Equilíbrio na tormenta

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(capa: xilogravura de Ernst Kirchner, expressionista alemão).

O Congresso está ouvindo depoimentos de testemunhas importantes hoje na CPI do Cachoeira e amanhã teremos novidades, possivelmente explosivas. As testemunhas são quatro: Walter Paulo, Sejana Martins, Écio Ribeiro e Eliane Pinheiro. Todas ligadas a Marconi Perillo.

Os jornais de hoje amanheceram relativamente calmos. A reportagem de capa da última edição da Veja foi completamente ridicularizada na internet e os jornais a ignoraram solenemente. Quer dizer, a coluna do Ilimar Franco deu a seguinte nota, onde não menciona nada sobre a Veja:

Sem cortes: Cartilha da assessoria do PT

A assessoria do PT produziu documento sobre as investigações Vegas e Monte Carlo. É uma compilação de tudo o que há sobre todos os citados nas investigações. O resumão tem dois capítulos: “Demóstenes Torres” e “Os Demais Agentes Políticos Citados nas Investigações”. O material é recheado com comentários e informações publicadas na mídia. Há um item sobre citações ao ministro Gilmar Mendes (STF). Mas também há sobre seus pares, José Toffoli e Luiz Fux. E ainda, sobre os governadores Agnelo Queiroz, Sérgio Cabral e Marconi Perillo. No blog deste colunista há um link para o inteiro teor da referida cartilha.

Franco divulga, em seu blog, a íntegra da cartilha do PT, que eu já copiei para meu servidor…

Trata-se do mesmo documento usado pela Veja, só que a revista dá destaque somente a alguns trechos, com vistas a fazer parecer um relatório focado em ataques à oposição. Mas o documento fala de Agnelo Queiroz, Sérgio Cabral… ou seja, é um documento normal, um resumo sobre as informações já disponiblizadas à imprensa  sobre o esquema Cachoeira e seus desdobramentos na mídia.

Não dá para saber se o documento é verídico, mas ele é absolutamente normal e legal. Não há nada nele que possa ser apontado como suspeito.

A pergunta é: porque a Veja não disponibilizou a íntegra do documento para seus leitores? Resposta simples: porque isso derrubaria a sua interpretação de que se trata de um “dossiê” maligno do PT contra a oposição. Saliente-se, aliás, que um partido elaborar um documento com informações negativas sobre seu adversário não é nenhum crime: é uma ação normal e mesmo necessária numa democracia competitiva e autêntica. Estranho seria se os partidos adversários se aliassem em segredo, e não se atacassem mutuamente, não produzissem documentos uns contra os outros. Aí sim, teríamos uma fraude gravíssima, um crime contra a democracia.

Merval Pereira é outro que virou piada. Título da sua coluna de hoje: “Dúvidas sobre o mensalão”…

Às vezes eu imagino o apartamento de Merval repleto de pequenos oratórios satânicos com fotos de Dirceu, Delúbio, e demais envolvidos no escândalo de caixa 2 do PT. Antes de dormir, ele repete em voz alta fórmulas colhidas num livro de magia negra, com maldições contra seus inimigos. Num espaço especial da casa, há uma mini-capela do mal, onde se vê um busto de Lula, rodeado de círios vermelhos, na frente do qual há uma bacia cheia do sangue dos animais que Merval sacrifica enquanto berra imprecações demoníacas…

Em sua coluna de hoje ele especula sobre os efeitos do julgamento sobre as eleições, já que a decisão final pode ocorrer antes do fim do pleito. Caso os réus sejam absolvidos, hipótese que Merval já aceita com fingida tranquilidade, isso beneficiaria o PT; em caso contrário, os prejudicaria.

Deixemos Merval pra lá. Comentemos rapidamente a última jogada ensaiada da mídia: criar dissídia entre Marta Suplicy e Fernando Haddad. Há um problema entre eles, certo, e a mídia não tem culpa disso, mas chega a ser engraçado que alguns colunistas agora resolvam fazer louvaminhas à ex-prefeita.

Eliane Cantanhede, Dora Kramer e Reinaldo Azevedo, de repente passaram a entoar canções de amor à petista, só porque ela vem se posicionando de maneira negativa na campanha do partido em São Paulo.

Na Folha, porém, encontrei uma análise bastante pertinente ao caso, assinada por um cientista político.

Falemos um pouco de economia, até porque esta é uma seara cujas informações e análises têm sido bastante politizadas.

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Muito tem se falado do “Pibinho”.

