Aumento tarifário torna Brasil o país mais afetado pelas sanções comerciais dos EUA; entidades industriais e agrícolas criticam decisão e pedem diálogo diplomático
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar para 50% a tarifa sobre todos os produtos importados do Brasil provocou reação imediata de entidades representativas da indústria e da agricultura brasileiras. A medida, anunciada unilateralmente por Washington, passará a valer a partir de 1º de agosto e transforma o Brasil no país mais atingido entre os 22 alvos das novas avaliações comerciais do governo norte-americano.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) divulgaram notas públicas nesta quinta-feira (7) criticando a política tarifária adotada por Trump. As entidades manifestaram apoio à postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e defenderam uma solução diplomática para o impasse comercial.
Segundo o portal Metrópoles, que divulgou as manifestações, a CNA afirmou que a medida “não se justifica pelo histórico das relações comerciais entre os dois países, que sempre se desenvolveram em clima de cooperação e de equilíbrio”. A entidade também destacou os prejuízos mútuos que a elevação tarifária pode causar para empresas e consumidores em ambos os países.
A tarifa de 50% se soma a uma anterior, de 10%, em vigor desde abril, ampliando o escopo de restrições a uma lista abrangente de produtos brasileiros. Além de bens agrícolas e industriais, a nova medida inclui sobretaxas sobre matérias-primas como cobre, aço e alumínio, afetando cadeias produtivas estratégicas da economia brasileira.
Com as novas alíquotas, o Brasil se torna o maior alvo das sanções comerciais da gestão Trump. O setor do agronegócio e a indústria de base estão entre os mais impactados, já que competem diretamente com produtos norte-americanos no mercado internacional.
A postura de Trump em seu segundo mandato na Casa Branca tem sido marcada por um endurecimento das relações com países integrantes do Brics, grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O presidente norte-americano declarou que o Brasil “não está sendo bom” para os Estados Unidos e chegou a ameaçar impor tarifas de até 100% a países que, segundo ele, não estejam alinhados aos interesses econômicos de Washington.
Apesar da retórica, os EUA mantêm posição relevante na pauta de comércio exterior do Brasil. Em 2024, o país sul-americano exportou US$ 40,3 bilhões para os Estados Unidos e importou US$ 40,6 bilhões, registrando déficit de US$ 300 milhões na balança bilateral.
O Ciesp expressou “profunda preocupação” com o que classificou como uma escalada de disputas ideológicas entre os presidentes dos dois países. “Manifestamos nossa profunda preocupação diante do atual debate entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que ultrapassa os limites da diplomacia ao utilizar a questão tarifária como instrumento de disputa pessoal e ideológica”, afirmou a entidade em nota.
O centro industrial também questionou a justificativa econômica apresentada pelo governo dos EUA para impor o novo tributo. “Faltam argumentos concretos em favor dos EUA para uma tarifa de 50% nas importações do Brasil. Na última década, o superávit comercial em bens foi de US$ 91,6 bilhões a favor dos norte-americanos, e de US$ 256,9 bilhões quando se inclui os serviços”, destacou o Ciesp.
A Abinee, que representa a indústria elétrica e eletrônica, alertou para os efeitos da medida sobre as exportações de equipamentos de grande porte. “A medida afetaria, principalmente, as vendas externas de equipamentos elétricos de grande porte, principalmente itens exportados do setor, tendo em vista os investimentos consideráveis que estão sendo realizados internamente naquele país para a criação de uma infraestrutura de recarga de veículos elétricos em todo o território”, informou a associação.
Em sua manifestação, a CNA defendeu a retomada do diálogo como alternativa à política protecionista dos EUA. “Os produtores rurais brasileiros entendem que essas questões só podem ser resolvidas em benefício comum por meio do diálogo incessante e sem condições entre os governos e seus setores privados. A economia e o comércio não podem ser injustamente afetados por questões de natureza política”, afirmou a confederação.
As reações das entidades refletem a estratégia do governo brasileiro de mobilizar apoio institucional para lidar com as sanções impostas por Washington. O Palácio do Planalto tem sinalizado que pretende enfrentar as barreiras comerciais com base em negociações diplomáticas, reforçando o papel do Brasil como interlocutor global em fóruns multilaterais e na defesa de uma ordem comercial baseada em regras.
Com o Brasil no centro das medidas restritivas adotadas pelos Estados Unidos, o cenário comercial entre os dois países entra em um novo período de tensão. A mobilização de setores produtivos e a resposta institucional do governo brasileiro indicam que o desdobramento do caso será acompanhado de perto pelas principais lideranças econômicas e políticas dos dois lados.


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