Com a renovação de dois terços, Lula procura nomes fortes no Senado e possíveis aliados para aumentar sua base
O Senado passará pela renovação de 2/3 das cadeiras em 2026 em um movimento que preocupa o governo e que tem sido calculado também pela oposição. Para os partidos de extrema direita, alcançar 41 cadeiras e a maioria absoluta na Casa Alta seria uma conquista que prejudicaria um eventual Lula 4 e daria margem para aprovar projetos sem precisar de muitas negociações políticas. Mas Lula tem trabalhado para que esse quadro não se consolide.
O presidente deixou claro que a prioridade é aumentar a participação no Congresso. Lula enfrentou dificuldades com projetos na casa ao longo desses anos e, entre negociar com os governadores nos estados e os deputados e senadores, a preferência é por menos trabalho no Legislativo.
Para isso, alguns estados são chave na definição de quem terá maioria. O PT tem hoje nove senadores e tentará buscar não só manter o número, mas ampliar a presença na Casa Alta, já que terá alguns ministros e ex-ministros disputando vagas. O principal deles é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mesmo sem confirmar se vai deixar a pasta para concorrer por uma vaga no Senado, ele lidera as pesquisas de intenção de voto faltando um ano para o pleito.
Ele é seguido pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que, hoje, está nos Estados Unidos articulando novas sanções contra o governo brasileiro. A disputa em São Paulo pode aumentar a polarização entre PT e PL já que os novos eleitos vão substituir os senadores Mara Gabrilli (PSD) e Giordano (MDB), que hoje não compõem nem com governo, nem com a oposição de extrema direita.
A tentativa do PT de convencer Haddad para a disputa tem três fatores. Primeiro a força que o ministro conquistou à frente da Fazenda. Depois por já ter sido prefeito de São Paulo. E, por último, para garantir que o terceiro colocado nas pesquisas, Guilherme Derrite (PP), não conquiste a segunda vaga e componha duas cadeiras para a extrema direita. O secretário de Segurança Pública de São Paulo é ex-policial militar da Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (Rota), unidade voltada a operações especiais e conhecida pela letalidade realizada nas atuações.
Outro nome ventilado pelo PT para essa disputa no estado é o do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que já foi governador de São Paulo por dois mandatos e é conhecido do eleitor paulista. Ele, no entanto, não tem se mostrado animado com a possibilidade de disputar o Senado ou o governo do estado e deixar a vice-presidência e o Ministério da Indústria.
As atuações do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, os colocam como nomes fortes para a disputa eleitoral em São Paulo. | Evaristo Sá/AFP
Estados possíveis
Outros seis estados são avaliados pelo governo como palpáveis para manter uma cadeira e até ampliar o número de senadores. O Rio Grande do Sul é um deles. Hoje com o senador Paulo Paim, o PT pode lançar o deputado federal e ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta. Ele lidera as intenções de voto e é seguido por uma figura que é vista como uma grande aliada: a ex-deputada Manuela D’Ávila.
Mesmo sem partido, D’Ávila é mencionada nas intenções de voto depois de acumular forças como deputada estadual, federal e candidata a vice na chapa de Haddad em 2018. Eles, no entanto, enfrentarão nomes fortes da direita: o atual governador Eduardo Leite (PSD), e os deputados federais Marcel Van Hattem (Novo) e Sanderson (PL), além do atual senador Luiz Carlos Heinze (PP).
Pernambuco também é um estado importante para o PT, já que é o estado onde o atual senador Humberto Costa tentará reeleição. Ele terá uma disputa com outros nomes da direita que buscam derrubar o partido do governo: o presidente do União Brasil em Pernambuco, Miguel Coelho, e o deputado federal Eduardo da Fonte (PP). Eles estão na frente nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até agora.
O governo também mira as eleições do Rio de Janeiro como prioritárias, já que o estado é conhecidamente um reduto eleitoral do bolsonarismo. Se hoje são três senadores do PL, a deputada Benedita da Silva (PT) pode ganhar uma vaga e conquistar espaço em um eleitorado mais conservador. O atual senador Flávio Bolsonaro (PL) lidera as intenções de voto e deve conseguir a reeleição.
A candidata petista aparece em segundo, mas o governador Cláudio Castro (PL) também surge como um nome citado pelos cariocas. No começo de outubro ele disse que, “hoje não seria candidato”, mas a disputa por outro partido ainda não foi descartada por aliados. O ex-deputado federal Washington Reis (MDB), e o deputado federal Marcelo Crivella também podem aparecer na lista de candidatos do Rio de Janeiro.
Outro estado que o PT terá uma disputa para manter sua posição é a Bahia. O partido tem uma dúvida interna sobre quem será o candidato, já que hoje o senador Jaques Wagner ocupa uma cadeira e manifestou interesse em disputar a reeleição. No entanto, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA), também pode ser escalado para aproveitar a popularidade conquistada nos últimos anos.
