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O velho ‘novo’ que se anuncia

Foto: Marcos Corrêa/PR Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho “Campanha de Dilma pagou despesas de Temer em 2014”, diz a manchete da Folha de São Paulo de hoje, avançando um passo nas ameaças à estabilidade do governo em relação aos demais jornais da grande mídia, que concentram as principais notícias de suas primeiras páginas […]

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Foto: Marcos Corrêa/PR

Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

“Campanha de Dilma pagou despesas de Temer em 2014”, diz a manchete da Folha de São Paulo de hoje, avançando um passo nas ameaças à estabilidade do governo em relação aos demais jornais da grande mídia, que concentram as principais notícias de suas primeiras páginas na entrevista coletiva da foto aí de cima, convocada às pressas pelo presidente Michel Temer para tentar aplacar a crise com a demissão tardia de seu amigo Geddel Vieira Lima da Secretaria de Governo. “Crise força Temer a fazer acordo contra anistia”, afirma o Valor. O Estado de São Paulo diz na manchete que “Temer cita ‘voz das ruas’ para vetar anistia a Caixa 2”, e o Globo informa que “crise une Temer, Renan e Maia contra anistia a caixa 2”. “Sob pressão, presidente tenta reduzir desgaste em articulação com chefes do Legislativo”, completa o jornal carioca no subtítulo. Há sinais, no entanto, de que a reação pode ter sido tardia, tanto na grande mídia corporativa quanto na alternativa, onde o jornalista Luis Nassif lembra que “no mesmo dia em que o escândalo Geddel expunha o vácuo Temer, FHC aparecia nos jornais online – e no Jornal Nacional – falando do orgulho de ser PSDB, o PSDB representando o novo etc…” E muito discretamente, em textos legendas nas páginas de dentro, a grande mídia também registrou o ato da foto aí de baixo, na Avenida Paulista, a mostrar uma parte significativa da chamada ‘voz das ruas’.

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A Folha conta na capa que “assessores do então candidato a vice e hoje presidente, Michel Temer, receberam pagamentos da campanha de Dilma Rousseff (PT) em 2014”, informando que “os atuais chefe de gabinete de Temer e secretário de Comunicação da Presidência estão entre os remunerados, segundo documentos, embora o peemedebista tenha registrado conta própria na Justiça Eleitoral”. Ainda segundo o jornal, “as informações divergem do argumento de defesa de Temer no pedido de cassação da chapa: a de que ele não pode ser responsabilizado por eventuais irregularidades da campanha, já que possuía conta independente”.

“O secretário de Comunicação da Presidência, Márcio de Freitas, afirma que a defesa de Michel Temer baseia-se na separação da arrecadação da campanha presidencial de 2014, não dos gastos”, completa a Folha, que na coluna Painel, de Natuza Nery, mostra que a estratégia do governo pode ter saído pela culatra. Na nota “Deu ruim”, a coluna informa que “parte do Ministério Público considerou a entrevista de Temer um desastre. A avaliação é que o presidente admitiu ter cometido advocacia administrativa”. A nota seguinte, “letras garrafais”, afirma que “essa percepção indica o risco de o peemedebista se tornar, ao lado do ex-ministro Geddel Vieira Lima, alvo de um pedido de investigação ao Supremo”.

“Carne de pescoço” é o título da coluna e da nota principal da Painel, na qual, “encabeçada pelo PT, a oposição prepara um combo de ações no intuito de evitar que a demissão de Geddel Vieira Lima esfrie a crise no Planalto. Nesta segunda (28), um grupo de parlamentares vai à PGR pedir que Rodrigo Janot investigue Michel Temer por três crimes comuns, a partir do que admitiu ter dito a Marcelo Calero: prevaricação, concussão (exigir vantagem indevida em razão do cargo) e advocacia administrativa (usar o cargo para patrocinar interesse privado)”

Na segunda nota, “quero saber”, a coluna completa afirmando que “o grupo também fará requerimento de informação aos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Grace Mendonça (AGU) e Roberto Freire (Cultura) sobre os contatos entre as pastas relativos ao empreendimento”. E se em seu “xadrez do homem que delatou Temer” Nassif fala do “o PSDB representando o novo”, Ricardo Noblat, no Globo, avisa logo na capa que “o novo está sendo gestado, e o velho Brasil do compadrio e da corrupção estrebucha na maca.”

“O novo está sendo gestado. Mas os primeiros sinais do seu possível nascimento bastaram para fazer o velho Brasil do compadrio e da corrupção estrebuchar na maca em desespero e desatar no choro dentro de presídios”, afirma o colunista do Globo, para completar dizendo que “o mundo despediu-se de fato do século XX com a morte de Fidel Castro. Por aqui, em matéria de maus costumes políticos, o século passado ainda suspira e ameaça abortar o que se anuncia.”

Noblat não esclarece bem “o que se anuncia”, mas Nassif dá uma pista ao dizer que “a delação de Caleró serve, portanto, para dois objetivos: enfraquecer substancialmente a camarilha de Temer”, e “recolocar FHC no centro das articulações, como a alternativa para a travessia até 2018.” De acordo com Nassif, “as circunstâncias ditarão os próximos lances, que poderá ser um Temer sem camarilha, sendo tutelado pelo FHC; ou um FHC assumindo a presidência para tocar o barco até 2018, tendo dois trabalhos a entregar: completar o desmonte da Constituição de 1988, conquistando o limite de despesas e a reforma trabalhista e da Previdência”, e “implantar o parlamentarismo, ou outras alternativas de esvaziamento do poder Executivo e de poder do voto popular.”

