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A ousadia britânica que reabre o debate sobre drogas

Enquanto governos insistem na repressão, cresce o coro de vozes que pedem regulamentação, segurança e políticas menos punitivas Nos últimos meses, o debate sobre a descriminalização de drogas ganhou espaço graças à atuação do prefeito de Londres, Sadiq Khan. No entanto, poucos políticos se aventuram a defender a legalização de substâncias ilícitas. Isso não impediu […]

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Quando a guerra às drogas perde, a razão fala mais alto

Enquanto governos insistem na repressão, cresce o coro de vozes que pedem regulamentação, segurança e políticas menos punitivas


Nos últimos meses, o debate sobre a descriminalização de drogas ganhou espaço graças à atuação do prefeito de Londres, Sadiq Khan. No entanto, poucos políticos se aventuram a defender a legalização de substâncias ilícitas. Isso não impediu a revista The Economist de fazer uma proposta ousada: legalizar a cocaína.

Em um editorial publicado na semana passada, intitulado “A força bruta não é páreo para os traficantes de drogas de alta tecnologia de hoje”, a revista critica a abordagem militar e violenta de Donald Trump contra as drogas. Segundo o texto, o presidente americano teria usado “força militar e violência sem precedentes” em sua guerra antidrogas, mas, diante de uma indústria narcótica cada vez mais sofisticada e inovadora, o sucesso parece improvável.

O editorial destaca números alarmantes: drogas ilegais matam cerca de 600 mil pessoas por ano, com as overdoses de opioides sendo responsáveis por boa parte dessas mortes. Nos Estados Unidos, o aumento do tráfico de cocaína e de substâncias sintéticas preocupa autoridades e especialistas. Para a Economist, a solução mais eficaz seria clara: “A maneira mais eficaz de reduzir as mortes, a violência e a corrupção seria legalizar e regulamentar a produção e o consumo de cocaína.”

Segundo a revista:

“Isso eliminaria o preço premium que motiva os criminosos mais violentos do mundo. Os consumidores teriam certeza da dosagem e da qualidade – um incentivo para evitar misturas ilegais perigosas. As prisões ficariam mais vazias e o sistema de justiça criminal poderia se concentrar em sintéticos mais letais. Infelizmente, na maioria dos países consumidores, nem os eleitores nem os políticos estão interessados.”

O editorial ainda critica ações tradicionais de repressão, como bombardear barcos no Caribe, classificando-as como quase certamente ilegais e pouco eficazes. Em vez disso, defende que os governos concentrem esforços em coleta de informações e na punição dos operadores mais poderosos do tráfico. No fim das contas, a Economist insiste que a legalização da cocaína reduziria drasticamente o preço da droga, desafogaria o sistema de justiça e tornaria o consumo mais seguro. Segundo a revista:

“Sem a legalização, a luta contra as drogas ilícitas é árdua”.

No Reino Unido, dados do Ministério do Interior mostram que a cocaína é a segunda droga mais consumida, ficando atrás apenas da cannabis. Em 2024, 2,1% das pessoas entre 16 e 64 anos relataram ter usado a droga. No início deste ano, Sadiq Khan sugeriu a descriminalização de pequenas quantidades, ideia que gerou debate acalorado no Spectator entre Lord Falconer e Dr. Neil Shastri-Hurst, mas acabou sendo rejeitada por Sir Mark Rowley, da Polícia Metropolitana.

Khan não é o único a propor alternativas radicais no combate às drogas. Zack Polanski, novo líder do Partido Verde, declarou à BBC que deseja legalizar todas as drogas, incluindo substâncias de classe A, como heroína e crack. No entanto, conquistar apoio popular será um desafio: pesquisas da YouGov indicam que a maioria da população teme que a descriminalização aumente o consumo de drogas, a criminalidade e os impactos à saúde. Por enquanto, a ideia ainda não parece gerar votos.

A discussão, porém, está longe de ser apenas teórica. À medida que governos enfrentam taxas crescentes de violência, mortes por overdose e sobrecarga do sistema judicial, a questão da legalização – antes considerada impensável – se torna cada vez mais inevitável no debate público global.

Com informações de The Economist*

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