A escolha de quem será o candidato do PT pode passar pela candidatura ao governo do estado. As pesquisas não indicam vantagem para o atual governador Jerônimo Rodrigues (PT) e o governo pode estabelecer um remanejamento para buscar a eleição no estado e definir, com isso, um nome ao Senado. Angelo Coronel (PSD) também vai tentar a reeleição e, por enquanto, ainda é visto como um nome aliado.
O ex-ministro da Cidadania do governo Jair Bolsonaro (PL), João Roma (PL) também deve disputar uma das cadeiras.
A liderança do governo hoje no Senado é de Randolfe Rodrigues (PT-AP), que deve disputar a reeleição no Amapá. Ele tomou posse em 2019 pela Rede, mas migrou para o PT depois da pandemia de Covid 19. Agora, a tendência é que o governo consiga manter a vaga ocupada por Randolfe, mas tenta garantir a reeleição de Lucas Barreto (PSD) como um aliado estratégico.
A primeira-dama de Macapá, Rayssa Furlan (MDB) e o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes (PDT) também aparecem com boas intenções de voto nas pesquisas, assim como o deputado federal Acácio Favacho (MDB).
O último estado lido como importante de manter o espaço é o Pará. O governador Helder Barbalho (MDB) é um aliado hoje e lidera as pesquisas. A segunda vaga é disputada pelo deputado Éder Mauro (PL) e pelo ex-senador Paulo Rocha (PT). Outro que integra o governo e pode disputar uma cadeira é o ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil).
Todos os cálculos para isso são feitos de maneira interna pelos dirigentes com a participação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Quem concentra os esforços e os estudos para discutir as estratégias e fazer os estudos para as eleições é o Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT. O grupo já foi coordenado pelo senador Humberto Costa até a pandemia e depois foi liderado pelo atual presidente do partido, Edinho Silva. Depois da eleição para a presidência da sigla, o grupo ficou desarticulado e passou a ser coordenado de maneira provisória pelos líderes do PT.
Sem partido atualmente, Manuela d’Ávila, é considerada uma opção para o PT no Rio Grande do Sul | Reprodução/Redes sociais
Estados “perdidos”
Mesmo tentando manter otimismo, alguns estados têm, tradicionalmente, uma maioria conservadora que garante a eleição de senadores. É o caso do Distrito Federal, que tem a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e o governador Ibaneis Rocha liderando as pesquisas. A senadora Leila do Vôlei (PDT) corre por fora. Candidata à reeleição, seu nome seria um alívio para o governo. Entre os citados estão as deputadas federais Erika Kokay (PT) e Bia Kicis (PL), assim como Leandro Grass (PT).
Outro estado que tem candidatos favoritos de extrema direita é Santa Catarina. PP, MDB e PL hoje ocupam as cadeiras e, para substituir dois deles o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL) anunciou uma aliança com a deputada Caroline de Toni para que ela dispute o pleito por outro partido e os dois consigam garantir três conservadores no senado pelo estado.
Pelo PT, o ex-deputado Decio Lima tenta surpreender, mas também conta com a disputa do atual senador que busca a reeleição, Espiridião Amin (PP), do deputado federal Carlos Chiodini (MDB) e do deputado federal Gilson Marques (Novo).
Os estados do Centro Oeste e do Norte apresentam também dificuldades para a esquerda. Em Goiás a tendência é que o governador Ronaldo Caiado ou sua esposa Gracinha Caiado, disputem com favoritismo. O deputado federal Gustavo Gayer (PL), o senador Vanderlan Cardoso (PSD) e o ex-deputado Major Vitor Hugo (PL) também aparecem bem nas pesquisas. Até agora, o único nome de esquerda que figura entre os candidatos é o deputado federal Rubens Otoni (PT).
No Acre, Amazonas, Roraima e Rondônia o cenário se repete e o governo não tem nomes fortes para testar. O governador acreano, Gladson Cameli (PP), é o favorito e enfrentará o senador Márcio Bittar (PL), que busca reeleição, e o ex-senador Jorge Viana (PT).
O senador pelo Amazonas Eduardo Braga (MDB) buscará reeleição e poderá ter pela frente o deputado federal Alberto Neto (PL), o governador Wilson Lima (União Brasil) e o senador Plínio Valério (PSDB). Em Rondônia o deputado Dr. Fernando Máximo (União Brasil) lidera as pesquisas, mas ainda não confirmou se será candidato ao Senado, já que ainda pretende disputar o governo do estado. O governador Coronel Marcos Rocha (União Brasil) e o senador Marcos Rogério (PL) também são mencionados pelos eleitores.
Já em Roraima a ex-prefeita de Boa Vista Teresa Surita (MDB) e o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), são os que têm o melhor desempenho nas pesquisas até agora. O nome mais próximo ao governo é o do senador Chico Rodrigues (PSB), que busca reeleição.