Noblat não cita Fernando Henrique Cardoso, mas usa exatamente o mesmo termo escolhido pelo ex-presidente para definir o governo atual, na nota ao lado do título “Este é o paradoxo”, em que afirma que “a ‘ponte para o futuro’, pretensioso nome dado a documento do PMDB que saudou o povo e pediu passagem a uma nova ordem de coisas, é uma frágil pinguela”. “Por enquanto, a nova ordem só tem a ver com uma gestão mais racional da economia em pandarecos. Em tudo o mais, é o antigo que ferido de morte esperneia para não sair de cena”, conclui o colunista do Globo, sem dizer explicitamente que o “novo” que “está sendo gestado” tem grande chance de ser o velho ex-presidente que deixou o Planalto em 2002 com índices baixíssimos de popularidade.

E se o Globo diz na chamada para a manchete que “o presidente Michel Temer anunciou que ele e os presidentes do Senado e da Câmara barrarão tentativas de anistiar crimes decorrentes de doações eleitorais”, em outra chamada, menor, dentro da manchete, conta que “o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, em entrevista ao ‘Fantástico’, acusou o presidente Temer de lhe pedir que fizesse uma ‘chicana’ (manobra jurídica) para beneficiar Geddel Vieira Lima. Ele confirmou ter gravado conversa com Temer. O presidente negou a acusação e chamou a gravação de atitude indigna.”

No mesmo jornal, Paulo Guedes, no artigo sob o título “Entre Moro e Trump”, mostra novamente o que realmente importa nisso tudo para a grande mídia, num claro recado aos atuais líderes do Executivo e do Legislativo. “Não desperdicem seu tempo — Maia em busca da reeleição na Câmara e Renan nas manobras em defesa própria. Aprovem a reforma da Previdência”, afirma Guedes. De resto, as medidas econômicas do governo interino seguem a toque de caixa, como mostra a matéria no Globo cujo título informa que “setor de petróleo terá incentivo renovado”.

“Governo vai prorrogar por 20 anos regime especial. Novas regras reduzirão exigência de conteúdo local”, diz o subtítulo da matéria na qual “uma das ações mais esperadas pelo setor é a prorrogação, por mais 20 anos, das regras do Repetro — regime aduaneiro especial que facilita a importação e a exportação de bens destinados à indústria petrolífera e que venceria em 2019”. Temer também “vai sancionar amanhã a lei que retira da Petrobras a obrigação de atuar como operadora de todos os campos do pré-sal”, diz a matéria, que conta ainda que “está engatilhada a nova política de conteúdo local para o setor, já definida pelo governo e que será ratificada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) no dia 14.”

Na Folha, “gasto com benefício a pescador deve ser cortado pela metade”. O “governo pretende restringir o perfil de profissional que recebe o defeso, pago em período de proibição da pesca”, e jo mesmo jornal Celso Rocha de Barros questiona no título de seu artigo se “o impeachment foi um estelionato?”, para responder logo no olho, em destaque, que “depois do vazamento dos áudios de Jucá, agora líder do governo no Senado, só se enganou quem quis”.

Em outro artigo no mesmo jornal paulista, Valdo Cruz fala da entrevista coletiva de Temer, Renan e Maia e faz coro com a manchete do Estadão para dizer que “a escolha do tema para virar o jogo da crise foi feita ‘de olho nas ruas'”. E as ruas voltaram a se manifestar com mais contundência, apesar da discreta cobertura dos jornais sobre o ato que lotou a Avenida Paulista, mas mereceu apenas escassos textos-legendas, como o do Globo, em que “integrantes de movimentos sociais tomaram ontem a Avenida Paulista, em São Paulo, em ato organizado pela frente Povo sem Medo contra a PEC dos gastos e a anistia ao caixa dois.”

A Folha fez parecido, e num texto curto informou que “segundo a Frente Povo Sem Medo, 40 mil pessoas participaram da manifestação”, e que “a Polícia Militar não fez estimativa do público presente”. O Globo completou dizendo que “os manifestantes se reuniram em frente ao Masp e caminharam até a Praça da República. Nas faixas, dizeres como ‘Fora, Temer’.” Não houve, pelo que se sabe, qualquer pedido por um “novo” PSDB no poder, muito menos por FHC.

 

Aos caros leitores, vai agora, com pedido de desculpas pelo atraso de alguns dias, o aviso das mudanças nos dias em que são publicadas as duas colunas de análise de mídia do Cafezinho. Essa coluna, Espiando o poder, passa a ser publicada às segundas, terças, quintas e sábados. A outra coluna, Estômago de aço, do Éder Casagrande, fica com as segundas, quartas, quintas e sextas.

Outra novidade é que as colunas ficarão abertas por um tempo a quem não é assinante do blog, que continuará oferecendo conteúdo exclusivo e, agora, também uma possibilidade de investimento, como informa o link abaixo.

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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