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A força e a resistência do movimento negro norte-americano e a sua influência na moda dos anos 1960

Por Marina Martins, editora de Moda do Cafezinho O Partido dos Panteras Negras, a autoafirmação de suas heranças e a rejeição da padronização estética e cultural na sociedade americana Em outubro, o radical Partido dos Panteras Negras completa 50 anos do seu nascimento na luta pelos direitos da população negra dos Estados Unidos. Revolucionário, este […]

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Por Marina Martins, editora de Moda do Cafezinho

O Partido dos Panteras Negras, a autoafirmação de suas heranças e a rejeição da padronização estética e cultural na sociedade americana

Em outubro, o radical Partido dos Panteras Negras completa 50 anos do seu nascimento na luta pelos direitos da população negra dos Estados Unidos. Revolucionário, este grupo originário de Oakland, na Califórnia, protagonizou uma resistência armada contra a opressão da população afro-americana, causada pela violência policial, além de defender a liberação de todos os negros oprimidos por um sistema de justiça que os injustiçava e discriminava.

Na época, esses jovens fizeram muito mais do que propor para a sociedade americana a urgência de uma política de igualdade.

O grupo, criado pelos militantes Huey P. Newton e Bobby Seale, permitiu que tendências africanas e tribais influenciassem de forma significativa o futuro cultural e cidadão dos negros norte-americanos.

Esta tendência acabou refletida em um legado que influenciou manifestações na moda e no cinema, como a temática, os personagens e os figurinos do filmes do universo Blaxploitation e, até mesmo na música mais recente, como no clipe “Formation”, lançado este ano pela cantora Beyoncé, no Super Bowl 50.

Além disso, o movimento foi capaz ultrapassar fronteiras em um gesto revolucionário de seus simpatizantes, como ocorreu em 1968, durante os Jogos Olímpicos do México. Após conquistar as medalhas de ouro e bronze na corrida dos 200 metros rasos, os atletas afro-americanos Tommie Smith e John Carlos, saudaram o prêmio e o hino norte-americano de cabeças abaixadas, com os punhos fechados e luvas de couro preto, com a intenção de declarar solidariedade ao movimento de libertação negra em seu país.

Antes mesmo da impetuosa caça pela polícia dos Estados Unidos e pelo FBI, que alegava considerar o partido “a mais perigosa organização em ação do país”, essa militância investiu parte da sua ideologia nos seus uniformes, que representavam a resistência ao mesmo tempo em que enviavam uma mensagem clara para toda a sociedade branca da década de 1960: “estamos inteiramente comprometidos com a nossa causa e o nosso patrimônio.”

Na década de 1970, o Partido dos Panteras Negras proibiu seus membros de usarem o Kente, tecido originário de Ghana, bem como a utilização do Dashiki, clássico traje da moda africana, denominando seus consumidores como “oportunistas culturais” e “pessoas que impediam a verdadeira luta revolucionária”.

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Em contrapartida, inspirados na resistência francesa aos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, o Partido dos Panteras Negras criou uma composição única de vestimenta, integrada por jaqueta de couro, calça preta, sapato preto, boinas pretas e luvas pretas – as quais eram opcionais.
Agindo como elemento fundamental para a consolidação de uma resistência, esse visual também colaborou para a solidificação da seriedade e ideal revolucionário do partido.

Neste cenário, a importância da moda estava muito mais presente e fortalecida do que os membros do Partido dos Panteras Negras poderiam imaginar.

Para Amanda Palomo, doutora em História Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), o vestuário tem um papel de extrema relevância no processo de construção das identidades: “Ao criar identidades entre os seus usuários, a moda possui a capacidade de afirmar a individualidade e revelar elementos significativos para a análise do comportamento de determinados grupos e indivíduos da nossa sociedade. Pela aparência que assume, um indivíduo se situa em relação aos outros e a si mesmo. Nessa condição, a moda é um dos meios que ele utiliza para se tornar ele mesmo”, afirma.

As mulheres, por sua vez, não possuíam um traje exclusivo, fazendo com que muitas permanecessem à sombra dos homens, investindo em golas altas pretas, minissaias, óculos escuros, o famoso penteado black power e um mix de anéis e pulseiras. De fato, aquelas mulheres, como Angela Davis e Kathleen Cleaver, estavam armadas não apenas em suas ideologias, mas em um estilo que afirmava e confrontava os paradigmas estipulados pela elite branca em voga e que, nunca antes havia sido tão revolucionário quanto na década de 1960.

“Do mesmo modo que a indumentária, o cabelo constituiu outro destacado elemento na composição do visual black. Diferente dos anos 1950, quando se buscava a eliminação da ondulação, na década de 1960 e 1970 procurava-se dar ao cabelo uma aparência “natural”, pois passou a ser usado sem alisamento e em tamanho maior. O volume e a textura do “penteado soul” pareciam expressar um compromisso com a ancestralidade africana”, completa Palomo.

Descartando as perucas e cabelos alongados e adotando os penteados afro-naturais, o público negro feminino ajudava a fortalecer o slogan “Black is Beautiful”, enquanto desafiava a população. Tal imagem continuou se fortalecendo politicamente, enquanto esse ícone visual se enraizava entre a cultura popular periférica e o mainstream da moda.

A partir deste contexto, havia uma clara mensagem sendo enviada à América e ao resto do mundo, ilustrando a consciência e o orgulho negro: “eu sou fiel às minhas heranças e me amo do jeito que nasci.” Imutável, esse grito arraigou a causa da igualdade com a população, reafirmando suas origens e tornando o movimento negro acessível a todos.

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