Segundo o IBGE, o PIB cresceu 0,2% no primeiro trimestre do ano, mas é importante observar que a indústria cresceu bem no período, com destaque para a indústria de transformação, que registrou alta de 1,9% sobre o trimestre anterior.

O que travou o PIB foi o agronegócio, mas este é um setor que não enfrenta nenhum problema grave no Brasil. Ao contrário, o IBGE acaba de divulgar uma estimativa de que a safra de grãos 2012 registrará um novo recorde histórico. O país colherá 160,1 milhões de toneladas de grãos.

Na verdade, o problema econômico nacional concentra-se na queda brusca de produção da indústria automobilística. Alguns analistas falam em saturação do mercado, ou seja, quem podia comprar carro já comprou, e as classes médias emergentes não trocam tanto de carro como as tradicionais. Outros falam em aumento do endividamento, o que não é correto. O endividamento do brasileiro encontra-se muito abaixo dos níveis registrados em países desenvolvidos. E os aumentos são devidos à um fator saudável, que é a aquisição de casa própria e bens duráveis. Se um sujeito compra uma casa no valor de 80 mil reais, é óbvio que esta operação impactará no percentual de sua renda comprometida com uma instituição bancária. Mas é melhor pagar 200 ou 300 reais por mês de prestação de uma casa que lhe pertencerá, do que jogar dinheiro fora pagando aluguel.

E agora acaba de sair uma notícia promissora. As vendas de carro subiram 11% em maio sobre o mês anterior, mostrando uma vigorosa recuperação do setor, já impulsionado pelas medidas de apoio baixadas nos últimos meses pelo governo federal.

Eu destaco o seguinte trecho da matéria:

No segmento de caminhões, a Fenabrave apurou licenciamentos de 10.790 veículos em maio, queda de 0,53% na comparação mensal e recuo anual de 28,7%, em meio à mudança no regime de emissões de poluentes que causou forte movimento de antecipação de compras de modelos com tecnologia anterior e mais barata no final de 2011.

A Fenabrave manteve as previsões de vendas para 2012. Para automóveis e comerciais leves, a entidade prevê 3,54 milhões de unidades, equivalente a crescimento de 3,5% sobre 2011. As vendas de caminhões, enquanto isso, devem crescer 2,6%, para 177,15 mil unidades.

E faço as seguintes observações:

  1. A venda de caminhões caiu no ano em função da mudança de regime de emissões de poluentes. Foi uma mudança que causou um impacto profundo no setor, obrigando-o a reformas em todas as fábricas, para produzir caminhões menos poluentes. Essa mudança impactou substancialmente os índices da produção industrial nos últimos meses.
  2. Para o ano de 2012, contudo, o setor espera reverter as perdas e vender 177 mil caminhões, 2,6% a mais que no ano anterior. Espera-se ainda aumento de 3,5% nas vendas de carro.

Conclusão: A indústria automobilística está se recuperando e deverá fechar o ano com números positivos, na contramão da crise que vive nos países desenvolvidos.

Seja como for, é importante que não se olhe para o número do PIB de maneira isolada. A economia de um país, mormente de um país com economia diversificada e complexa, como o Brasil, deve ser analisada através de um conjunto de dados. Deve-se olhar o desemprego, a indústria (e quais setores da indústria crescem ou caem), o endividamento do Estado, a arrecadação fiscal, as exportações.

Vamos concluir a análise com alguns dados de nossas exportações até maio. Em primeiro lugar, destaque-se que tivemos, em maio, o maior superávit do ano. Ou seja, exportamos bem mais do que importamos, obtendo um saldo, em maio, de US$ 2,9 bilhões.

Analisando o relatório do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), separei também alguns gráficos com o desempenho das exportações brasileiras por setor, nos cinco primeiros meses do ano:

Repare que a exportação de industrializados subiu 1,7% em 2012, e a venda de manufaturados cresceu 3,2%, em Jan/Mai 2012, contra um aumento de 0,8% nas exportações de básicos. Com isso, a participação dos industrializados na balança comercial cresceu um tico, de 50,0 para 50,1%, e a de manufaturados correspondeu a 37%, contra 36,4% no ano passado.


Na tabela acima, repare que as exportações de veículos de carga, bombas e compressores e aviões cresceram substancialmente em Jan/Mai de 2012. Destaco a venda de aviões, que registrou alta de 26% em Jan/Mai 2012.

Por último, outra notícia interessante: vendas do comércio explodem em maio.

Agora explico o título do post: tanto em economia como na política, vemos que o Brasil vem conseguindo se desvencilhar de seus problemas, numa conjuntura tormentosa, com admirável equilíbrio!

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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