Extremismo afeta também muçulmanos, e é uma dentre várias fontes de conflitos no país africano. Governo nigeriano cooperou com operação contra terrorismo.
Os Estados Unidos lançaram na quinta-feira (25/12) um ataque aéreo contra forças do Estado Islâmico na Nigéria. Há semanas, o presidente Donald Trump acusa o governo do país africano de não conter o que interpreta como uma perseguição aos cristãos. Não está clara a extensão dos danos provocados no estado de Sokoto.
O secretário de Defesa, Pete Hegseth, publicou na rede social X: “O presidente foi claro no mês passado: a matança de cristãos inocentes na Nigéria (e em outros lugares) precisa acabar”, destacando que o ataque aconteceu no dia de Natal.
Já Trump declarou que os ataques aéreos foram direcionados contra militantes do Estado Islâmico “que têm como alvo e matado brutalmente, principalmente, cristãos inocentes”.
A crise de segurança na Nigéria afeta tanto cristãos, predominantes no Sul, quanto muçulmanos, maioria no Norte. O governo nigeriano já criticou os EUA por enquadrar a crise de segurança como uma ameaça específica aos cristãos.
Múltiplos desafios de segurança
O Ministério das Relações Exteriores da Nigéria afirmou que os ataques aéreos de quinta-feira foram uma operação conjunta contra o terrorismo. A cooperação incluiu troca de inteligência e coordenação estratégica de maneira “consistente com o direito internacional, respeito mútuo à soberania e compromissos compartilhados com a segurança regional e global”, segundo um porta-voz.
Nesta semana, homens armados invadiram uma escola católica e capturaram 303 estudantes e 12 professores, em mais um sequestro em massa de alunos no país. Tanto os EUA quanto a Nigéria sinalizaram que poderá haver novos ataques.
O país abriga múltiplos grupos armados, incluindo pelo menos dois afiliados ao Estado Islâmico — um braço do grupo extremista Boko Haram conhecido como Província do Estado Islâmico da África Ocidental, no nordeste, e o menos conhecido grupo Lakurawa, presente nos estados do noroeste, como Sokoto.
Estes grupos usam vastas áreas de florestas que conectam estados como esconderijos. Analistas de segurança acreditam que o alvo dos ataques dos EUA tenha sido o Lakurawa, que no último ano se tornou cada vez mais letal na região, frequentemente atacando comunidades remotas e forças de segurança.
A incursão de extremistas no noroeste nigeriano é atribuída por especialistas à quase ausência do Estado e das forças de segurança, permitindo a estes grupos armados exercer controle de fato sobre o território.
País de “preocupação especial”
O presidente americano já ordenara ao Pentágono no mês passado que começasse a planejar uma possível ação militar na Nigéria. O Departamento de Estado anunciou recentemente que restringiria vistos para nigerianos e seus familiares envolvidos na morte de cristãos.
Os EUA também designaram recentemente a Nigéria como “país de preocupação especial” sob a Lei Internacional de Liberdade Religiosa.
A população da Nigéria, de 220 milhões de pessoas, é quase igualmente dividida entre cristãos e muçulmanos, e ambos sofrem com ataques de motivação religiosa. O grupo extremista Boko Haram, por exemplo, busca estabelecer sua interpretação radical da lei islâmica e tem também como alvo muçulmanos que considera insuficientemente religiosos.
Já agricultores e pastores travam conflitos por recursos escassos, somando-se a rivalidades comunitárias, ações de grupos separatistas e tensões étnicas.
Com presença hoje reduzida na África, forças militares dos EUA provavelmente teriam que ser deslocadas de outras partes do mundo para uma eventual intervenção de maior escala na Nigéria.
Publicado originalmente pelo DW em 26/12/2025


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