Fechando a região Norte, o Tocantins também não apresenta boas perspectivas para o governo. O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) é o mais citado pelos eleitores nas pesquisas até agora e o senador Eduardo Gomes (PL) busca a reeleição. Os deputados Carlos Gaguim (União) e Alexandre Guimarães (MDB) também são mencionados.
No Mato Grosso, o atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), é o único nome do governo que tem capacidade de disputar uma das vagas. Ele terá na disputa o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, a deputada estadual Janaina Riva (MDB) e o senador Jayme Campos (União).
A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), também aparece como uma das cotadas para o senado pelo Mato Grosso do Sul. Ela conta a seu favor com uma gestão muito bem avaliada na prefeitura de Três Lagoas, cidade referência na região, mas ela disse que ainda não vai discutir questões eleitorais em 2025. O nome de Tebet também tem sido testado em São Paulo, para especular como seria a recepção do eleitor paulista com ela.
No Mato Grosso do Sul, o ex-governador Reinaldo Azambuja (PL) leva favoritismo, acompanhado do senador Nelsinho Trad (PSD), e do ex-deputado estadual Capitão Contar (PRTB).
Atual vereador no Rio, Carlos Bolsonaro será candidato ao Senado por Santa Catarina | Alan Santos/PR
Nordeste mais disputado
A região com tradicional eleitorado petista terá alguns nomes importantes aliados do governo. O primeiro deles é o Ceará, com o senador Cid Gomes (PSB) e o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT). O estado também poderá ter o deputado estadual Pastor Alcides Fernandes (PL), o ex-deputado Capitão Wagner (União) e a ex-deputada Priscila Costa (PL)
Mesmo sem um partido da base na disputa em Alagoas, o governo observa um parceiro de ocasião como favorito na disputa: o atual senador Renan Calheiros (MDB). O principal adversário deve ser o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP). O deputado federal Alfredo Gaspar (União) também aparece com destaque nas pesquisas. Pelo PT, o deputado Paulão (PT) é quem está melhor posicionado.
No Maranhão o governador Carlos Brandão (PSB) é quem está melhor colocado, assim como o senador Weverton Rocha (PDT). O governo conta com a aliança com o PP para ter a representação do ministro do Esporte, André Fufuca (PP), nessa disputa. A senadora Eliziane Gama (PSD) corre por fora e é um nome que não desagrada parte dos governistas.
Na Paraíba o governador João Azevêdo (PSB) está em destaque e seria uma figura de contraponto à extrema direita. Quem tentará a reeleição é Veneziano Vital do Rêgo (MDB). Eles enfrentarão o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSD). Um nome ventilado foi o do ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL), mas ele despistou sobre a candidatura e disse que a ideia inicial é fortalecer a reeleição do senador Efraim Filho (União).
Para o Piauí quem desponta até agora é o senador Marcelo Castro (MDB), que terá a concorrência do deputado federal Júlio César (PSD). O ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira (PL) tentará a reeleição e é lido como o nome bolsonarista nessa disputa.
O Rio Grande do Norte terá a tentativa de reeleição de Styvenson Valentim (PSDB). O PT especula a governadora Fátima Bezerra para a representação na disputa e conta com a popularidade no estado para garantir o aumento nessa fatia. O ex-prefeito de Natal Álvaro Dias (Republicanos) e a senadora Zenaide Maia (PSD) aparecem nas pesquisas.
O Sergipe é o único estado que mostrou um resultado impreciso na disputa pelo Senado e 8 pré-candidatos despontam, entre eles o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Márcio Macedo (PT), o senador Alessandro Vieira (MDB) e o senador Rogério Carvalho (PT), que tenta reeleição.
O atual senador Cid Gomes é considerado um aliado pelo presidente Lula | Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Sul e Sudeste de olho
O governo identificou que no Espírito Santo a tendência será lançar a reeleição de Fabiano Contarato (PT) para tentar uma dobradinha com o governador Renato Casagrande (PSB). O deputado estadual Sergio Meneguelli (Republicanos) e o deputado federal Da Vitória (PP) também aparecem.
Minas Gerais é um dos estados com maior atenção pelo alto número de eleitores e considerado um termômetro nas eleições. O nome forte do governo é o deputado Rogério Correia (PT). No cenário mais otimista, a eleição seria também com uma dobradinha com a deputada federal Duda Salabert (PDT). O cenário, no entanto, indica um favoritismo do deputado Aécio Neves (PSDB) e do senador Carlos Viana (Podemos). O deputado federal Mauricio do Vôlei (PL) também é mencionado nas intenções de voto.
No Paraná a aposta do governo pode ser pelo deputado Zeca Dirceu (PT). Se escolhido ele terá que enfrentar o governador Ratinho Júnior (PSD) e a jornalista Cristina Graeml (Podemos). O senador Osmar Dias (PDT) e o deputado Filipe Barros (PL) são mencionados.
Publicado originalmente pelo Brasil de Fato em 29/10/2025
Por Lorenzo Santiago – Brasília (DF)
Edição: Luís Indriunas


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