Estados Unidos ampliaram as sanções ao setor energético venezuelano, compradores passaram a recorrer a uma chamada “frota fantasma”, formada por navios-tanque que ocultam sua localização ou já foram sancionados por transportar petróleo do Irã ou da Rússia.
A China permanece como a maior compradora do petróleo venezuelano, responsável por cerca de 4% de suas importações. Em dezembro, os embarques devem alcançar uma média superior a 600 mil barris por dia, segundo analistas ouvidos pela Reuters. Apesar disso, o mercado internacional segue bem abastecido no curto prazo, com milhões de barris armazenados em navios-tanque próximos à costa chinesa.
Analistas avaliam que, caso o bloqueio persista, a retirada de quase um milhão de barris diários da oferta global poderá pressionar os preços do petróleo para cima. As ações contra petroleiros ocorrem no mesmo contexto em que Trump ordenou ao Departamento de Defesa uma série de ataques contra embarcações no Caribe e no Oceano Pacífico, que o governo americano acusa de contrabandear fentanil e outras drogas ilegais. Desde setembro, pelo menos 104 pessoas morreram em 28 ataques conhecidos.
Em entrevista à revista Vanity Fair publicada nesta semana, a chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, afirmou que Trump “quer continuar explodindo barcos até Maduro gritar ‘tio’”.


Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!